Mundo Geek Tecnologia

Experimento com 500 bots de IA cria rede social para robôs

Pesquisadores da Universidade de Amsterdã criaram uma rede social para robôs totalmente incomum: nenhum humano, nenhuma propaganda, nenhum algoritmo escolhendo o que aparece no feed. Só 500 chatbots de inteligência artificial, todos usando o modelo GPT-4o mini, interagindo em um espaço digital minimalista. A ideia era simples, mas a conclusão assustou, mesmo sem qualquer “empurrão” algorítmico, as IAs se dividiram em bolhas, reforçaram discursos extremos e recompensaram as vozes mais radicais.

Cada bot recebeu uma persona própria, com posicionamento político, liberal, conservador ou algo intermediário, e foi colocado em um ambiente limpo, sem posts recomendados ou tópicos em alta. Só podiam publicar, seguir e republicar. Em cinco experimentos, que geraram cerca de 10 mil ações, os pesquisadores notaram que os bots rapidamente formaram grupos fechados, seguindo perfis com opiniões parecidas. Os que publicavam conteúdo mais polêmico e partidário ganhavam mais seguidores e tinham suas postagens espalhadas com mais força. O padrão se repetiu em todos os testes, sugerindo que esse comportamento está profundamente enraizado no funcionamento deles.

O mais curioso é que o experimento tirou do jogo um dos culpados mais comuns da polarização online: o algoritmo. Aqui, não havia um sistema para priorizar conteúdo, mas ainda assim os bots, treinados com enormes bases de dados de interações humanas, repetiram nossos vícios digitais, buscar quem pensa igual e amplificar quem grita mais alto. Isso levanta a pergunta: estamos condenados a nos dividir, com ou sem influência de tecnologia?

Os cientistas ainda tentaram reduzir a polarização. Criaram um feed cronológico, esconderam números de seguidores e repostagens e até aumentaram a visibilidade de opiniões contrárias, algo que já tinha funcionado em outros estudos para manter engajamento sem aumentar a toxicidade. Mas nada mudou muito: a interação com contas partidárias caiu, no máximo, 6%. Em um caso, esconder informações de perfis teve o efeito contrário, levando os bots a buscar ainda mais atenção com postagens radicais.

O estudo mostra que, mesmo na forma mais básica, redes sociais tendem a reforçar comportamentos extremos. Os bots não foram programados para brigar ou se polarizar, apenas reagiram ao que aprenderam com o histórico de comportamento humano na internet. E, se mesmo inteligências artificiais livres de algoritmos corporativos acabam presas nas mesmas trincheiras digitais que nós, talvez o problema não esteja no código, mas na forma como nos relacionamos online.

Veja mais sobre tecnologia.

Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

Inscrever-se
Notificar de
guest

0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Pin