Bullying, depressão, solidão, raiva, tristeza e deslocamento. Tudo isso está presente na vida de qualquer adolescente ou jovem no mundo. Especialmente na escola, ambiente onde vários tipos de pessoas se misturam e interagem. É disso que o seriado do Netflix, 13 Reasons Why, fala.
A fase difícil da vida de um jovem.
Todos esses garotos e garotas ainda em fase de aprendizado. Alguns demoram mais para aprender, outros menos. E há aqueles que nunca aprendem a conviver em sociedade.
Para contar essa história que é inspirada em um livro (Os 13 Porquês, de Jay Asher), o seriado acompanha Hannah Baker, uma menina de 17 anos que comete suicídio e grava em fitas os 13 motivos os quais levaram a cometer essa atrocidade.
Nesta análise, portanto, separamos os pontos fortes e fracos do seriado em forma de tópicos. Vamos lá?
13 Reasons Why: Bom e ruim simultaneamente
Narrativa cheia de mistérios e que prende
Este é um seriado no geral bem escrito e bem dirigido. Prende do começo ao fim, com uma narrativa interessante e cheia de mistérios – um artifício chave para prender a atenção das pessoas.
Isso faz com que você queira desvendar tudo por trás do suicídio, o mais rápido possível, diferente do protagonista Clay, que ouve as fitas com calma e ao longo de vários dias.
Um episódio, um aprendizado
Como a história se passa em um colégio classe média/alta dos Estados Unidos, a gente tem a oportunidade de acompanhar a vida dos jovens e todas as merdas que eles passam durante o período da escola.
Muitas cenas e diálogos trazem reflexões e lembranças nostálgicas de quando éramos jovens ou da época da escola. E nos faz pensar em como esse ambiente, apesar de deslumbrante, também era muito nocivo.
Isso faz com que a cada episódio, e ao mergulhar nos acontecimentos e personalidades de cada um dos envolvidos no seriado, a gente aprenda alguma coisa de como ser uma pessoa melhor. E principalmente não ser um babaca.
Falando nisso…
Precisamos falar sobre babacas
Há babacas em toda parte. Ainda mais hoje em dia, que esse tipo de comportamento é até aplaudido, levando em conta discursos machistas, homofóbicos e xenofóbicos sendo disseminados nas redes sociais mundo afora.
Tem até candidatos políticos que defendem esse tipo de falta de noção e agressividade, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Ou gente famosa, como o José Meyer.
A “neandertalização” do homem moderno é um assunto preocupante, e precisa ser discutido.
Será que um ser primitivo desses não consegue entender que vivemos em uma sociedade?
Qual o argumento e motivo ele tem para assediar, invadir a privacidade do próximo, não ter o mínimo respeito? Esse ser gostaria que tratassem sua mãe, irmã, filha da mesma forma que ele trata os outros?
Esse tipo de comportamento, principalmente na escola, estraga a vida de muitas pessoas. Graças ao ego inflado de alguns, outros são chafurdados na lama, passados para trás, ou simplesmente transformados em seres invisíveis.
Tudo por causa da competição.
13 Reasons Why retrata muito bem como podem existir pessoas simplesmente escrotas no mundo. E como elas podem ser más e serem muitas. A ponto de causar um grande estrago na vida de outras pessoas.
É de parar e pensar. Nas atitudes. Em como você a vida, como se relaciona com os outros. No respeito, no companheirismo, no seu lugar no mundo.
Neste ponto de vista, é mais do que necessário que babacas de todo o mundo assistam esse seriado, para entenderem qual o papel deles na sociedade. Em como eles são devastadores.
O tedioso prolongamento
Assim como outras produções originais do Netflix, este seriado também sofre com a famosa “arrastada”. Ou seja, a narrativa é muito prolongada, com a adição de cenas que não necessariamente criam um ponto crucial na história ou na construção de personagens.
Clay, o protagonista que ouve as fitas gravadas por Hannah (cada uma corresponde a um capítulo), enrola horrores para descobrir toda a história.
Isso traz ansiedade para os espectadores, que querem saber logo o que aconteceu, mas precisa acompanhar lentamente o processo ao longo de compridos episódios.
Falta empatia com Hannah, sobra empatia com Clay
A história é muito interessante e realmente é imersiva. Porém, falha na criação de um elo de empatia com Hannah, a garota suicida.
Essa quebra na empatia com a personagem ocorre porque muitas situações são simplesmente incoerentes. A personagem age de forma um tanto absurda em muitos momentos, e não soa como agiríamos se estivéssemos na situação dela.
Há muitos momentos no seriado que representam muito bem isso, e que com certeza o expectador simplesmente se decepciona com as ações de Hannah.
Um exemplo disso é como ela sempre espera muito dos outros. Grita com Clay para ele sair, mas “queria” que ele não tivesse saído. Esperava que Clay a convidasse para algo, mas nunca se manifestou. Esperava que o conselheiro abandonasse suas tarefas para ir atrás dela, e assim por diante.
Uma das personagens mais legais e conscientes da série, Skye, a atendente do café, pontua bem Hannah. Diz que ela era uma pessoa que sempre ignorou ela e tinha um forte apelo pelo drama, sendo que todo mundo passa o que ela passou e nem por isso se suicida.
Veja bem. Não estou desvalorizando os sentimentos de Hannah, nem a depressão profunda que a atingiu. Apenas abrindo portas para uma discussão de que desistir da vida pelos motivos apresentados no seriado não é algo plausível.
Por outro lado, criamos uma incrível empatia com Clay, o garoto que ouve, reflete e age em relação as fitas gravadas pela garota.
Ao longo da série, observamos pela visão dele e dela como as coisas se desenrolam. E ele, como um cara extremamente tímido e nerd, não consegue se expressar muito bem. É daqueles caras que tem “medo” de garotas. Ou simplesmente não sabe se aproximar. Tem mais cautela e, principalmente, respeito.
Clay é um reflexo do garoto decente, que faz o possível para agradar todo mundo. E até por ser assim, vira alvo de Hannah. Ele é o escolhido para ser torturado durante todas as fitas, sendo que o seriado todo ele não entende por que está nelas. E a gente, assim como ele, só vai descobrir no 11º Episódio.
Final inconclusivo
Outro ponto que deixou a desejar foi o final. Nada conclusivo, para uma série que é inspirada em um livro único, sem sequências.
É uma história fechada. Qual o motivo de não a concluir e colocar os pontos nos “is”?
No final das contas, só fica a frustração para saber o que acontece com o criminoso do seriado e com todos os personagens em geral. Com o processo que rolava entre escola e os pais da Hannah, como eles ficaram.
Aliás, fica bem claro que haverá outra temporada no momento em que mostram os segredos do “jornalista” da escola.
Desnecessário.
Nem tudo é culpa dos outros
A questão aqui é que nem tudo é culpa dos outros. A lei de ação e reação é clara. Algo que você fez hoje pode refletir amanhã, e de forma pesada, na sua ou na vida dos outros.
No entanto, as pessoas, especialmente quando jovens, aprendem a se defender e passam por poucas e boas ao longo da vida. É instinto de sobrevivência lidar com as adversidades da vida e trabalhar da melhor forma possível para superar isso.
Hannah era uma garota linda, com uma bela e estruturada família. Pais ótimos. Tinha amigos, uma vida confortável e o interesse para ser quem ela quisesse.
Infelizmente, ações de terceiros caíram sobre ela com um impacto muito grande, e as coisas foram se agravando, pouco a pouco. Mas nem tudo recai sobre os outros. Mas sim em nós mesmos.
Temos que, primeiro, nos perguntar: o que podemos fazer para ser pessoas melhores?
Se houver dúvidas, crises existenciais, problemas, não recaia na escuridão de um coração vazio e solitário. Sempre haverá pessoas que podem ajudar. Seja a família, os pais, amigos ou até mesmo desconhecidos (como o caso do grupo de poesia no seriado).
Skye falou que Hannah era uma garota morta. De fato era. Faltava a ela a visão de si mesmo. De quem ela era e quem ela poderia ser.
O personagem Tony em um determinado momento diz que não há nada que eles poderiam ter feito. Hannah decidiu tirar a própria vida. Ele estava certo.
A verdade é que um assunto pesado como esse poderia ter sido tratado com mais seriedade. Profundidade.
Porém, o seriado funciona basicamente como muitos bestsellers. Romantiza para ganhar público.
Hannah levou em conta babacas, a opinião alheia, e subestimou o apoio dos pais, amigos e de quem a amava. Vivia em uma bolha. Morreu em uma banheira. Uma história triste, mas também estúpida.
13 Reasons Why
Duração: Episódios com média de 59 minutos
Elenco: Katherine Langford, Christian Navarro, Michael Sadler | Veja o elenco completo
Lançamento: 31 de março de 2017
Ótima conclusão dos fatos da série, realmente alguns Atos de Hannah não são críveis; após tudo que passou, ainda entrar na banheira naquela festa! O fato das coisas não terem tido uma boa amarração no final da série, é só para arrecadar dinheiro numa desnecessária segunda temporada…
Eu parei creio que no quarto episódio.
Como alguém que sofreu abusos por estar acima da média escolar, acima do peso e com sérias dificuldades de relacionamento interpessoal, alvo constante de piadas e maus-tratos de ‘colegas de classe’ a ponto de abandonar o fundamental e nunca cursar o médio, tendo terminado ambos por exame supletivo, e ainda assim, contra todas as expectativas, ainda estar aqui e cursando uma universidade, esse papinho de ‘me matei por causa do babaca que fotografou minha calcinha branca, por causa dos amigos que me deixaram pra namorar’ etc e tal não convence. Antes, revela a fraqueza existencial que ronda uma juventude com muito mais recursos na vida e com muito menos dificuldades nela, e que por isso cria uma realidade superdimensionada quando essas dificuldades surgem.
Por isso Zangief Kid é meu herói.