Em um trem rumo à cidade de Walbrzych, na Polônia, a jornalista Alicja Tabor embarca em uma missão para desvendar misteriosos desaparecimentos de crianças. Ao revisitar sua cidade natal, ela adentra uma narrativa fantástica e grotesca, onde as malícias adultas invadem o mundo pueril das crianças.

Baseado no romance de mesmo nome da autora Joanna Bator, a fantasia macabra do filme Dark, Almost Night cria um mundo dedicado às infâncias corrompidas.

A narrativa desenvolve várias histórias paralelamente, reveladas aos poucos em pistas individuais de personagens que compartilham suas versões como nos contos infantis, em uma cadência penetrante.

Os quebra-cabeças vão se montando com as peças do passado tenebroso de Walbrzych, uma cidade onde as crianças nascem quebradas e estão condenadas à negligências, abusos e desamparo.

Alicja (Alice) não carrega o nome à toa. Semelhante à de Lewis Carroll, ela mergulha em uma realidade paralela que parece um sonho de auto descoberta, mas com toques sombrios que ameaçam a fantasia infantil. Assim é quando sua irmã entra em uma toca de coelho, mas ao contrário de um mundo de aventuras fantásticas, encontra a morte pelo frio.

A paleta de cores soturnas e ambientações em meio à densa floresta, evocam o mistério das sensações ambíguas de solidão e desamparo; refúgio e segurança.

É na mata que se encontra o esconderijo, onde mora o perigo e também é lar das personagens míticas “comedoras de gatos”, mulheres protetoras de crianças – criaturas com toques de loucuras, e muito mais sãs do que o cinismo dos “normais”.

As fisionomias bizarras dos adultos se contrastam com as angelicais do elenco infantil, causando o estranhamento que o cenário cria. O horror é conduzido pela câmera que filma próximo aos rostos dos personagens, exprimindo sentimentos indizíveis.

Dark, Almost Night não se atém aos pudores ou é complacente com seus espectadores. Suas cenas angustiantes exploram a obscuridade dos sentimentos lascivos de uma pessoa ao se apropriar de tal inocência que não mais lhe pertence.

O tom grotesco provoca nossas concepções morais, para sustentar que a infância, antes de ser onde tudo se inicia, é um lugar frágil que deveria permanecer imaculado, assim como nas histórias fantásticas dos livros infantis.

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