Vidas ao Vento é um filme delicado. O mestre da animação Hayao Miyazaki saiu do mundo fantasioso de filmes como Princesa Mononoke, A Viagem de Chihiro e o Castelo Animado para contar uma biografia adaptada que se passa durante a Segunda Guerra Mundial.
Acompanhamos a história do designer de avião Jiro Horikoshi, um jovem que sonha em ser piloto, mas que tem seu desejo podado pela miopia que o acompanha desde a infância. Inspirado pelo designer aeronáutico italiano Caproni, Jiro adapta seu sonho de voar e passa a desejar desenhar aeronaves.
Em 1927, ele entra na divisão de aviões de uma grande empresa de engenharia japonesa e logo se vê projetando grandes máquinas.
No caminho, Jiro conhece e se apaixona pela jovem Nanoko e a Grande Depressão se instaura no Japão. Pobreza, doenças e o grande sismo de Kanto – que destruiu cerca de 570 mil lares, deixando quase doi milhões de refugiados – arrastaram o Japão à guerra. Miyazaki apresenta como a juventude no país sobreviveu a este período turbulento.
Apesar de ser uma animação, Vidas ao Vento é um filme adulto com roteiro complexo e referências históricas. Algo que me chamou bastante a atenção, e acredito que isso até contribuiu para o filme não ser considerado para crianças, é o tanto que os personagens fumam durante a trama.
Momentos de reflexão e introspecção do protagonista são sempre acompanhados de um cigarro aceso. Em algumas cenas vemos os cinzeiros lotados e Honjo, o amigo de Jiro, também está sempre fumando ou “filando um”.
Mesmo sendo uma biografia, não entendo exatamente o que o cigarro pode contribuir para o desenrolar da trama, ainda mais porque o filme também aborda problemas como a tuberculose. Há uma cena, inclusive, em que Jiro fuma ao lado de um tuberculoso em crise. Não faz muito sentido.
Mais que isso, o diretor usa e abusa de planos estáticos. Existem muitos momentos em que ficamos apenas admirando a paisagem da animação, deixando um aspecto cult para o filme. Não à toa, são mais de duas horas de duração que podem soar um pouco arrastado para os mais impacientes.
A cereja do bolo é, sem dúvida, o protagonista Jiro, cujo um de seus grandes feitos é o avião de caça Mitsubishi A6M Zero que foi usado durante a Segunda Guerra Mundial pelo Japão. Mesmo sendo muito talentoso, Jiro sempre se mostra insatisfeito em projetar máquinas para a guerra.
Para ele, os humanos criam objetos incríveis, mas usam da forma errada. O rapaz também é super polido e solidário, e é bonito de ver como os japoneses são educados uns com os outros. O filme é cheio de palavras como “por favor” e “obrigado”.
Com indicação ao Oscar para melhor animação, Vidas ao Vento é um filme recomendado para quem gosta de sutilezas. É leve como o vento que, mesmo não sendo possível enxergá-lo, nos é de muita valia.
Nota: 4/5
Vidas ao Vento
Diretor: Hayao Miyazaki
Distribuidor: Califórnia Filmes
Gênero: Animação / Drama
Data de Lançamento: 28 de fevereiro de 2014