A cidade de Xangai acaba de protagonizar um feito de engenharia que parece coisa de ficção científica. No histórico bairro de Zhangyuan, um conjunto de edifícios centenários conhecido como Huayanli, com 7.500 toneladas de estruturas em alvenaria e madeira, foi literalmente transportado de um ponto a outro com a ajuda de 432 minirrobôs, cada um pequeno o bastante para caber na palma da mão.
Construído entre as décadas de 1920 e 1930, o complexo representa um pedaço da alma de Xangai, com sua arquitetura típica Shikumen e uma história ligada à classe média local. Como restam poucos bairros desse tipo, demolir os prédios não era uma opção. Só que havia um problema: era necessário abrir espaço para um novo complexo subterrâneo de três andares, com cerca de 53 mil metros quadrados de lojas, centros culturais, um estacionamento e uma conexão entre as linhas 2, 12 e 13 do metrô. A solução? Fazer os prédios “caminharem” temporariamente.
E foi exatamente isso que aconteceu. Os pequenos robôs com rodas do tipo crawler trabalharam em sincronia, transportando o complexo de 4 mil metros quadrados a uma velocidade de 10 metros por dia. A operação começou em 19 de maio e foi concluída em 7 de junho de 2025, devolvendo os prédios exatamente ao seu lugar original após um desvio iniciado em 2023 para viabilizar as escavações. Tudo foi monitorado por escaneamento 3D, inteligência artificial e sensores de precisão, sem perder um tijolo sequer no processo.
A escolha pelo uso de robôs se deu por uma questão prática: as ruelas estreitas e as estruturas frágeis impediam o uso de guindastes ou trilhos rolantes. Um salão de 1928, que já abrigou uma escola noturna, era especialmente sensível. Desenvolvidos pela Shanghai Construction No. 2 (Group) Co. Ltd., os robôs ainda contaram com a ajuda de outras máquinas menores, que entravam por frestas de pouco mais de um metro para escavar as fundações, usando IA para lidar com o solo argiloso e esteiras para retirar a terra.
O novo espaço subterrâneo vai interligar arranha-céus, centros comerciais e áreas residenciais. Enquanto isso, na superfície, Huayanli será restaurado para manter viva a memória de uma Xangai que resiste no tempo. A cidade já tem tradição em mover prédios inteiros, mas essa foi a maior operação do tipo na China até agora, e provavelmente uma das mais ambiciosas do mundo.
Mover um quarteirão inteiro, sem desmontar nada, é a prova de que é possível aliar crescimento urbano e preservação histórica. Pode não ser barato, mas o exemplo de Xangai certamente fará outras cidades repensarem como é possível evoluir sem apagar o próprio passado.
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