Embora os filmes de Wes Anderson transbordem estilo, cores e simetria, o clima nos bastidores de Os Excêntricos Tenenbaums, lançado em 2001, esteve longe de ser tão encantador quanto o que foi parar nas telas, especialmente por conta do difícil relacionamento entre o diretor e o ator Gene Hackman.
Em uma entrevista recente ao The Sunday Times, Anderson falou abertamente sobre a tensão entre os dois durante as filmagens. Segundo ele, Hackman estava irritado desde o início, principalmente com o cachê oferecido. “Ele ficou furioso com o valor. Na verdade, ele nem queria fazer o filme. Eu insisti até ele topar. Todo mundo aceitou o que a gente podia pagar, e ele acabou aceitando também, meio contrariado”, contou o cineasta, que na época tinha apenas 32 anos e dirigia seu terceiro longa.
Hackman interpretou Royal Tenenbaum, o patriarca excêntrico e problemático da família que dá nome ao filme, um papel que, apesar do desconforto nos bastidores, se tornaria um dos mais marcantes da fase final de sua carreira. No entanto, mesmo com o sucesso da atuação, a relação entre os dois nunca engrenou. Anderson revelou que, depois do fim das filmagens, os dois não mantiveram mais contato. “Nem uma palavra. Ele foi embora sem se despedir. Estava de mau humor, tivemos atritos. Acho que eu era jovem demais e isso o incomodava”, admitiu.
O diretor disse ainda que Hackman só entendeu a proposta do filme depois que ele já estava pronto para estrear. “Ele gostou do resultado, mas me disse que não entendia nada do que estávamos fazendo enquanto filmávamos. Talvez, se eu tivesse mostrado uns 10 minutos do material logo no início, ele teria pensado: ‘Ok, agora entendi’.”
Gene Hackman faleceu em abril e, mesmo com sua conhecida seletividade em aceitar papéis na reta final da carreira, aceitou participar do filme, o que agora soa quase como um milagre, diante da resistência inicial. Bill Murray, que também integra o elenco do longa, comentou sobre a experiência após a morte do colega. “Eu entendo o Gene. Para ele, o Wes era só um moleque, e o cara já tinha feito alguns dos maiores filmes americanos. Ele ficou meio impaciente. Tinha que contracenar com crianças, cachorros, o Kumar [Pallana, o mordomo Pagoda], que era um mistério para todos nós. Era uma situação complicada, ele se sentia sobrecarregado, e acho que se perguntava: ‘O que estou fazendo aqui com essa galera?’ Mas a atuação dele foi brilhante. Eu via tudo isso e sofria com ele, porque dava pra perceber o quanto ele estava desconfortável.”
Apesar do clima difícil nos bastidores, o trabalho de Hackman em Os Excêntricos Tenenbaums segue sendo uma das colunas centrais do filme e uma verdadeira aula de atuação, mesmo que, para ele, a experiência tenha sido tudo menos divertida.
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