Na grande metrópole brasileira que não dorme, onde os dias são regidos pela urgência e não sobra tempo nem para olhar nos olhos de quem vem na contramão, algo mudou. E essa mudança representa a chegada do evento Cidade do Futuro no centro histórico da capital paulista.

O GPS encurtou o tempo do trajeto pela metade e a fanfarra das buzinas cedeu espaço para o silêncio e para a música, dependendo por qual rua você estivesse passando.

Havia tempo para reparar nas outras pessoas, digerir ideias, ouvir opiniões plurais, respirar profundamente e repensar nosso modo de vida, de trabalho e de consumo.

São Paulo tinha parado para falar sobre ser uma Cidade do Futuro

Caminhando pelo Centro Histórico, nos deparávamos com painéis indicando que conversas sobre temas relacionados a cultura, sociedade e inovação, aconteceriam naquele dia.

Tudo, é claro, sob uma perspectiva do futuro – que já começou. E as perguntas centrais que permearam muitos dos temas eram:

Como a sociedade vai caminhar rumo às transformações do digital e como as novas tecnologias já nos transformaram e ainda transformarão?

Edifícios da Prefeitura de São Paulo, prédios corporativos, restaurantes e construções imponentes e históricas, como a do B3, foram abertas ao público e cederam espaço para uma programação cultural totalmente gratuita no evento Cidade do Futuro, que celebrou os 469 anos da capital.

Teve foco também no futuro da periferia, no lugar da mulher na tecnologia, no Afrofuturismo, na comunidade LGBTQIA+ e, é claro, na inteligência artificial. O polêmico ChatGPT causou muito burburinho por lá também.

Mentes criativas, artistas independentes, líderes corporativos, pesquisadores, professores e inovadores promoveram bate-papos com a participação do público em mais de 40 painéis, que contemplaram ao todo 400 palestrantes.

A minha vontade era de estar presente em todas as palestras, mas como o espaço-tempo (ainda) não me permite, prestigiei algumas conversas que serviram para mim como alimento para o 🧠.

Separei alguns insights e compartilho abaixo. Espero que sejam benéficos para o seu🧠 também.

Sociedade do Cansaço: qual é o futuro do bem estar? 

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Camila Jankaski, Sandra Doria e Michelle Prazeres conduzem um bate-papo sobre o futuro do bem estar

A sociedade 24/7, o ser humano como máquina produtiva e funcional, a estrutura cultural das organizações e da sociedade como um todo, além do senso de urgência da vida hiperconectada, foram alguns dos temas debatidos na palestra, que aconteceu no edifício Qualicity, durante o Cidade do Futuro.

O bate-papo abordou ideias fundamentadas na medicina, em pesquisas acadêmicas e científicas, além de teorias de pensadores e pesquisadores como Jonathan Crary, Byung-Chul Han e Sidarta Ribeiro.

  • Normalizar a ideia de que o ser humano é apenas produtivo e funcional pode estabelecer uma violência nos espaços sociais e corporativos, tornando-se uma cultura difícil de ser superada.
  • Acelerar o áudio do WhatsApp é sintoma de uma sociedade que vive em alta velocidade, que não pode e não se permite descansar.
  • A qualidade do sono é diretamente impactada pela rotina que levamos durante o dia.
  • Muitos dos ambientes em que estamos inseridos funcionam sob a lógica da pressão da produtividade, da urgência e encaram o sono como um mecanismo regulatório para produzir melhor.
  • Não é à toa que problemas relacionados ao sono – e a falta dele – estão cada vez mais presentes na vida das pessoas.
  • A insônia também é comercial. Repare no “boom”de sleep techs e de gadgets que prometem uma noite de descanso satisfatória, bem como de remédios indutores de sono.
  • O descanso é um direito, portanto, não deve ou precisa ser produtivo.

Nós não temos tempo, nós somos o tempo.

  • Os contratos de tempo no trabalho são, muitas vezes, baseados no senso de urgência, na privação do descanso e na sobrecarga de demandas inviáveis de serem cumpridas numa jornada de trabalho de oito horas.
  • É, também, cada vez mais comum que os colaboradores se sintam mais pressionados ou precisem trabalhar além do horário estabelecido para entregarem suas tarefas.

Existe um paradoxo comum da atualidade: a pressão em produzir e em descansar. O remédio? Reestruturar as culturas, das esferas corporativas às sociais.

  • “Basta se organizar e você conseguirá cumprir toda a sua agenda” e “todo mundo tem as mesmas 24 horas” são discursos motivacionais violentos, porque responsabilizam totalmente o indivíduo e isentam as estruturas sistemáticas, reforçando também a desigualdade social.
  • As 24 horas de uma mulher preta da periferia não são as mesmas que de um homem branco que mora na Zona Sul, por exemplo.

O discurso do “bem estar” precisa se deslocar para o “bem viver”, e isso tem a ver com a responsabilidade de políticas públicas. Em sentido de comunidade, na qual o “comum” também é noção de bem estar.

  • Como a base de colaboradores pode reivindicar mudanças estruturais mais positivas nas culturas das empresas? Apresentando pesquisas e dados que sustentem suas propostas.
  • A união dos pares no ambiente de trabalho também é a força necessária para comunicar novas ideias e culturas.
  • Diálogo aberto e culturas organizacionais focadas no bem viver podem contribuir com ambientes e colaboradores mais saudáveis. E, consequentemente, para a saúde da sociedade como um todo.

A conversa foi conduzida por Camila Jankaski, designer e co-fundadora do Cochilo, Dra. Sandra Doria, médica especialista em Medicina e Pós Sono, e a jornalista e educadora Michelle Prazeres, idealizadora do DesacaleraSP.

O Futuro da Música & Entretenimento

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Claudia Gomes, Pamella Renha, Claudio Macedo, Anderson Gurgel e José Maurício Conrado falam sobre o futuro da música e do entretenimento

Como a música acompanha as rápidas transformações digitais? A rádio irá morrer? A música ainda ocupará seu lugar na vida de quem tem milhares de opções de entretenimento a cada segundo? Em tempos de liquidez, onde tudo é passageiro e rapidamente substituível, carreiras artísticas ainda irão perdurar por décadas?

Essas foram algumas das questões abordadas pelos painelistas e pelo público durante o bate-papo no Café Girondino, durante o evento Cidade do Futuro.

  • As rádios não vão morrer porque são companheiras e interagem com os ouvintes, oferecendo uma sensação de “real”, mesmo quando não estão ao vivo de fato.
  • O princípio da Economia Criativa é criar conexões e experiências inovadoras, promovendo a interação da cultura com outros setores.
  • Da década de 1990 para cá, tivemos uma migração da ideia de música, assim como do cinema e da literatura, de setores da economia da cultura para algo novo, que é a ideia da economia criativa.
  • Exemplo disso são os festivais, que não são mais centrados apenas na música, mas em oferecer um espetáculo de entretenimento e de experiências integradas também ao ambiente digital.
  • A nova geração é fascinada por easter eggs, e isso se reflete na forma como interagem com os seus ídolos. Quando a Pabllo Vittar, por exemplo, aparece com unhas muito trabalhadas, os fãs logo já sabem que vem coisa nova por aí.
  • O line-up dos festivais são um reflexo da democratização que as plataformas digitais trouxeram para a produção, divulgação e consumo da música.
  • Novos artistas conquistaram espaço e passaram a ser as principais atrações para a nova geração. Com isso, os artistas mainstream que repetidamente tiveram destaque nas programações passaram a ser secundários para o público.

A inteligência artificial não deve substituir artistas reais, porque a música é feita de sentimentos e opiniões baseadas em experiências reais. Esse é – e sempre foi – o elo de conexão com as pessoas.

  • Categorizar um artista como “bom ou ruim” não é tão simples e depende de qual aspecto está sendo analisado: a música produzida, a interação com os fãs, a experiência proporcionada e até mesmo com qual contexto social e cultural essa pessoa conversa.
  • E… quando falamos que algo é “bom ou ruim” estamos vendo o mundo sob lentes nostálgicas, baseadas em experiências que são anteriores às da novas gerações.
  • Enquanto Gilberto Gil foi a referência de ideal e música para uma geração, Emicida desempenha o mesmo papel para outra geração. Isso não significa que um é melhor que o outro. É apenas diferente.
  • …porque a música acompanha as transformações sociais, culturais e digitais. É pelo mesmo motivo que nunca ficará obsoleta, mesmo com tantas opções de entretenimento que o digital proporciona.

As redes sociais influenciaram também as produções musicais, com lançamentos de hits cada vez mais curtos. A ideia de Metaverso traz uma nova visão sobre o assunto: é possível consumir uma música curta e, ao mesmo tempo, estar inserido no ambiente e experiência de determinado artista, uma vez que estamos conectados o tempo todo.

  • A Economia da Atenção, ainda no sentido de hiperconexão, surge para falar sobre aquilo que valorizamos a ponto de merecer nosso tempo de interação. Quer um exemplo? Um livro de mil páginas pode parecer muita coisa para alguém, mas não para um fã. Game of Thrones tá aí para provar.
  • A música se recicla. É por isso que a nostalgia segue um ciclo quase previsível, no qual tendências de hits e modas de determinados gêneros musicais sempre retornam.

A conversa, no evento Cidade do Futuro, foi conduzida por: Claudia Gomes, artista plástica, Pamella Renha, comunicadora, apresentadora e gestora de marketing da cantora Luísa Sonza, Anderson Gurgel, jornalista e professor universitário da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Claudio Macedo, CEO do Allianz Parque, e José Maurício Conrado, Coordenador do Bacharelado em Publicidade e Propaganda na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O Futuro dos Games 

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Rodrigo Selback fala sobre eSports, Ubisoft Academy, oportunidades e profissões no mercado dos games

eSports podem ser considerados como esportes? Como a expansão da indústria dos games oferece novas oportunidades para as profissões? Existe espaço para a periferia nos campeonatos de eSports?

Rodrigo Selback, professor do curso de extensão em eSports na UCS, apresentador “Games e Profissões” da Ubisoft TV e curador de conteúdo da Campus Play (Campus Party), abordou esses assuntos e outros mais no painel Ubisoft TV – Games & profissões, no evento Cidade do Futuro. 

Enquanto bacharel de educação física e adepto dos esportes eletrônicos, Rodrigo afirma não haver dúvidas de que eSports são, sim, esportes.

“Quando a ministra da cultura (Ana Moser) diz que eSports não são esporte, vejo que muitas pessoas do mercado de games ficaram chateadas. Se por um lado o esporte tradicional fica doído porque o esporte eletrônico tem muito aporte financeiro, algo que não acontece em outras modalidades, o pessoal do esporte eletrônico também fica quando ouve isso”, disse.

O esporte eletrônico, em sua opinião, sempre se reconheceu como um esporte, mas não teve um movimento forte o suficiente para ser conhecido como tal por outros mercados ou para se aproximar, de fato, do esporte tradicional.

Existe ainda um longo caminho a ser percorrido para que o esporte tradicional e outros setores reconheçam todos os aspectos esportivos do esporte eletrônico. Para isso, é necessário que as pessoas se interessem em entender, com mais profundidade, do que os eSports são feitos.

Rodrigo explica que o esporte eletrônico tem elementos exatamente iguais a qualquer esporte tradicional, tais como coletividade, condicionamento físico e maior atenção no trabalho em equipe do que individual.

Esporte eletrônico e esporte tradicional são complementares.

“O jogador do esporte eletrônico, assim como no xadrez, precisa ter um bom condicionamento físico para ficar sentado durante horas. Caso contrário, a musculatura começa a ceder e a habilidade mental é prejudicada durante o jogo”, explica.

Indispensável também levar em conta os profissionais da saúde envolvidos no preparo físico e mental dos jogadores, como nutricionistas, psicólogos e personal trainers.

O mesmo vale para considerar as diferentes profissões envolvidas na construção dos campeonatos de eSports, passando pelo audiovisual e comunicação até setores jurídicos e administrativos.

O eSport olha para a periferia?

Jogos mobile free-to-play, como o FreeFire, democratizaram o acesso ao eSports e levaram, para as quebradas, a oportunidade de interagir com o esporte eletrônico e participarem de campeonatos.

Equipamentos e jogos eletrônicos são muito caros. No contraponto, games de celular free-to-playcomo o Free Fire deram espaço para a profissionalização de jogadores das quebradas brasileiras e a inclusão em campeonatos.

É necessário, porém, que o mercado nacional olhe com mais atenção para iniciativas e resultados que os eSports desempenham nas comunidades, afirma Rodrigo.

Profissões & oportunidades no mercado de games

A expansão da indústria dos games abriu espaço para novas oportunidades e profissões que são cada vez mais necessárias para sustentar o mercado que mais cresce na atualidade. Olha só alguns dados interessantes:

  • O total de vagas na indústria de games aumentou 5% entre 2021 e 2022.
  • As funções de nível inicial e júnior representam 16% de todas as vagas.
  • A demanda por profissionais sêniores aumentou 2,9%.

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