A política americana é uma ótima base para séries e filmes. House of Cards, Veep, Selma, Dr. Strangelove, não faltam exemplos mostrando um pouco dos bastidores da casa branca. Tem horas que o tom é de comédia, em outras é de drama, mas a crítica é um fator comum em todos os casos. E The Brink é mais um deles.
A série protagonizada por Jack Black conta a história de um simples funcionário da embaixada dos EUA no Paquistão que se vê no meio de uma eminente crise geopolítica e guerra nuclear entre Índia e Paquistão, causada por um ditador completamente enlouquecido. O notável é como a história é contada, deixando o presidente de lado para apresentar o trabalho de outros importantes funcionários da Casa Branca, como o Secretário de Estado e o Secretário de Defesa, mostrando um pouco mais dos bastidores do que filmes normalmente exploram, sempre colocando o presidente como figura solitária de poder e conhecimento.
O humor auto-depreciativo domina praticamente a série inteira, com o roteiro sempre mostrando problemas dos EUA, especialmente do presidente e de seus conselheiros, pessoas datadas que não fazem ideia do que estão fazendo ali. Americanos são mostrados como abusados e egocêntricos, paquistaneses como pessoas loucas por guerra, e assim a série usa e abusa dos estereótipos.
Enquanto funciona como crítica, não há problemas nessa direção tomada, mas em parte dos episódios (especialmente nos primeiros) a falta de timing torna um pequeno sacrifício acompanhar certos núcleos da trama, entregue a piadas ruins. Felizmente, logo Jack Black e Tim Robbins conseguem tomar conta da situação e entregar momentos melhores, especialmente o segundo, se tornando o destaque da série, com diversos ótimos momentos e superando o roteiro sem muito conteúdo.
Por trás das piadas, estereótipos e algumas falhas, há a crítica à administração das relações internacionais entre os países, assim como toda a relação que temos com as terríveis armas nucleares. Ao passo que ninguém quer realmente iniciar uma guerra (por mais que ameaças surjam vez ou outra, como as da Coréia do Norte), é um sistema falho, bastando uma pessoa louca o bastante para soltar a faísca que desencadeara a destruição de nações inteiras. Aqui há um paralelo relativamente notável com um dos exemplos que dei lá no começo, Dr. Strangelove (de Kubrick), que trata do tema de forma parecida (a relação está no tema, a obra de Kubrick está, tecnicamente, muito acima de The Brink), e mostra que, mesmo após meia década, os medos continuam os mesmos, assim como as possíveis falhas.
The Brink tem algum trabalho para equilibrar seus erros e acertos, mas consegue divertir, especialmente conforme os episódios vão passando. Traz uma forma interessante de enxergar a política (não só americana, mas geral), e isso pode ser mais explorado no futuro. Por enquanto não se destaca muito, mas é uma boa diversão para quem está com algum tempo livre.
The Brink – 1ª Temporada
Criadores: Kim Benabib e Roberto Benabib
Roteiro: Kim Benabib, Roberto Benabib, Dave Holstein, Sam Forman, Wes Jones, Jack Kukoda e Aasif Mandvi
Duração: 30 minutos
Elenco: Jack Black, Tim Robbins, Pablo Schreiber, Aasif Mandvi, Maribeth Monroe, Carla Gugino
Autor: Guilherme Souza