Curiosidades

Silêncio Absoluto: O ambiente onde até piscar faz barulho

No planeta, existem cantos tão silenciosos que o próprio silêncio vira protagonista. Encontrar o local natural mais quieto da Terra não é simples, já que até o vento, um pássaro distante ou um avião perdido no céu são suficientes para quebrar a paz absoluta. Mas entre os candidatos mais fortes está o gigantesco Haleakalā Crater, no Havaí, um cenário árido a mais de 3 mil metros de altitude, onde o vento quase não entra, a vegetação é escassa e poucos animais se arriscam a chamar aquele lugar de lar. Ali, o silêncio se aproxima tanto do limite da audição humana que muitas pessoas afirmam escutar o próprio coração batendo.

O Serviço Nacional de Parques dos EUA descreve Haleakalā como um dos ambientes acústicos mais preservados do sistema de parques do país. Em pleno dia, a paisagem sonora natural pode cair para cerca de 10 decibéis, um valor que já beira a fronteira do que o ouvido humano consegue captar. Em áreas mais remotas, a média chega a 21 decibéis, enquanto na região costeira sobe para 45, influenciada pelos visitantes e pelo movimento natural da área. Mesmo assim, o local permanece uma das jóias do silêncio.

Mas nada disso chega perto do campeão absoluto da quietude, que não é uma paisagem, e sim uma sala construída para eliminar quase todo ruído: a câmara anecoica do Orfield Laboratories, em Minneapolis. Esse espaço, revestido de estruturas de fibra de vidro e espuma capazes de absorver praticamente todo o som, já conquistou três vezes o título de lugar mais silencioso do mundo pelo Guinness. Lá dentro, o nível de ruído ambiente já atingiu incríveis –24,9 decibéis, um valor abaixo do limite da audição humana.

A explicação para esse “som negativo” está no próprio funcionamento da escala de decibéis. Como se trata de uma medida logarítmica e não linear, ela permite valores abaixo de zero, que marcam intensidades sonoras inferiores ao mínimo perceptível pelo ouvido humano. Zero decibéis, afinal, foi definido exatamente como o limiar da audição. Dentro da câmara, sustentada por amortecedores para impedir qualquer vibração externa e planejada para eliminar até ondas estacionárias o silêncio é tão profundo que se torna quase perturbador.

Com esse nível de isolamento, não faltam histórias exageradas sobre pessoas “não suportarem” ficar mais de alguns minutos lá dentro. São lendas. Um repórter do New York Times, por exemplo, passou três horas no recinto para provar o contrário. Ainda assim, a experiência não deixa de ser estranha: visitantes relatam ouvir o sangue circulando nas próprias veias, o movimento dos músculos e até o som das pálpebras ao piscar. O silêncio, por incrível que pareça, vira algo ensurdecedor.

Em um mundo tão barulhento, há algo quase alienígena na ideia de encarar um lugar onde o som praticamente não existe. E talvez por isso esses espaços, sejam naturais ou criados pelo ser humano, despertem tanta curiosidade. Afinal, quando nada mais faz barulho, o que resta ouvir somos nós mesmos.

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Hortência é profissional de Letras, educadora, tatuadora e mãe. Apaixonada por arte e cultura, une seus múltiplos interesses que vão da cultura pop à gastronomia para produzir conteúdos variados e criativos.

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