Pela primeira vez na história, uma estrutura helicoidal gigantesca, com milhões de quilômetros de extensão, foi registrada emergindo do Sol.
A descoberta veio do Solar Orbiter, espaçonave lançada em 2020 pela Agência Espacial Europeia (ESA) em parceria com a NASA, que tem como missão capturar imagens sem precedentes da nossa estrela.
Entre os seis instrumentos de imageamento a bordo da espaçonave, o Metis se destaca por sua capacidade de observar a coroa solar e o vento solar com alta resolução.
Funciona como um coronógrafo, bloqueando a luz intensa da superfície solar para revelar detalhes sutis da atmosfera externa do Sol.
“O Metis é atualmente o único instrumento capaz de visualizar o movimento helicoidal do vento solar em alta resolução, tanto no espaço quanto no tempo”, explica a ESA.
Foi esse olhar privilegiado que permitiu registrar, em 12 de outubro de 2022, uma estrutura colossal emergindo da superfície solar e se estendendo por milhões de quilômetros, como se estivesse presa a um ciclone de proporções astronômicas.
Os cientistas descreveram o fenômeno como uma estrutura helicoidal radial que se formou entre 1,5 e 3 vezes o raio do Sol e persistiu por mais de três horas.
Considerando que o raio solar é de aproximadamente 695.700 quilômetros, a estrutura atingiu uma extensão impressionante de 2.087.100 quilômetros.
O fluxo torcido observado é impulsionado por um fenômeno chamado ondas de Alfvén, uma descoberta do físico Hannes Alfvén em 1942.
Essas ondas são variações no campo magnético do plasma, semelhantes a ondas em fluidos, mas com a complexidade adicional de interagir com campos magnéticos e elétricos.
A equipe de pesquisadores acredita que a estrutura registrada seja resultado de uma proeminência eruptiva na coroa solar. O evento ocorreu na esteira de uma ejeção de massa coronal (CME), um fenômeno em que enormes quantidades de plasma são expelidas para o espaço.
“As características observadas sugerem que a estrutura helicoidal é resultado de fluxos densos e torções do campo magnético, liberados após uma reconexão magnética em um evento de CME semelhante a um jato”, explica o estudo publicado no The Astrophysical Journal.
Apesar da magnitude do fenômeno, os cientistas suspeitam que esse tipo de fluxo torcido também ocorra em jatos menores.
Porém, ainda não está claro se esses fluxos contribuem para o vento solar ou se acabam retornando à cromosfera.
Para responder a essas questões, mais estudos serão necessários, incluindo observações futuras do Solar Orbiter e da missão Proba-3, da ESA.
A descoberta abre novas perspectivas para a compreensão da dinâmica solar e sua influência em nosso sistema planetário.
Com a tecnologia avançando e novas missões em andamento, estamos cada vez mais perto de decifrar os segredos do Sol.
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