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A Baleia: em uma sociedade que cultua a perfeição, ainda há espaço para o sofrimento?

Na luta contra as forças da natureza, a batalha já está perdida. É a premissa de Moby Dick que abre uma interpretação mais profunda para filme visceral A Baleia, de Darren Aronofsky.

*contém spoiler

Quem não termina a sessão estarrecido, com os olhos em lágrimas ou em um silêncio sepulcral, não tem coração. Raro mesmo é quem tem o coração de uma baleia, gigante.

Brendan Fraser dá vida a um personagem que engole tudo, numa fome insaciável de preencher a perda. É o retrato do luto em sua forma mais escancarada, sem filtros. A dor do vazio e o inconformismo, no impulso de engolir o mundo.

Em uma sociedade que nivela cada vez mais as asperezas da vida para cultuar a perfeição, o narcisismo nos impele de enxergar no outro a falta dela. Exigimos a resposta emocional perfeita e adequada às tragédias, das quais nem um ser humano sequer sai ileso.

Charlie é aquilo que nós não queremos enxergar, especialmente em nós mesmos.

A forma como a própria filha trata o pai é uma representação da modernidade, que alimenta nossa imaturidade em lidar com o que não é possível embelezar com filtros. É a desumanização do sofrimento quando ele toma formas socialmente não aceitas.

Aliás, fica aqui uma reflexão que serve como soco no estômago: o sofrimento é socialmente aceito ou por si só é repugnante para nós?

Charlie come tudo porque quer morrer. De uma forma diferente do amado, que morreu pela privação de comida. Aqui, o autoflagelo e a negação à própria vida. Processos que acompanham quem fica, quando o outro parte. Um contraste de dois extremos.

A religião como forma de salvação é também a luta contra a natureza, uma batalha que já começa vencida pelo mais fraco, que sucumbe. O marido de Charlie não era fraco em sua natureza, mas sim pela força violenta que não permitiu que ela fosse manifestada.

O amor tem disso. De ser um coração de baleia. Que pesa 180kg. Capaz de atravessar um oceano. De conhecer superfícies e navegar pelas profundezas. Apenas para cumprir sua própria natureza, de tanto suportar até morrer — melhor que seja por amor.

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