Cruella de Vil é uma das vilões mais icônicas e conhecidas das animações da Disney. E agora, ganhou um filme em live-action para explicar um pouco da origem e da juventude desta personagem que, ao mesmo tempo é muito caricata, tem também um lado sombrio.

A narrativa é extremamente divertida e dinâmica, o que torna facilmente o melhor filme em live-action criado pela Disney até agora.

Tudo começa discorrendo sobre a infância da personagem, suas dificuldades em se adaptar e a sua perda repentina, o que encrostou no coração dela um sentimento eterno de vingança. E, claro, a tornou em uma mulher rebelde, mas sempre obstinada a conseguir o que quer. Afinal, uma menina tão genial e talentosa perseguiria a sua ambição com afinco. E é isso que ela faz.

Há muitas cenas divertidas e personagens interessantes. Desde o pequeno cãozinho chiwaua com tapa-olho, até seus companheiros ladrões (Jasper e Horário) e, claro, a grande vilã da história – a estilista amargurada e narcisista chamada “A Baronesa”.

Apesar de Cruella ser bastante inconsequente e até criminosa, é uma personagem que gera simpatia, e torna-se a velha história de que a gente começa a gostar da vilã. E em uma época em que antagonistas muitas vezes fazem mais sucesso e são mais interessantes que os heróis, surge um filme extremamente interessante e cativante.

A direção, a filmografia, fotografia, cores, trilha sonora e especialmente o figurino tornam tudo muito vivo e dinâmico. Há grande foco no estilo.

Emma Stone está excelente no papel, e representa a personagem com maestria. Hora confusa, hora triste, hora vingativa, hora maluca. Cruella é de tudo um pouco, e usa a sua astúcia para se dar bem e superar seus problemas pessoais, ao mesmo tempo que constrói a sua fama baseada na sua genialidade e sagacidade.

Em meio a ótima construção de personagens, temos muitos eventos divertidos embarcados por uma trilha sonora magnífica que representa a Londres dos anos de 1970. Ali estão grandes clássicos de bandas como David Bowie, The Clash, The Stoogies, The Rolling Stones, Black Sabbath, Deep Purple, Supertramp, The Doors, Nina Simone e muito mais.

Há inclusive referências visuais diretas em personagens, como quando Jasper se veste no estilo Sex Pistols ou o alfaiate Artie com seu visual a lá David Bowie.

Um ponto que a Disney acertou neste filme é que não é nada bobinho. Ou seja, ele é feito com grande foco nos adultos que acompanharam as animações da Disney quando crianças. E as suas doses de obscuridade e assuntos intrigantes sobre a psique humana são altas. Quase podemos dizer que, de fato, não é um filme para crianças – apesar de certamente divertir os pequenos e não oferecer qualquer cena imprópria.

Interessante notar que o longa trata de assuntos sérios e transtornos que afetam e assolam a humanidade, e que certamente são ingredientes para criar um vilão da vida real.

A Baronesa, principal vilã do filme, apresenta uma personalidade narcisista e completamente sem vínculo emocional com outros seres humanos. Ações, diálogos e tudo o que gira em torno dela representa o quanto ela dá a mínima para outros seres humanos. Basicamente, os tratam como objetos, ou como obstáculos.

Essa falta de vínculo afetivo se estende não só para seus empregados, mas também para o lado familiar e materno. E é aí que encontramos a verdadeira crueldade em uma personagem.

Cruella, portanto, é o resultado de uma porção de ações que culminaram em uma vilã. Muito bem escrita e muito bem desenvolvida, por sinal.

Assim como vemos o desenvolvimento de Coringa (no filme com Joaquin Phoenix) como uma vítima e ao mesmo tempo protagonista da sua ruína, vemos Cruella da mesma forma neste longa. Com uma escuridão devastadora, apesar de sem violência e cenas explícitas como vemos no filme do vilão do Batman.

Este filme, portanto, é o resultado de uma magnífica modernização ao contar a história de uma das mais emblemáticas e macabras personagens da Disney. Imperdível.

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