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The Mouth pode ser o primeiro estorninho do mundo a ‘cantar’ uma obra de arte digital

Em Louisville, Kentucky, um estorninho chamado The Mouth vem surpreendendo cientistas e curiosos ao vocalizar sons que representam, literalmente, uma imagem digital de um pássaro. Resgatado ainda filhote e criado em um ambiente doméstico, o passarinho foi parte de um experimento curioso conduzido por Benn Jordan, entusiasta de ciência e música, que buscava unir a incrível habilidade de imitação dessas aves com tecnologia de codificação de dados.

Jordan partiu de uma pergunta ousada: seria possível um pássaro “cantar” uma imagem? Para isso, transformou um simples desenho de pássaro em uma forma de onda sonora, usando um sintetizador espectral que mapeia os pixels da imagem em diferentes frequências de som. Com a ajuda da artista e cuidadora de animais Sarah Tidwell, que criou The Mouth desde cedo em um ambiente cheio de estímulos humanos, como vozes, sons de celulares e até trilhos de trem, o som resultante foi apresentado ao estorninho repetidamente.

No início, as tentativas de imitação pareciam aleatórias, mas gravações com microfones ultrassônicos revelaram algo surpreendente: ao analisar os dados em um espectrograma, os padrões sonoros imitados por The Mouth eram incrivelmente semelhantes à imagem original convertida em som. Apesar de ligeiramente desafinadas (com uma variação de 50 a 60 hertz), as vocalizações eram fiéis o bastante para serem decodificadas de volta como uma imagem visual rudimentar. Isso representa, em termos técnicos, algo como 176 kilobytes de dados não comprimidos em uma única emissão sonora, ou até 2 megabytes por segundo com compressão, dependendo da regularidade do canto e do ruído ambiente.

O que impressiona é a precisão do órgão vocal do estorninho, a siringe, que possui até 14 pares de músculos e é capaz de reproduzir desde assobios até sons semelhantes aos humanos. A convivência com sons artificiais ampliou ainda mais o repertório vocal de The Mouth, mostrando que, além de imitadores natos, esses pássaros podem se tornar, em teoria, transmissores biológicos de dados.

O papel de Sarah Tidwell foi fundamental. Ela não só salvou o pássaro, como também moldou sua capacidade vocal ao criá-lo com afeto e estímulos diversos. The Mouth chegou a reproduzir com perfeição até o som do obturador de um iPhone, demonstrando a incrível sensibilidade auditiva e capacidade de aprendizado da espécie. Sarah, artista e cuidadora de animais, acabou sendo uma ponte entre o mundo natural e o digital nesse projeto único.

Embora a aplicação prática dessa ideia ainda esteja distante, o experimento abre portas para novas formas de pensar transmissão de dados, e também para uma reavaliação da fama dos estorninhos, muitas vezes vistos como pragas, mas que demonstram inteligência e habilidades sonoras surpreendentes.

Outro ponto curioso é que todo o projeto foi realizado com um orçamento modesto. Jordan usou ferramentas acessíveis, como o gravador AudioMoth de US$ 100, um Raspberry Pi, e softwares gratuitos como o Merlin Bird ID. Mesmo com equipamentos mais avançados, como microfones ultrassônicos e um gravador Zoom F3, o custo total não passou de US$ 500, o que torna a ideia viável para entusiastas e pesquisadores independentes.

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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