No auge da explosão dos videogames nos anos 1990, a The 3DO Company apostava alto no futuro da jogabilidade interativa com o Panasonic FZ-21, mais conhecido como 3DO M2. Esse console, que prometia rivalizar diretamente com gigantes como o PlayStation e o Nintendo 64 graças ao seu poder de processamento e gráficos avançados, acabou nunca sendo lançado para o público doméstico. Em vez disso, encontrou um destino bem diferente: foi usado em aplicações comerciais, longe do mundo dos games tradicionais.
A ideia do M2 surgiu do desejo da 3DO de superar a concorrência. O projeto começou a tomar forma no início da década de 90, com o objetivo de criar uma máquina poderosa voltada para gráficos 3D e multimídia. Em 1996, a gigante Matsushita (controladora da Panasonic) adquiriu os direitos da tecnologia e planejava lançá-lo como console doméstico. No entanto, com a crescente concorrência e os altos custos de produção, o plano foi cancelado em 1997. Mesmo assim, a tecnologia não foi totalmente descartada, ela sobreviveu em placas de arcade e equipamentos comerciais como o FZ-21 e o FZ-35, utilizados para treinamentos e quiosques interativos em lojas.

Diferente de protótipos incompletos, o FZ-21 foi produzido como um produto finalizado, mas voltado para o mercado corporativo, e não para jogos. Seu sistema rodava softwares específicos, como simuladores de direção ou o jogo de memória Pond Pond Land, voltado para o público idoso no Japão. Com dois processadores PowerPC 602, um chip Bulldog ASIC e 8 MB de RAM (a versão de arcade tinha 16 MB), o hardware era impressionante. Porém, o sistema operacional Opera exigia softwares assinados digitalmente, o que dificultava o uso para jogos como Tobe! Polystars ou Battle Tryst, que precisavam de modificações técnicas para funcionar.
Foi só em 2022 que o canal do YouTube Video Game Esoterica conseguiu um FZ-21 após uma busca de dez anos. Considerado uma espécie de “3DO M2 finalizado”, o console impressiona pelos detalhes físicos como as aberturas laterais, o botão de abertura com resposta tátil e etiquetas em várias línguas, um reflexo de sua ambição global que nunca se concretizou. Com base nos números de série, estima-se que ao menos 1.307 unidades foram produzidas, o que o torna um item raro e valioso. Em 2023, um FZ-21 foi vendido por US$ 20 mil, enquanto o FZ-35 apareceu por US$ 1.000.
Hoje, entusiastas da preservação da história dos videogames trabalham para contornar a exigência de software assinado e fazer com que jogos funcionem dentro das limitações de memória do aparelho. Iniciativas como o desbloqueio da BIOS e o estudo da porta de expansão demonstram o esforço de trazer de volta à vida esse console quase esquecido. O FZ-21 é compatível com controles padrão do 3DO ou um raro controle da Panasonic com adesivo rebatizado, o que só aumenta seu charme entre colecionadores.
Mas nem tudo são flores no mundo dos itens raros. Quando o Video Game Esoterica colocou seu FZ-21 à venda para arrecadar fundos e expandir seu estúdio, causou polêmica. Acusações de que o console seria falso geraram comentários de ódio e, no fim, o anúncio foi retirado. Esse é o tipo de reação que se vê quando se mexe com relíquias preciosas do mundo gamer. O FZ-21 pode ter falhado comercialmente, mas deixou sua marca como uma peça curiosa da história dos videogames, um projeto ambicioso que nunca viu a luz do dia, mas ainda assim fascina quem se interessa pelas possibilidades que o futuro dos games poderia ter tomado.
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