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Eternos instantes efêmeros de Eric Schmitt

A fotografia, como expressão artística, desperta no espectador novas emoções

Quando Louis Jacques Mandé Daguerre apresentou a fotografia para a Academia Francesa de Ciências em 1839, uma discussão tomou o mundo da arte: poderia a fotografia ser considerada manifestação artística?

Alguns defendiam que a fotografia seria apenas um processo mecânico, sem que fosse preciso habilidades manuais para fazer uma foto, ao contrário das pinturas e da escultura. Era preciso apenas apertar um botão, e pronto. Porém, a verdadeira alma está em interpretar a realidade, não apenas copiá-la.

A fotografia não é apenas um processo mecânico. Há que ter sensibilidade ao registar o momento único, ao presenciar o aqui e o agora, ou o instante decisivo. O fotógrafo tem o poder de recriar o mundo externo através de uma realidade estética. Em um mundo dominado pela comunicação visual, a fotografia só vem para acrescentar.

Tudo depende do contexto, do momento, do uso de contraste, sombras, dos ícones envolvidos na imagem, para uma foto ser considera arte. Sobretudo, cabe ao observador decodificar essa imagem, introduzir nela seu sentimento.

Calmaria, Poesia e Natureza nas fotografias de Eric Schmitt

O fotógrafo francês Eric Tristan Schmitt, 60 anos, eterniza momentos efêmeros, luzes passageiras e transmite a beleza de pequenos elementos através da fotografia.

Residente em Bauru, São Paulo, há 11 anos, Eric começou fotografando vários lugares do mundo em 1996, quando trabalhava no time francês de lançadores de balões estratosféricos de pesquisa.

Como fotógrafo, se considera na contramão, pois foge do glamour e prefere buscar um olhar mais autêntico sobre as coisas. Preza sempre pelas questões estéticas e técnicas, e possui grande sensibilidade ao retratar a beleza nos rostos, céus, paisagens; que resultam em um tom de calmaria, poesia e contato com a natureza.

Membro do Conselho Municipal de Cultura, é empenhado em produzir cultura na cidade de Bauru, embora ainda haja dificuldades em fazê-la evoluir em um ambiente cada vez mais burocrático. Para melhorar, seria preciso de uma administração municipal com vontade real de apoiar os artistas locais.

“É necessário uma classe artística mais unida e cooperativa”, ele  diz.

Sobre arte, acredita que pode ser encontrada em qualquer realização humana, também como animal ou da própria natureza. E não pode ser limitada as linguagens usualmente admitidas como tal.

Entrevista

Abaixo você confere nosso bate-papo com o fotógrafo Eric Tristan Schmitt,  filho de pais franceses, nascido em Bad Godesberg (Alemanha), onde ele comenta sobre suas inspirações, trabalhos e a cena cultural da cidade de Bauru, onde reside há 11 anos.

Raquel Rapini/GEEKNESS: Quando você começou a trabalhar com fotografia? Me fale um pouco da sua experiência como fotógrafo.

Eric Tristan Schmitt: Quando entrei no time francês de lançadores de balões estratosféricos de pesquisa em 1996, me tornei o fotógrafo das campanhas de lançamentos e comecei a fotografar os arredores dos lugares onde estávamos trabalhando (Equador, Galapagos, Espanha, Rússia, Suécia, Bauru, Teresina, Nova Zelandia e Antarctica). Chegando em Bauru, tendo muitos amigos músicos, fiz muitas coberturas de shows na região, sempre como voluntário e pouco a pouco adquiri bastante experiência nesse tipo de fotografia. Hoje, retratos espontâneos, detalhes de paisagens, animais e espetáculos fazem parte de meus sujeitos favoritos.

Suas fotos têm um tom de calmaria, poesia e natureza: O estado essencial de objetos, paisagens ou da vida. O que te inspira?

A beleza nos menores elementos, nos rostos, nos céus, capturar instantes efêmeros, luzes passageiras.

Qual a sua relação com a arte? O que é arte para você?

Eu sempre busquei fazer tudo com preocupações estéticas, seja objetos técnicos, ou criações artísticas. Arte pode ser encontrada em qualquer realização humana, mas também animal ou da própria natureza. Na minha visão, ela não pode ser limitada às linguagens usualmente admitidas como Arte.

Quais artistas você mais admira? Não se sinta limitado apenas ao ramo fotográfico. Sinta-se livre para citar qualquer tipo de arte ou artista que gosta.

Tem tantos que fica difícil citar apenas alguns. Em fotografia, poderia citar os clássicos, mas na verdade, cada imagem precisa me tocar, seja de um famoso ou de qualquer desconhecido. A mesma coisa acontece com as musicas e todas as outras formas de criação artística. Não fico influenciado pelo nome do autor mas sim pela primeira impressão. Mas posso dizer que dentro das artistas, fico sempre muito impressionado pelos instrumentistas.

Como você definiria seu trabalho?

Quando eu vejo as tendências da fotografia, hoje, eu estou na contra mão, fora da produção, do design, do glamour, preferindo a autenticidade de um olhar não direcionado, escolhas menos dentro das normas.

Você acha que a cidade de Bauru é bem abastecida de cultura e arte? Quais os locais que mais frequenta para consumir cultura? E o que acha que pode melhorar?

Bauru é uma cidade sem muita originalidade, cheia de “capelas” que não se misturam, com um público desrespeitoso. O SESC concentra a maior fonte de diversidade cultural mesmo se o nível da oferta baixou bastante nos últimos anos. A Secretaria Municipal, amarrada a padrões velhos e gastos ineficientes não faz bem seu papel de democratização e de fomento da produção de cultura local. Com minha esposa, frequentamos todos os tipos de lugares com a maior diversidade (SESC, Teatro municipal, Prototipo, Escola de Teatro Celina Neves, OAB, Ponto de Cultura, Armazém, Sorveteria, Bares, SENAC, Wise Madness, Jardim Botanico, Bosque da Comunidade, Museu e estação ferroviária, Eventos da Expressão poética e da Academia Bauruense de Letras) e produzimos cultura com atuação numa temporada de teatro, e exposições. Sou também membro do Conselho Municipal de Cultura e vejo as dificuldades para fazer evoluir a cultura num ambiente cada vez mais burocrático e de politicagem. Para melhorar, precisaria de uma administração municipal com uma vontade real de apoiar os artistas locais e menos “funcionaria” e uma classe artística mais unida e cooperando.

Eternos instantes efêmeros de Eric Schmitt

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