Chegamos no fatídico final de She-Hulk e após assistir ao nono episódio, sendo bem sincero com vocês, eu não faço a menor ideia de como expressar aquilo que assisti. Depois do Demolidor e de vermos Jennifer Walters perder sua compostura contra a Intelligencia, tudo estava encaminhando para um final que devia estabelecer a personagem dentro das aventuras maiores do MCU.
Em um movimento que diria ser “único” após tudo ruir à sua frente, ela resolve que o ideal seria ajustar tudo com suas próprias mãos. Seja como uma super-heroína ou como uma advogada, a personagem vai até o centro dos problemas e cria uma verdadeira situação onde qualquer um passará um tempo pensando sobre o que rola ali.
Fiquem tranquilos, não é que o episódio seja ruim ou fuja da proposta geral. Na verdade sabemos como a Marvel Studios foge a mão nos “finais” ao tentar criar algo grandioso e, percebendo isso, Jen vai além de suas opções para trazer tudo de volta ao normal. E quando digo isso, vamos bem mais longe do que apenas a quebra da quarta-parede. Meu único ponto de confusão é que, ao tentarem demais, eles trazem mais questões do que respostas no grand finale.
Confusão em She-Hulk
Para vocês terem uma pequena noção, sem entregar sequer algum spoiler, em She-Hulk vemos questionados em um mesmo ponto a questão paternal dos super-heróis, a presença dos X-Men nesta realidade, quais foram expressamente citados aqui, a necessidade de trazer outros personagens para o universo continuar a se expandir e outras coisas que os roteiristas cansaram de fazer em diversas produções.
A forma como isso é feito se tornou mais divertida e serve entretenimento? Claro que sim, em determinado momento os eventos se tornam tão singulares que você vai até se inclinar na cadeira para saber se está vendo de verdade o que mostram. Porém, não posso deixar de sair dali sem afirmar que a compreensão de tudo é jogada pela janela em prol de um encerramento mais brando.
Se for bem sincero com vocês, amei o fato de ignorarem o fato de todo encerramento acabar em um conflito épico entre o bem e o mal. Quando você pensa que chegará nisso, as coisas dão uma virada mais diferenciada e apenas assistindo que entenderá -ou não- a ideia geral. Porém, não posso dizer que a escolha que tomaram faz as coisas saírem mais satisfatórias. Principalmente por irem contra aquilo que eles mesmos criticam no enredo.
Em determinado momento, She-Hulk é contra o retorno de Bruce Banner do espaço apenas para apresentar uma das novidades que chegarão no MCU no futuro. Não é importante para a história inserida ali e podia ser facilmente ser encaixado em algum filme ou série futura em menos de um minuto. Então, nas cenas finais, o que vemos: ele voltando a mostrando o que a Marvel Studios precisava do mesmo jeito. Neste ponto, foi o ápice da vergonha alheia do espectador, justamente por terem acabado de debater o assunto e continuarem seguindo a mesma fórmula.
Não agrada, mas é curioso
Vamos ser sinceros aqui, nem mesmo a Intelligencia representa uma verdadeira ameaça ali. O pessoal que o Abominável cuida dentro de seu retiro carrega mais perigo que trolls da internet, tornando as coisas ainda menos aproveitáveis no encerramento. Titania? Depois do casamento, se torna um grande alívio cômico e parou de correr atrás da heroína. Obviamente, o plano dentário dela deve ter saído bem caro e aprendeu a lição.
“Nossa Diego, então o que a She-Hulk enfrenta no fim?”. Diria para vocês assistirem para enxergarem melhor, mas eu posso adiantar que ela na verdade luta contra todo um sistema. É algo memorável e que impactará de vez tudo o que conhecemos? Não. Porém, é interessante de ver como as coisas avançam pelo aspecto inédito de abordagem. Como se fosse uma auto-crítica, ainda que repitam alguns dos erros que eles mesmos reconhecem.
Depois que vê eles reclamando de algo e, ainda assim, fazendo essas coisas se repetirem na tela te faz questionar um pouco a questão de escolhas. Parece que a ideia era uma, depois se torna outra e, no final mesmo, se torna algo completamente diferente. Como se alguém estivesse indeciso e inseriu tudo para ver se dava certo. Admiro a coragem, mas não torna tudo menos estranho do que realmente é.
Obrigado por não incluírem o Hulk Vermelho, como foi citado no episódio 8. Agradeço por não enfiarem nada de Vingadores, como era a ideia original. Porém, o fim tenta chacoalhar tanto as coisas que você sai dali mais complexado do que entrou. Quer dizer, se seguirmos estritamente o que vimos, significa que teremos mais perguntas a serem respondidas na Fase 5. Algumas até desnecessárias. Porém, por enquanto, não foi nada próximo do esperado ou daquilo que seria considerado um ponto que agrade ao público. Bom, assista e veja com seus próprios olhos.
A série She-Hulk está totalmente disponível através da plataforma Disney+. Veja mais em Críticas de Séries!
Então, eu entendi a mensagem que a série quis passar, entendi que o objetivo era criticar alguns comportamentos tóxicos da comunidade nerd e alguns clichês dos blockbusters. Mas eu acho que esse finale foi um pouco além da conta, e vou explicar. Na quebra da quarta parede, o que ficou implícito é que o MCU é um festival de pancadaria e clímax sem sentido, que apresenta cameos, finais e pós-créditos apenas pelo bem da continuidade e do fan-service, movido por um algoritmo que tem como objetivo apenas o lucro. Não mentiu, é claro, mas o que a série se esqueceu é que não tem nada errado com isso. Quem lotou os cinemas na Fase 1, lotou pra ver exatamente isso, tipo “caramba, Guerra Infinita vai continuar de onde o último filme parou, vai ter heróis novos, vai ter pancadaria pesada e vai ser uma loucura de assistir no cinema”. Super heróis são isso. Fãs de super heróis querem ver Guerras Secretas, Dizimação M, Hulk contra o Mundo, Vingadores x X-Men, e novamente, não tem nada errado com isso, tem gente que gosta de Sharknado. Uma coisa é criticar comportamentos como machismo e preconceito, outra coisa é chamar todos os fãs do MCU de bobalhões que engolem qualquer coisa desde que tenha lasers e explosões. A franquia Star Trek inteira é uma gigantesca crítica social, mas nunca deixou de ser uma série sobre batalhas de naves, com uma continuidade que nem quem é fã entende muito bem. Falando sobre a temporada como um todo, a roteirista falhou em fazer o simples: uma série sobre uma advogada que tem poderes de Hulk. O primeiro caso foi o do Abominável, e foi uma galhofa. O Emil foi vítima de um experimento militar, tentou até se matar, e o caso poderia ter explorado os efeitos dessa jornada nele, colocando a She-Hulk logo de cara contra uma organização governamental e dando um peso emocional aos dois. O caso do Wong é desnecessário, ele é o Mago Supremo, ele teria facilidade em fazer um controle de danos contra um mágico de araque. Os fillers da Titânia e do casamento eu vou ignorar, e o do Demolidor foi ok. O final poderia ter sido muito melhor sem precisar de pancadaria e quebras de quarta parede, poderia ser simplesmente ela investigando, descobrindo e destruindo a Inteligência no tribunal, como a advogada que ela é. Longe de mim querer parecer o Scorsese, ou insultar alguém (inclusive espero que eu não esteja parecendo exaltado), eu assisti a série com muito boa vontade, já que gosto muito da She-Hulk, e a minha visão é que perderam um potencial enorme em nome da mensagem e do humor. Parabéns pelo artigo e pelo site, forte abraço!