Parece ficção científica, mas é realidade: pesquisadores da Universidade do Texas em Austin desenvolveram uma espécie de tatuagem eletrônica temporária que pode ser colada na testa para monitorar a atividade do cérebro e identificar sinais de cansaço mental. Leve, fina como um fio de cabelo e totalmente sem fios, a novidade pode revolucionar como acompanhamos o nível de estresse e a sobrecarga cognitiva em atividades de alto risco, como operar um avião ou realizar uma cirurgia.
A tal “e-tattoo” é uma espécie de sensor inteligente que lê ondas cerebrais e movimentos dos olhos para avaliar quanto esforço mental a pessoa está fazendo. Diferente dos capacetes EEG tradicionais, pesados e cheios de fios e gel, essa versão pesa só 4,1 gramas e é praticamente imperceptível ao toque, mesmo grudada na testa. Além disso, os sensores feitos de grafite flexível se moldam à pele e conseguem ficar no lugar por mais de 28 horas, mesmo com suor ou expressões faciais.


A tecnologia usa EEG para captar sinais do cérebro e EOG para rastrear os olhos. Tudo isso é analisado por um sistema de inteligência artificial que interpreta quais ondas estão em alta, como as theta e delta, que indicam esforço, e quais diminuem, como as alfa e beta, que sinalizam fadiga. Assim, o sistema não só detecta o desgaste mental, mas também antecipa quando você pode chegar ao limite. Segundo a engenheira biomédica Nanshu Lu, que co-assina o estudo publicado na revista Device, cada pessoa tem um ponto ideal de carga mental, e esse tipo de medição pode ajudar a manter o desempenho na medida certa.

Em testes com seis voluntários submetidos a tarefas de memória cada vez mais difíceis, o dispositivo mostrou resultados promissores, com até 89% de acerto na previsão da sobrecarga de um dos participantes. E o melhor: o custo é acessível. Enquanto um equipamento tradicional de EEG pode chegar a US$ 15 mil, os sensores da e-tattoo custam cerca de US$ 20, e a bateria portátil sai por volta de US$ 200.
Segundo o professor Luis Sentis, um dos líderes da pesquisa, o objetivo é tornar o dispositivo algo que qualquer pessoa possa usar em casa, não apenas profissionais de áreas críticas. Ele destaca que, até hoje, o foco sempre foi monitorar a saúde física dos trabalhadores, e que agora temos a chance de acompanhar também a saúde mental em tempo real.

Ainda há desafios pela frente: por enquanto, o sensor só funciona em áreas sem pelos, o que limita o uso em outras partes do corpo ou da cabeça, e o conforto em uso prolongado ainda precisa de ajustes. Mas com tanto potencial, a ideia de uma tatuagem eletrônica capaz de avisar quando sua mente está prestes a “pifar” não parece mais tão distante do dia a dia. Seja para evitar erros em profissões de alta responsabilidade ou simplesmente para entender melhor seus próprios limites, a e-tattoo pode ser o próximo passo na relação entre tecnologia e bem-estar mental.
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