O ator argentino Ricardo Darín, conhecido pelo filme O Segredo dos Seus Olhos, foi entrevistado em um programa de televisão chamado Animales Sueltos. Em uma conversa sobre dinheiro e sorte, ele conta porque se negou a trabalhar com o diretor Tony Scott.
[infobox color=”yellow”]Errata: Originalmente, tínhamos postado erroneamente que a recusa era para Quentin Tarantino. A informação era falsa, como indicado por nosso amigo Pedro Zambarda, do Bola da Foca. E que foi também retratada pelos autores da tradução, o pessoal do “O Esquema”.[/infobox]
Confira a entrevista no vídeo e leia a sua transcrição logo abaixo.
Ricardo Darín e Tarantino
A: Você foi atrás, gostaria, está atento, ou não te interessa nem o mínimo de jogar na Itália, outra analogia com futebol… o que acontece entre você e Hollywood?
D: Nada…. nada em especial, não me tira o sono nem me deixa louco… me soa muito “cholo” (expressão que designa um índio que assume costumes brancos, se pesquisei bem).
A: Não te deixa louco isso? Não te deixa louco me escutar? (…) Deixa eu evoluir com isso… casa em Los Angeles…
D: Não, não…
A: Me escuta… ter um carro incrível em Los Angeles, viver cercado de estúdios, filmar dois filmes por ano, casa em Santa Mônica, esse fim de semana é de sol em Santa Mônica, tranquilo, lancha, ski, não te interessa isso? Não trabalharias…
D: Eu não sinto essa pulsão nesse momento para nada. Hollywood não me tira o sono, o Oscar não me tira o sono. (…) Me criticaram muito porque dizer que não tinha vontade de ir ao Oscar, não porque não tinha vontade, mas “como vai dizer que não tem vontade de ir ao Oscar? Cê tá brincando!’ Sim, não tenho vontade de ir no Oscar, qual é o problema? Por que tenho que ir ao Oscar? Por quê?
A: Por ser o Oscar.
D: Mas o que crêem que é o Oscar? Que querem que aconteça? Eu já fui, já vi, já deu. Já vi, não fiquei muito feliz e estou aqui. A fantasia que se tem lá de fora, que é um ambiente, uma coisa (…) é exatamente por que digo que é chulo isso. Não é sério. É chulo, entende? Tem a ver mais com a parafernália que rodeia a coisa do que com a coisa em si mesmo. A mim, ofereceram só uma vez uma coisa contundente e séria, à qual eu disse que não e depois começou a me incomodar um pouco porque não aceitavam da parte do diretor um não como resposta.
A: O que era?
D: Era um filme que fizeram que depois se chamou Chamas da Vingança, com Denzel Wahsington.
A: Quem era o diretor?
D: Tony Scott, o irmão do Ridley Scott.
A: Eu tenho que te dizer que não, hein…
D: Mas espera um segundo, antes de fazer essa cara… me escuta, me deixa argumentar. Me ofereceram fazer um traficante mexicano. E por que querem que eu faça um traficante mexicano? Parece que todos os traficantes são latino americanos… no país que tem o maior consumo da face da Terra? Primeiro, não gostei. E, segundo, eu queria vir pra casa. Fazia seis meses que estava fazendo teatro em Madri. Queria vir pra casa ver minha mulher e meus filhos. Me encheu o saco porque a agente me disse que não aceitavam um não como resposta. E automaticamente, depois de uma semana eu dizendo não, não, não, todos os dias estavam na porta do teatro, depois disso passaram à outra faceta, que era “é uma questão de dinheiro? Mas isso não é nenhum problema.” Não, não! Não me interessa!
A: Mas você ganharia mais dinheiro.
D: E? Pra que serve?
A: Para viver melhor.
D: Melhor do que eu vivo? Eu tomo dois banhos quentes por dia. Estava indo bem no teatro, estava trabalhando com gente genial, vinham me abraçar na rua. A ambição pode te levar a um lugar muito obscuro, muito desolador. Eu sou o mais feliz que posso sem olhar para outro lado. (…) Tenho uma situação privilegiada, as coisas estão bárbaras, as pessoas me querem na rua, vejo sorriso, as pessoas vem e me abraçam… o que mais você quer? Pra que mais? (…) Sou um cara muito privilegiado, tenho muita sorte. Me convidam pra trabalhar e se abrem as portas há mais de 30 anos as pessoas confiam em mim. (…) Se vou querer mais do que isso, se vou ambicionar mais do que isso, é porque estou vendo outro filme. Eu sou o mais feliz que posso ser.