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Astronautas já conseguem controlar robôs da Terra a partir do espaço, e isso pode mudar a exploração de outros mundos

Um pedaço da Alemanha rural, coberto por terrenos avermelhados que lembram Marte, serviu de palco para um feito inédito: o astronauta da NASA Jonny Kim, diretamente da Estação Espacial Internacional, comandou em tempo real uma equipe de robôs projetados para simular missões em planetas distantes. A experiência encerrou a fase atual do Surface Avatar, projeto da Agência Espacial Europeia (ESA) em parceria com o Centro Aeroespacial Alemão (DLR), que tem como objetivo treinar astronautas para controlar máquinas de forma eficiente na Lua, em Marte ou em outros ambientes hostis.

Kim teve sob seu comando quatro robôs: o rover Interact da ESA, o humanoide Rollin’ Justin do DLR, o famoso cão-robô Spot da Boston Dynamics e outro “cachorro mecânico” chamado Bert. Eles enfrentaram dois cenários desafiadores. No primeiro, Spot e Justin trabalharam juntos para coletar amostras espalhadas pelo terreno irregular. Spot percorreu a área de forma autônoma, localizando e agarrando recipientes antes de levá-los a uma estação de coleta. Em seguida, Kim controlou Justin para transportar o material até um módulo de pouso. A parte impressionante foi a capacidade de Spot de corrigir seus próprios erros: ao falhar em uma tarefa, reconheceu a falha, ajustou o movimento e conseguiu completar a missão.

No segundo teste, a ação foi subterrânea. O Interact levou Bert até a entrada de uma caverna bloqueada por uma pedra. Usando o braço robótico do rover, Kim removeu o obstáculo e soltou Bert para explorar o interior. Só que uma das pernas do robô apresentou defeito, obrigando o astronauta a reprogramar sua forma de andar em tempo real, até que ele pudesse seguir em frente e procurar indícios de gelo marciano.

O sistema de controle usado por Kim combina joystick, retorno tátil e uma tela dupla que alterna entre a visão em primeira pessoa do robô e um mapa tático do terreno, um design inspirado em jogos de estratégia em tempo real, segundo a engenheira da ESA Rute Luz. Isso permite controlar diretamente um robô e ao mesmo tempo delegar funções aos outros, algo muito mais avançado do que os primeiros testes, onde cada movimento precisava ser executado manualmente por um humano.

Desde 2022, com a primeira sessão realizada pela astronauta Samantha Cristoforetti, o projeto vem evoluindo. Cada etapa adiciona mais complexidade, autonomia e falhas simuladas para testar como humanos e robôs podem cooperar em missões reais. Para Benoit Pouffary, líder de estudos da ESA, esse é o alicerce do papel europeu em futuras missões lunares e interplanetárias, já que a combinação de inteligência humana e robótica pode redefinir a exploração espacial.

O próximo passo será no centro de testes LUNA, uma instalação da ESA que simula a superfície lunar com poeira e restrições semelhantes às de trajes espaciais. Spot e Interact terão de enfrentar novos desafios, catalogando tarefas essenciais para futuras missões na Lua. Há até planos de expandir os experimentos para análises geológicas e espectrométricas. Enquanto isso, o controle háptico que Kim usou continua a bordo da ISS, pronto para o próximo astronauta assumir o joystick do futuro.

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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