A segunda temporada de Superman & Lois tinha como principal objetivo abalar as estruturas dos seus núcleos e também dos fãs do super-herói. Repleta de referências e momentos impactantes, ela foi finalizada na HBO Max com a promessa de que veremos algo mais semelhante ao que já existe das HQs, se distanciando um pouco do que estamos acostumados no Arrowverse. E isso é excelente, considerando que o universo compartilhado está desmoronando aos poucos.
Para marcar isso, primeiro temos a naturalização de outras dimensões dentro da narrativa. Chega dessa história de ficar explicando toda hora que fazem parte do multiverso, trazendo ele para mais próximo ao público. John Irons e Natalie fazem parte de uma dimensão, Clark e sua família da que conhecemos e os demais personagens que vão aparecendo e confrontando o grupo vêm de uma terceira, que ameaça tudo ali. Simples assim, cada um surgiu de um canto e é bom já ir se acostumando.
Explicando desta forma pode soar confuso, mas na série funciona bem naturalmente. Se levarmos em consideração que toda a trama gira em torno do Homem de Aço, não é difícil ver as coisas que pertencem àquele lugar e o que veio de fora. Ouso dizer que essa temporada explora até mais esse conceito do que já vimos em Flash, por exemplo. O que antes era um “futuro diferente” ou um episódio só mostrando o que há dos outros lados, neste temos um destaque maior para o recurso dentro do roteiro.
O Multiverso da Loucura para o Superman
Em suma, Superman & Lois no Multiverso da Loucura é uma realidade e eles tem de lidar com isso de diversas formas. Primeiro, com o caso da própria Natalie. Filha da jornalista em outra dimensão, é um grande choque para a garota aceitar que sua mãe é casada com o alienígena que a assassinou por lá. Uma situação ainda pior é ver que não há um sentimento maternal em relação à menina e isso complica bastante as coisas dentro da casa dos Kent. Afinal de contas, não é uma circunstância fácil de ser aceitada.
Outro grande problema é Ally Allston, conhecida nas HQs pelo nome de Parasita. Agindo como uma “coach”, ela prega que todos deveríamos nos sentir completos e a solução que a vilã encontrou é fundir o nosso universo com o “mundo bizarro”. Sim, é exatamente isso que você está lendo. Além de querer misturar tudo e acessar um poder muito maior do que aquele carregado pelo próprio herói, há outras ameaças vivendo por lá e cada uma tem o seu próprio objetivo.
Certo, é inevitável comentar que o Bizarro aparece em toda sua glória e poder para encarar Clark. Nem mesmo a ajuda de Irons consegue impedir o monstro de causar estrago e muita ação te espera nesta temporada. Posso dizer que nunca vi tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo com os protagonistas, que são obrigados a basicamente apagar um incêndio diferente por episódio enquanto veem todos se interligando de algum modo posteriormente. Assistir me deixou cansado por eles, imagina estar nessa vida…pelamor.
Com Ally Allston, o próprio governo americano e Bizarro na cola do Superman, finalmente a DC e a HBO Max voltaram o conteúdo para o principal herói da editora? Não, graças a Krypton! Vemos um grande destaque para os demais, com todas suas tramas se amarrando e se desenvolvendo em simultâneo. Jonathan começa a se isolar da família e entrar em algumas enrascadas, Jordan decide treinar com seu avô e aprender a usar os poderes herdados do seu pai, Lois encara os problemas que existem entre ela e sua irmã, Lana começa a concorrer para o cargo de prefeita enquanto passa por uma dura separação…e tudo se impacta em algum lugar.
Vou ser bem sincero, apesar de parecer caótico, é incrível como as coisas vão se encaixando conforme avançamos. E não é apenas em termos narrativos, mas também em atuação e até efeitos especiais. Tyler Hoechlin e Bitsie Tulloch brilham ainda mais nesta nova leva de episódios, mandando muito bem em nos trazer os papeis icônicos como o casal de protagonistas. Inde Navarrette como Sarah Cushing também ganha novas camadas e apresenta uma das maiores surpresas da temporada, encantando longe de todo o romance meloso que há com o filho do herói.
Se a proposta era trazer algo mais intimista para cada um dos personagens, são eles que acertam todo o ritmo do que vemos. Vale citar também os visuais impressionantes, quais dão a entender que a DC decidiu aumentar a verba da equipe de computação gráfica para entregar combates muito mais épicos e até mesmo cenários estonteantes. Em determinado momento, Clark leva Jordan para ensinar uns truques e apesar de tudo ser de tom mais divertido, você se empolga junto pelo abuso visuais que soam melhor do que o visto em Liga da Justiça. Isso sem citar as coisas que vemos nos capítulos finais para evitarmos spoilers.
Nem tudo se destaca, mas é competente
Uma discussão que existiu no MCU também é trazida à tona nesta temporada e é sobre as identidades secretas. O Universo DC se segura bastante neste elemento ainda e vemos o peso que carrega no mundo moderno, onde as redes sociais e as ligações que temos com os demais valem bem mais do que no passado. Não conseguindo segurar o segredo por muito tempo, Clark e os demais começam a debater o tema e finalmente vemos um pouco de sinceridade nesta muleta. Eu não botei fé de que seria tão legal e me agradou bastante.
Além de tudo que citei acima, Adam Rayner também merece ter seu nome destacado como um daqueles que levaram Superman & Lois para outro nível. No papel de Tal Rho, vimos que o vilão na verdade estava deslocado e começa a aceitar que o irmão é tudo que lhe resta na Terra. As coisas não se acertam devidamente, mas o relacionamento de ambos é um dos pontos mais altos dessa temporada. Isso sem falar no lado mal-encarado que agora tenta se misturar a atitudes mais positivas, o que gera até risadas genuínas em certos momentos.
Apesar de tecer inúmeros elogios ao Ano 2, ele obviamente teve problemas que entregam um pouco de vergonha alheia e bem semelhantes ao que vimos do drama do Arrowverse. Um deles é a impossibilidade de Jordan contar para Sarah que tem poderes e é filho do maior herói da Terra. Por falta de confiança, ambos terminam o namoro e o personagem fica insuportável. Literalmente um poço de novela mexicana somada com tristeza adolescente. Enquanto ela se sai muito bem sem a presença dele, o rapaz literalmente enche o saco.
Sorte que isso é compensado nas sessões de treinamento, que exploram os limites do seu poder e em como ele será trabalhado no futuro da série. Diferente de Jordan, Jonathan traz nuances mais densas e que abrem um canal de discussão entre o próprio público. A vilã Ally Allston também é aquele gênero bem distinto de pastelão, sendo caricata e completamente fora da caixinha. Não estranhe minha afirmação, até porque essa era a proposta dela e a atriz trabalhou nisso de forma que encaixasse diretamente no formato.
Ainda assim, a falta de explicações e profundidade dela tiraram parte do peso do fim, ao menos ao meu ver. Em apenas um diálogo eu vi certa humanidade na personagem, o que foi uma grande pena. Com Tal Rho, na primeira temporada de Superman & Lois, isso tinha sido trabalhado de forma mais digna, diga-se de passagem. Porém, não se preocupe que só sentirá falta disso quando tudo já estiver encerrado e você refletir sobre o tema.
Sendo uma temporada mais livre do que a anterior, abrimos espaço para dar vida a esses diversos heróis do dia-a-dia que estão vivendo em torno do Homem de Aço. É impressionante ver a maravilha que é sentir que cada um tem o seu caminho que, por mais que seja interligado a um roteiro central, leva eles a caminhos distintos e fazem chegarem ao final de formas bem diferentes daquilo que vimos antes. Sendo este o ponto alto dela, caso já tenha assistido a primeira, pode pular sem medo que o conteúdo vai te agradar bastante.
Todos os episódios de Superman & Lois estão disponíveis na plataforma de streaming HBO Max. Veja mais em Críticas de Séries!