Uma obra literária se torna atemporal quando é capaz de atingir o cerne da complexidade humana e expor suas facetas camufladas. Assim é a história de A Metamorfose, de Franz Kafka.
Ao apresentar o personagem Gregor Samsa, que acorda em certa manhã transformado em um inseto asqueroso, Kafka brinca com metáforas e discorre em um texto irônico sobre a dificuldade humana em lidar com o que é diferente.
Quando sua família e patrão invadem seu quarto e o encontram transformado, Gregor é subjugado, humilhado e despido de “sua humanidade”. Não tão diferente do que já experimentava em seu trabalho.
Então acompanhamos o protagonista em uma luta agonizante em seu novo corpo para reconquistar sua dignidade e “condição natural”.
A obra centenária é uma síntese da linguagem kafkiana. Na qual a realidade de personagens fictícios se assemelha à de personagens reais para destacar um conflito interno, e também o do ser e as imposições sociais.
Há quem veja o conto sob o ponto de vista da depressão, da rejeição e das transformações pessoais. A narrativa se permite ser explorada nas mais diversas nuances humanas, dependendo dos olhos de quem a interpreta. É por isso que A Metamorfose é uma obra prima da literatura universal.
Escrito em 1915, este conto é um dos mais conhecidos e estudados de Kafka. Foi publicado pela primeira vez em uma revista alemã, e mais tarde rodou o mundo através de edições traduzidas.
O texto já considerado subversivo ao longo da história, segue atual após cem anos, e deve permanecer assim.
Não é fácil reviver uma obra tão conhecida e debatida quanto A Metamorfose. Mas a editora Antofágica sabe que “ótimos livros são aqueles que contam histórias que também se transformam ao longo da transformação da nossa própria vida”.
Nasce então uma edição primorosa traduzida diretamente do alemão por Petê Rissati, que nos aproxima do texto original com fluidez e cadência.
Acompanhando a leitura, 93 ilustrações de Lourenço Mutarelli, em seu estilo grotesco e singular, deixam toda a experiência mais especial.
Os desenhos representam lentamente as fases angustiantes da metamorfose enquanto a narrativa se desenvolve. Chegando ao seu fim catártico.
A Metamorfose tem capa dura e texturizada, padrões que devem ser seguidos com os próximos lançamentos da editora: Memória Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis, e Coração das Trevas (1899), de Joseph Conrad.
Com a filosofia de “clássicos para novos tempos”, a Antofágica, recém-nascida no Brasil, é batizada com um nome que não está nos dicionários, mas sim em uma série de contos escritos na década de 70 por Drummond, e nunca publicados, ambientados na cidade Antofágica.
Etimologicamente, a palavra significa ‘comedor de flores’.
A homenagem segue com uma sacada inteligente, na qual a editora se apresenta como uma cidade. E, junto dos livros, eles enviam um cartão postal deste local que partiu do realismo fantástico de Drummond e que publicará, em breve, mais clássicos com novos olhares.