À medida que o inverno se aproxima, um novo tipo de vírus da gripe tem acendido o alerta entre pesquisadores e autoridades de saúde. Chamado de subclade K, ele é uma variante recente do já conhecido H3N2 e está se espalhando com tanta velocidade que vem dominando amostras em vários países, especialmente no Reino Unido e no Japão. O motivo da preocupação é simples: essa cepa apresenta diferenças genéticas importantes em relação à versão usada na formulação da vacina deste ano, o que pode permitir que ela drible parte da imunidade adquirida por infecções passadas ou pela vacinação.

A presença do subclade K começou a chamar atenção ainda no final da temporada de gripe do Hemisfério Sul, mas foi no Hemisfério Norte que ele mostrou força. No Japão, os casos dispararam mais rápido do que em qualquer outro momento da última década. No Reino Unido, a temporada chegou com cerca de cinco semanas de antecedência, e quase todos os casos de H3N2 analisados pertencem justamente a essa nova variante. A cepa também já foi identificada na América do Norte, embora a sua prevalência exata ainda não esteja totalmente clara.
Esse comportamento inquieta especialistas por dois motivos principais. Primeiro, porque o H3N2, por si só, é historicamente associado a quadros mais graves de gripe, especialmente em idosos. Segundo, porque o subclade K acumula mutações suficientes para diferir de maneira significativa da cepa escolhida para a vacina de 2025-26. De acordo com a infectologista Antonia Ho, da Universidade de Glasgow, essas alterações podem reduzir a proteção conferida por imunizações anteriores, deixando uma parcela maior da população vulnerável.
A situação contrasta com a expectativa inicial de uma temporada mais tranquila. Depois do ano difícil de 2024-25, que registrou números alarmantes de complicações e mortes pediátricas, havia esperança de que 2025-26 fosse mais branda. Para reforçar o otimismo, dados do Hemisfério Sul mostravam que a vacina havia conseguido reduzir pela metade consultas e internações. Mas a ascensão explosiva do subclade K obrigou os especialistas a reavaliarem o cenário.
Mesmo assim, as notícias não são totalmente desanimadoras. Estudos preliminares vindos do Reino Unido apontam que a vacina ainda proporciona uma proteção relevante, mesmo diante de um vírus tão mutado. Em crianças, a eficácia contra hospitalizações está na faixa de 70% a 75%. Entre adultos, varia entre 30% e 40% números que, embora pareçam modestos, são considerados normais para vacinas contra a gripe e já fazem diferença na redução de casos graves.
Enquanto isso, a disseminação continua acelerada, especialmente entre crianças em idade escolar, que vêm registrando taxas de positividade muito maiores do que no mesmo período do ano anterior. Outros países, como os Estados Unidos, começam a observar o mesmo movimento, o que sugere que o subclade K pode marcar uma das temporadas mais imprevisíveis dos últimos anos.
No fim das contas, a recomendação dos especialistas continua clara: a vacina permanece sendo a melhor defesa disponível, mesmo que não seja uma barreira perfeita. Como resumiu de forma direta o infectologista William Schaffner, da Universidade Vanderbilt, a imunização pode não impedir todas as infecções, mas aumenta significativamente as chances de ficar longe do hospital, e da UTI.
Diante de uma variante que se espalha rápido e desafia parte da imunidade prévia, não vale a pena arriscar. Se você ainda não tomou a sua vacina, talvez seja o momento certo para colocar isso em dia.