A Amazon Prime Video finalizou a última temporada de The Expanse, qual começou de forma mágica e honrando todos elementos do universo sci-fi criado nos livros, adicionando uma pitada de nossa realidade a esta história. Porém, o grand finale não honrou toda a construção feita até ali, ainda que as últimas temporadas tenham sido mais fracas do que o esperado. Era inegável que a expectativa dos últimos episódios trazerem tudo e mais um pouco era grande, mas a produção além de não trazer nada disso, falhou em um dos quesitos principais de qualquer história: a continuidade.
Sendo uma das principais do gênero atualmente, junto a Star Trek: Discovery, a missão aqui não era agradar os fãs, mas contar uma história que fizesse jus aos personagens que envolviam toda a trama desde o início. Como se faz isso sem dar um final apto para as suas aventuras? O grande fim bota um ponto no arco de Marco Inaros, eliminando o grande vilão e livrando a Terra e Marte de suas ameaças. Porém, toda a sexta temporada abre novos problemas que nem de longe parecem que serão resolvidos facilmente. Alguns deles a tripulação principal nem chega a ter conhecimento.
A intenção foi corajosa, obviamente. Admiro quando tentam fazer algo diferente, deixando algumas histórias em aberto porque a vida é assim. Nascemos no meio dos problemas dos demais e morreremos sem resolver parte deles. A série tenta replicar o mesmo, mas esquecendo que produções do gênero precisam ao menos de uma linha que amarre isso para fazer sentido. Minha maior reclamação do fim não é nunca ver o que ocorreu com algumas situações, mas sim enxergar que algumas delas nem faziam sentido dentro do cenário central que foi apresentado.

The Expanse não se ajudou a expandir
Vamos lembrar juntos, The Expanse sempre teve uma fortíssima discussão política para aplicar os conflitos existentes. Terra, Marte e o Cinturão tinham seus problemas internos e entre eles, tornando as coisas bem complicadas. O que vimos nas últimas temporadas: Marte vendendo naves para a revolução de Marcos Inaros, questionamentos no próprio Cinturão sobre as ações de seu líder, a Terra tentando se reerguer após ataques devastadores que aniquilaram milhões. Só este material seria responsável por um novo capítulo dentro deste grande plano. Falhando ao expandir, a sexta temporada foca apenas nas forças de Avasarala e James Holden contra Inaros.
O resto? Que se dane, por assim dizer. Camina Drummer, que ganhou um grande destaque no elenco nas últimas temporadas teve a sua trama reduzida a um simples ataque que não deu tão certo assim. Convenhamos, a escala que foi prometida era de uma verdadeira guerra. O que vi foram confrontos isolados, quais são importantes, mas não chegam nem perto da magnitude necessária. Os momentos de sufoco de Bobbie e Amos foram muito bons, por exemplo, mas não deviam ter um suporte maior para encarar uma missão daquela importância? Ou vai me dizer que a meia dúzia de naves que comandavam em suas frotas não te incomodou? Qual é, estamos falando da mesma Terra e Marte que se ameaçavam de guerra nas primeiras temporadas.
Quer dizer, para se enfrentarem elas tinham poder de fogo e avançavam em explorar o espaço para encontrarem opções viáveis de combate. Devo lembrar que a protomolécula estava sendo experimentada em Marte apenas para fins de confrontar os terrestres. Porém, quando Inaros ameaça ambas, tudo isso desaparece e só resta meia dúzia de naves e uma sala de reuniões onde as discussões não levam a lugar algum. Se isso te levantou um pouco de dúvida, imagina quando passar a enxergar todos os furos de roteiro que foram empurrados com a barriga e completamente esquecidos no fim…

Das seis, duas temporadas inteiras foram focadas no grandioso Anel e nas possibilidades de encontrarmos um universo totalmente distinto daquele que conhecemos. Na última temporada de The Expanse, a trama só serviu para mostrar que o portal era usado como rota de fuga dos revolucionários. Nada mais, nada menos do que isso. E as vidas alienígenas, as descobertas científicas, a promessa de histórias ainda mais complexas e aventuras distintas? Bom, ficaram para trás, obviamente. Antes que fale do foco no lado pessoal destes personagens, vale lembrá-los da grande profundidade que deram ao grande vilão, Marco Inaros, certo? Se isso não te acende nada, não se incomode muito. Fui irônico, pois também não existiu.
O filho de Naomi, Philip, qual pertence a um dos plots mais importantes e gerou certos debates, também tem um carisma de uma porta de madeira. Nem acredito que isso seja culpa do ator, com o roteiro não ajudando em nada a melhorar a sua situação. Nas poucas vezes que este fator o auxiliou, gerou interesse que depois foi descartado para favorecer a trama da revolução. Holden, protagonista desta história, também teve seu papel reduzido apenas ao capitão da Rocinante que obedece e executa ordens. Botam em cheque sua relação com Nagata aqui, duvidam da sua liderança ali, mas nada que realmente tenha abalado as estruturas do time. Apenas “distrações”.

O último episódio é bom, mas não salva o que estava quebrado
O episódio final tenta reverter alguns destes problemas, mas não há nada que salve o que foram a quinta e sexta temporada. Ignorando tudo que fora construído até ali, os dois arcos geraram apenas uma sequência vergonhosa de como não finalizar uma série. Você pode até se sentir satisfeito com o ponto final, mas é igual aquela redação que começa maravilhosa e os últimos parágrafos servem apenas para enrolar quem está lendo e dizer que houve conteúdo. Não será a última linha que vai mudar isso, por mais que esteja escrito de forma bonita. O mesmo vale para a série.
Sabe o que resta aos fãs de The Expanse? Aceitar que as três primeiras temporadas eram onde o brilho realmente estava e fingir que o restante foi apenas um delírio coletivo. As ideias da quarta até são interessantes e prometem um novo tipo de abordagem para o que viria, mas isso tudo foi ignorado com a chegada de Inaros. Ou seja, não valeu de nada. Além disso, por mais que admire a coragem da produção, é um produto audiovisual e não tem história que gere comoção sem um início, meio e fim. Começou bem, rodearam no meio e mal terminaram. Ainda tem inúmeras coisas para serem resolvidas e infelizmente não veremos isso nas telinhas.

Longe do satisfatório, o seriado se une a vários outros que encerraram sem entregar um material de qualidade aos fãs. De que adianta investir milhões em efeitos visuais e em um elenco muito talentoso sem contar uma história que seja digna disso? Enfim, caso você insista em assistir, todos os episódios já estão disponíveis na Amazon Prime Video, mas não diga que não o avisamos. Valerá mais o seu tempo e empolgação reassistir as temporadas 1 até a 3. Quem sabe dar uma olhada também na quarta. O restante, acredite, foi só uma tentativa falha de criar uma ameaça que prometia bastante e não entregou o que se propôs.
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