“Yan“, série em três volumes do autor taiwanês Chang Sheng, foi lançada pela Editora Comix Zone como uma obra que desafia os limites do mangá e oferece uma experiência única aos leitores. Misturando elementos da cultura tradicional chinesa com ficção científica, o quadrinho (ou manhwa) apresenta uma história poderosa e visualmente deslumbrante, capaz de cativar tanto fãs de narrativas de ação quanto aqueles que buscam reflexões mais profundas.

A trama acompanha Yan Tiehua, uma jovem de 15 anos cuja vida é brutalmente transformada quando sua família, integrante de uma renomada trupe da Ópera de Pequim, é massacrada. Única sobrevivente do ataque, Yan é injustamente acusada do crime e condenada a anos de encarceramento em um centro de pesquisa secreto. Após décadas de sofrimento, ela retorna ao mundo vestindo o traje tradicional que simboliza suas raízes e embarca em uma jornada implacável de vingança. Contudo, sua busca pessoal logo se entrelaça com questões maiores, envolvendo conspirações corporativas, inteligência artificial descontrolada e até mesmo viagens no tempo.

A narrativa de Chang Sheng é um espetáculo à parte. Ele constrói a história com camadas que vão desde o drama íntimo da protagonista até um conflito épico de escala global. Cada personagem traz complexidade e profundidade à trama: a própria Yan e seus poderes sobrehumanos, Higa Mirai, uma jovem com poderes premonitórios, um policial veterano desiludido, um viajante no tempo com missões desafiadoras, e Flor, a presidente da misteriosa corporação Flor Tech, cuja ligação com o passado de Yan revela motivações sombrias. À medida que a história avança, o leitor é conduzido por reviravoltas surpreendentes que ampliam os horizontes da trama sem perder o foco emocional.

A arte sequencial de “Yan” é um dos grandes destaques da obra. Chang Sheng demonstra domínio absoluto do traço, criando ilustrações ricas em detalhes e atmosferas que capturam tanto a beleza quanto a brutalidade do mundo em que sua história se passa. As cenas de ação são coreografadas com precisão cinematográfica, enquanto os momentos mais introspectivos ganham força graças ao uso magistral de luz e sombra. Cada quadro parece ter sido cuidadosamente planejado para equilibrar dinamismo e emoção.

O estilo artístico do autor é único e marcante. Ele combina a estética tradicional da Ópera de Pequim com influências modernas dos mangás seinen, resultando em uma fusão visual que é ao mesmo tempo familiar e inovadora. O realismo presente em seu trabalho amplifica o impacto emocional da narrativa, convidando o leitor a mergulhar profundamente na jornada dos personagens.
Além disso, “Yan” transcende o entretenimento puro ao explorar temas universais como justiça, vingança, memória e identidade. A obra também reflete sobre os perigos do avanço tecnológico descontrolado e o embate constante entre tradição e modernidade. Essas reflexões elevam a história para um patamar mais alto, tornando-a não apenas envolvente, mas também relevante.

Com “Yan”, Chang Sheng entrega uma obra-prima que desafia convenções e expande os horizontes do quadrinho asiático. A mistura ousada entre cultura pop e tradições milenares cria uma experiência única que certamente marcará os leitores brasileiros. A Comix Zone acerta mais uma vez ao trazer esta joia taiwanesa para o público nacional, consolidando “Yan” como uma leitura indispensável para fãs de histórias intensas e visualmente arrebatadoras.