Pesquisadores desafiam uma das ideias mais aceitas da cosmologia: a expansão acelerada do universo. Durante décadas, astrônomos confiaram nas supernovas do tipo Ia, explosões de estrelas anãs brancas em sistemas binários, como “velas padrão” para medir distâncias cósmicas. A lógica era simples: todas essas supernovas teriam brilho semelhante, e quanto mais fracas aparentassem, mais distantes estariam. Essa abordagem deu origem à noção de que a expansão do cosmos está se acelerando, impulsionada por uma misteriosa força conhecida como energia escura.

Agora, um estudo polêmico liderado pelo astrônomo Young-Wook Lee, da Universidade Yonsei, publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, sugere que essa visão pode estar equivocada. Segundo Lee e sua equipe, ao considerar a idade das supernovas, a aparente aceleração desaparece. O grupo afirma que a expansão do universo começou a desacelerar há cerca de 1,5 bilhão de anos e que, no futuro, esse movimento poderia até se inverter, culminando em um “big crunch” que questionaria a própria lógica do Big Bang.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram 300 galáxias e constataram que o escurecimento das supernovas não é apenas uma questão de distância, mas também de efeitos astrofísicos relacionados à evolução estelar. Lee destacou que, se os resultados forem confirmados, a descoberta representaria uma mudança de paradigma em cosmologia desde a identificação da energia escura, há 27 anos.
Apesar da repercussão, a comunidade científica mantém reservas. Adam Riess, físico do Space Telescope Science Institute e ganhador do Nobel de Física em 2011 pela descoberta da energia escura, alerta que determinar a idade dessas estrelas é complicado devido às incertezas sobre sua evolução. O cosmólogo Carlos Frenk, da Universidade de Durham, considera a pesquisa provocativa e instigante, mesmo admitindo que os resultados podem estar incorretos.
A expectativa é que futuras observações do Observatório Vera C. Rubin, no Chile, esclareçam a questão. Com a descoberta de mais de 20 mil novas galáxias hospedeiras de supernovas nos próximos cinco anos, cientistas esperam medir com precisão a idade dessas estrelas e testar de forma mais robusta os modelos de cosmologia baseados em supernovas.
Essa discussão acende um debate fascinante sobre o destino do universo e mostra como, mesmo em teorias amplamente aceitas, sempre há espaço para questionamento e novas descobertas.
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