Filmado entre 2016 e 2018, o documentário The Cave traz um relato visceral e comovente sobre a Guerra na Síria. O cineasta sírio Feras Fayyad retornou ao seu país de origem para acompanhar um grupo de médicas que lutam diariamente contra a escassez de comida e remédio em um hospital subterrâneo improvisado na Síria.

Onde a morte habita a superfície e os bombardeios são constantes, a resposta diante da falta de esperança por uma vida melhor está embaixo da terra, na cidade de Ghouta Oriental, onde a médica Amani Bellaour chefia de forma inédita o hospital com muita coragem e resistência.

10 curiosidades sobre o documentário The Cave

 “Como cineasta sírio, cumpri minha missão jogar luz sobre as atrocidades que continuam a ser cometidas na minha terra hoje. Na Dra. Amani eu vi esperança enquanto testemunhei seu desafio de ir contra os estereótipos e preconceitos que governam a nossa sociedade ao mesmo tempo em que atendia pacientes nas circunstâncias mais terríveis. Sua história precisa ser contada”, disse Fayyad.

Nomeado ao Oscar de Melhor Documentário de 2020 e participante em mais de 30 festivais de cinema pelo mundo, The Cave estrou dia 03 na National Geographic.

Conheça algumas curiosidades sobre este documentário com narrativa que você provavelmente nunca viu antes.

10 curiosidades sobre o documentário The Cave

1. A admiração do diretor pelas mulheres valentes

O diretor sírio Feras Fayyad cresceu cercado por mulheres: sua mãe, sete irmãs e quatro tias. Por conta disso, ele sempre se incomodou com situação das mulheres na sociedade síria, onde são consideradas “sexo frágil”, nascidas para serem esposas e mães, e inferiores aos homens.

2. Uma experiência pessoal de tortura

Em 2011, o governo de Bashar al-Assad começou a tomar medidas severas para interromper o movimento pró-democrático. Fayyad foi preso, seu filme sobre um poeta sírio exilado e sua luta pela liberdade de expressão o colocaram na mira do regime. Ele foi preso e torturado por quinze meses. Lá ele testemunhou crueldade e misoginia. “Como um homem que cresceu em uma família de mulheres, isso foi muito forte para mim. Senti que um dia tive que usar minha voz como cineasta para denunciar tudo isso.”

3. Como o diretor encontrou Amani Ballour

Em agosto de 2013, o governo de Al-Assad realizou um ataque de armas químicas em Guta. Mísseis foram lançados às 2:30 da manhã, o que asfixiou a população enquanto dormia. Feras Fayyad ficou chocado ao ver imagens de dois médicos que trabalharam rápida e decisivamente. Um deles era uma jovem pediatra, Dra. Amani Ballour.

4. Amani, uma síntese das mulheres da vida de Fayyad

“Eu podia imaginar minha mãe, minhas irmãs e as mulheres que haviam sido espancadas durante minha prisão em todas as histórias que foram contadas por Dra. Amani. Ela não apenas cumpria seu dever como médica: ela estava desafiando os estereótipos e preconceitos que a sociedade síria tem sobre as mulheres“, lembra Fayyad.

5. A Caverna

Amani foi nomeada diretora do hospital subterrâneo, em Guta, nomeado “A Caverna”. Os pisos subterrâneos faziam parte de um hospital em construção que permaneceu inacabado e vazio desde o início das guerras. A área foi dividida em salas: uma clínica pediátrica, uma clínica para mulheres, uma sala de operações, uma sala de recuperação e um espaço de recepção de emergência.

6. O filme foi dirigido à distância

Incapaz de ir a Guta devido ao cerco, o diretor teve que reunir uma equipe de filmagem para trabalhar dentro do hospital subterrâneo. Sua busca o levou a três talentosos colaboradores: Muhammed Khair Al Shami, Ammar Sulaiman e Mohammed Eyad, que fizeram um mapa detalhado do hospital para que ele tivesse uma ideia concreta da distribuição, das várias salas e túneis. Eles se comunicavam online duas vezes por dia e enviavam as imagens em pequenos arquivos.

7. O desafio de não perturbar

Fayyad deu-lhes instruções, passo a passo, sobre as técnicas necessárias durante as filmagens para captar a sensação de intimidade que procurava. “Eles precisavam saber como filmar de maneira sensível, próxima dos personagens, mas sem perturbá-los”. Fayyad produziu o documentário seguindo o estilo do cinéma verité, através apenas dos personagens, sem narração ou entrevistas diretas à câmera. O diretor queria que sua equipe seguisse os personagens por longos períodos de tempo e os filmasse trabalhando e também em suas vidas pessoais: comendo, se comunicando com a família, conversando entre si.

8. Incontáveis obstáculos

Os cinegrafistas enfrentaram inúmeras dificuldades técnicas, principalmente devido à impossibilidade de acessar equipamentos sofisticados de alta qualidade e adequados para filmar pequenos espaços escuros. Quando havia uma queda de energia, um dos operadores de câmera acendia a lanterna do celular. Além disso, os personagens raramente iam à superfície, para não correr risco de morte por um dos frequentes ataques aéreos dos caças russos.

9. Atenção à perspectiva feminina

Dra. Amani age de acordo com suas convicções e com atenção especial às meninas, as quais o futuro ainda é uma questão indefinida. “Em nossa sociedade, espera-se que as mulheres se casem quando são adolescentes. A maioria dos homens e pais diz: ‘Você se casará e irá para a casa de seu marido’. Por isso, é preciso falar com elas sobre isso“.

10. A eterna esperança por justiça

Quando perguntado sobre suas expectativas em relação à caverna, a Dra. Amani foi, como sempre, direta: “Quero que este filme signifique um passo no caminho da justiça, talvez possamos fazê-la um dia. Quero contar à geração mais jovem da Síria, os filhos dos sírios, a verdade sobre o que aconteceu aqui. E, especialmente, quero que as mulheres do meu país saibam que são fortes, que podem desafiar restrições, que podem fazer o que querem. Tentei dizer a todas as mulheres que vi, o tempo todo: ‘Não preste atenção à sociedade, ao que as pessoas dizem sobre você. Você tem que fazer o que quiser. Você tem que ter fé em si mesmo’. Algum dia, as coisas vão mudar! A sociedade vai mudar.”



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