Se você tem a sensação de que não consegue se concentrar como antes ou vive esquecendo as coisas, saiba que essa experiência é compartilhada por uma parcela crescente da população jovem. Um estudo recente e abrangente, publicado na renomada revista Neurology, revela um salto preocupante em queixas cognitivas, como problemas de memória e concentração, entre norte-americanos de 18 a 39 anos.
A pesquisa, que analisou dados de impressionantes 4,5 milhões de pessoas coletados em pesquisas telefônicas ao longo de uma década, mostra que o problema afeta a população de forma desigual. Enquanto o índice geral de pessoas relatando “dificuldade séria para se concentrar, lembrar ou tomar decisões” subiu de 5,3% para 7,4%, o crescimento entre os adultos jovens foi muito mais acentuado: praticamente dobrou, saltando de 5,1% para 9,7%.
O neurologista Adam de Havenon, principal investigador do estudo pela Escola de Medicina de Yale, enfatiza a necessidade de entender as causas por trás desse fenômeno, dado o potencial impacto de longo prazo na saúde das pessoas, na produtividade do trabalho e nos sistemas de saúde.
Os dados revelaram que o aumento foi mais significativo em grupos socioeconomicamente vulneráveis. Pessoas com renda anual inferior a 35 mil dólares e aquelas sem diploma do ensino médio registraram os maiores crescimentos. Em contrapartida, adultos com renda superior a 75 mil dólares e formação universitária tiveram um aumento menor no relato de problemas.
Um dado que chama a atenção é a comparação com os idosos. Justamente o grupo que se imagina ser mais suscetível a questões cognitivas relacionadas à idade, pessoas com 70 anos ou mais, reportou uma ligeira redução nesses problemas no mesmo período.
A grande pergunta que fica é: o que está causando essa tendência? Os pesquisadores apontam que não há uma resposta única. Pode ser uma combinação de fatores que vai desde uma maior conscientização e disposição para relatar esses desafios até o impacto real de mudanças em nossa saúde cerebral.
Especialistas especulam que o estilo de vida moderno tem sua parcela de culpa. Os algoritmos viciantes de redes sociais e a exposição constante às telas, já ligados à redução do nosso tempo de atenção em outros estudos, são suspeitos naturais. Além disso, o estresse crônico de uma vida financeiramente precária e a falta de suporte social em comunidades carentes dificultam a tomada de decisões e sobrecarregam a mente.
Embora seja difícil reverter barreiras econômicas e raciais complexas, os especialistas sugerem que uma solução simples está ao alcance de quase todos: dar uma pausa digital. Desligar as telas e reconectar-se com o mundo offline pode ser um primeiro passo crucial para recuperar um pouco do foco e da clareza mental que parecem estar escapando pelas mãos da geração mais jovem.
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