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Batman | Crítica: O auge do homem-morcego

É inegável que a DC Comics já fez os fãs cansarem do Batman em suas produções. Nos últimos anos o personagem apareceu incansavelmente em diversos conteúdos e não tinha como fugir: para onde quer que olhasse, lá estaria ele. Jogos, HQs, filmes, desenhos animados, séries…enfim, foi surreal como sugaram até onde não tinha mais. Quando surgiu a proposta de um novo longa, com Robert Pattinson no papel principal, tinha como botar fé? Nem digo pelo ator, mas eu refletia sobre o que de novo podia surgir deste universo. Isso me levou completamente desacreditado ao cinema e acredite, eu estava enganado.

Com uma ambientação mais noir e um clima completamente investigativo, Matt Reeves atingiu exatamente no ponto onde nenhum outro diretor conseguiu: trazer à vida o maior detetive do mundo. Ao menos o seu início de carreira, o que já é muito promissor, diga-se de passagem. Aqui vemos um Bruce Wayne ainda sofrendo pelas cicatrizes da perda dos seus entes queridos, um Alfred que não tem muita ideia do que fazer pelo jovem e o mundo criminoso crescendo cada vez mais por Gotham. Apesar dele já estar em ação como o herói, ainda precisava mostrar ao que veio.

E nada disso seria possível sem a excelente atuação do elenco. Se um dia eu critiquei Robert Pattinson, estrela de Crepúsculo, não me recordo. O ator está genial e realmente me passou uma atmosfera mais densa, tanto de Bruce Wayne quanto do homem-morcego. Zoë Kravitz foi além com sua Mulher-Gato, mostrando que ela é muito mais do que um simples sex appeal ou um par romântico para o herói. Gordon, Pinguim, Carmine Falcone e os demais também brilham e cada momento onde aparecem fazem valer os milhões que devem ter sido pagos em seus salários. A performance só não foi melhor porque o filme continha “apenas” três horas.

Robert Pattinson está brilhante no papel de Batman

A sombra do Batman

É muito difícil fazer uma crítica de uma produção relacionada ao Batman sem comparar a qualquer um dos materiais feitos por Cristopher Nolan. E neste quesito, posso afirmar com toda a certeza do mundo aquilo que vi no cinema é tão bom quanto O Cavaleiro das Trevas. Mesmo sem o Coringa. Alguns dirão que é melhor, outros que é um pouco menos…mas não se engane. Eles carregam o mesmo nível de impacto emocional e na representação do que são os verdadeiros dilemas do personagem. Ouso também afirmar que este destaca um pouco mais de Bruce do que seu antecessor, o que já é uma bela vantagem.

Dito isso, o que é um grande alívio para mim, temos uma amostra importantíssima do que significa ser o encapuzado logo na cena inicial. Ela vai te mostrar exatamente a razão pela qual os bandidos temem que ele apareça, assim como você conseguirá crer, até a última força que existe dentro de si, que Robert Pattinson entregará uma performance emblemática. Ou seja, em cinco minutos ou até menos você já estará completamente convencido de que ele é Bruce Wayne e é bom não pegar ninguém cometendo crimes, senão a situação vai azedar.

Outra coisa que eu adorei foi a completa ausência de ficar abraçando todo o universo DC ou multiverso, esquecendo completamente que existem outras coisas dentro dele. Ou seja, não há referências ao Flash, Superman, Mulher-Maravilha nem nada do gênero. Matt Reeves deve ter se inspirado em Nolan, que também ignorou tudo isso para focar em uma trama mais realista. Isso é repetido aqui e continua sendo um grande acerto. Além disso, o foco é completo na história que está sendo contada. Retirando apenas uma cena que indica algo que pode vir em um futuro próximo, tudo é sobre o embate intelectual entre o Batman e o Charada.

O filme é sobre o grande plano de Charada

Falando nele, que atuação espetacular de Paul Dano como o vilão. Não vou mentir para você, ele aparecerá muito pouco na tela e realmente só o veremos em ação próximo ao desfecho. Aí quando ele aparece, dá para perceber como o seu plano foi se formando enquanto assistia ao herói agir, como um espectador que está brincando com toda a história. É um belo avesso de suas histórias em qualquer outra mídia, onde ele é tratado como uma ameaça menor e que não merece a atenção de ninguém. Aqui se você não estiver prestando atenção nele, não está assistindo ao longa da forma correta, acredite.

Outro ponto que merece ser comentado aqui é sobre o Batmóvel. Tinha lido nas últimas semanas que Matt Reeves gostaria que sua aparição no filme fosse um “evento”, algo memorável. Assim como a cena da perseguição entre o homem-morcego e o Coringa em O Cavaleiro das Trevas. Aqui posso afirmar que foi tão boa quanto, com o uso dele sendo um destaque bem positivo dentro da história. No momento que você o vê até o pulo na explosão, qual esteve presente nos trailers, será uma expressão de estar vendo uma maravilha em sua frente e o melhor uso do veículo possível. Para mim, este foi um dos maiores momentos de tudo que assisti e espero que prestem bastante atenção na construção de cenas para isso acontecer.

O batmóvel rouba a cena e atropela o público

Relações

Mesmo que Batman mostre a história de um herói encapuzado, a história te ganhará por ser um longa focado em relacionamentos. O foco aqui é Bruce Wayne e sua jornada de vingança, qual não segue bem os padrões esperados da sociedade. Vemos seu descaso pelos conselhos de Alfred, a forma como trata Selina e toda a polícia de Gotham. Ele é arrogante e não tem noção da sua posição perante todo o cenário da cidade. Nem mesmo os vilões o respeitam, constantemente tirando sarro de sua fantasia e do seu jeito. Veja bem, a grande questão aqui não é a sua reputação, mas sim a sua relação dentro de tudo isso.

Conforme avança e percebe que talvez não esteja tão certo assim, Bruce para um pouco e vai firmando a sua posição dentro deste universo. Ainda que a jornada da Mulher-Gato aconteça em paralelo com aquilo que o herói esteja enfrentando, a parceria dos dois se fortalece bastante até o grande clímax também. A construção disso rola de forma tão fluída que tenho de bater palmas aos roteiristas. Tenho até de assumir que senti vergonha de lembrar de Anne Hathaway neste mesmo papel, há uma década. Não que tenha sido ruim, é que a escala aqui foi bem mais alta.

O mesmo vale para os demais personagens. Todos estão interligados de alguma forma, montando uma grande rede cujo o único que tem ciência disso é o próprio Charada. A duração de 3h é justificada para mostrar como o plano dele se desenrola e quais são as implicações disso para Gotham, mostrando a todos que infelizmente foi o preço para se contar uma história consistente sobre cada um dos seus elementos. Batman não deixa pontas soltas, amarrando ainda para si uma grande crítica social sobre a forma complexa como enxergamos as coisas.

Bruce Wayne não é negligenciado, com grande importância na trama

Se possível, dê uma chance à história e a estes personagens, que fogem completamente de tudo aquilo construído no DCEU até este momento. A sua trama está muito mais próxima ao Coringa de Joaquin Phoenix do que vimos em Liga da Justiça e vou ser sincero com vocês, essa sim é a melhor forma de abordarmos a saga do homem-morcego. Apesar de ser forçado a estar em tudo, ele não combina muito com aquela legião de poderes e fantasias vibrantes. Mais vale montar um “Batverso” do que integrá-lo ao restante. Agora entendo a razão deles criarem essa marca separada dos demais.

Ainda é um mistério se teremos uma sequência ou não, mas devemos considerar que Batman vai atingir uma bilheteria grande o bastante para que isso aconteça. Há um momento onde isso é indicado, mas não seria nada estranho se isso fosse uma trama isolada, de tão bem-amarrada que ela se mostra. Uma coisa é certa, Robert Pattinson conseguiu o seu lugar ao lado de Christian Bale, Michael Keaton e Val Kilmer. Seu Bruce Wayne vai atingir muita gente, assim como a mensagem que desejam passar.

Aproveite que ele estreia neste fim de semana e vão aos cinemas assistirem. Não é o tipo de trama que vai te fazer sair arrependido, digo isso justamente por não gostar tanto assim do homem-morcego pessoalmente. Com personagens cativantes, um mistério grande para ser resolvido e momentos grandiosos demais para serem descritos em poucos parágrafos, Batman vai te fazer sentir aquilo que há muito tempo não sentia pelo herói: que ele é, verdadeiramente, a sombra de Gotham.

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