Fluam minhas lágrimas, emanem da fonte!
Deixem-me, para sempre exilado, a lamentar;
Onde canta sua infâmia a ave negra e triste;
Deixem-me viver com seu pesar.
Muito antes de Matrix, Phillip K. Dick escrevia devaneios sobre realidades alternativas. Diversas de suas obras até se tornaram filmes, como Minority Report, O Impostor, O Vingador do Futuro são alguns exemplos. Fluam Minhas Lágrimas, Disse o Policial é mais uma dessas obras que trabalham com universos alternativos. O livro foi publicado pela primeira vez no Brasil em 1980, com o título Identidade Perdida, e foi relançado pela editora Aleph em 2013.
Em Fluam Minhas Lágrimas, Disse o Policial, tudo começa quando Jason Taverner, um apresentador de TV e cantor mega famoso, acorda em um hotel sem documentos, bagagem, apenas com um maço de dinheiro no bolso. A partir daí, ele precisa descobrir o que aconteceu, pois não há qualquer registro civil a seu respeito, além de ninguém mais conhecê-lo.
É mais ou menos como Bourne, de Robert Ludlum, só que ao contrário. Ao invés de fugir das pessoas que o conhecem porque não se lembra de nada, Taverner lembra de toda a sua existência e vive em um mundo o qual ele desapareceu.
Phillip K. Dick conta a história em um ambiente futurista, com carros voadores e ambientes hostis, onde a polícia controla a sociedade com câmeras e escaneamento de identidades e estudantes travam uma guerra contra o estado. À medida que Taverner busca sua identidade neste mundo caótico, ele se depara com diversos personagens excêntricos, que vão desde uma falsificadora de documentos louca por sexo até mulheres bem sucedidas e extremamente manipuladoras.
A história se ramifica em várias outras pequenas narrativas: acompanhamos os policiais que perseguem Jason e as agonias do protagonista em sua fuga insana. É interessante notar que caminhamos com Taverner em suas próprias loucuras e cada vez mais perguntas vão sendo criadas, sem qualquer indício de resolução.
Qual é a realidade? A vida suja e precária ou o luxo de ser uma celebridade? Por toda a leitura você vai se perguntar: “Onde isso vai dar?”, e aí começa a ler mais e mais páginas em busca de uma solução para a situação angustiante de Taverner. Depois de muito martelar essas dúvidas, e passar apuros junto do personagem, no final da história temos não só uma explicação profunda e filosófica, mas também uma resolução sagaz e surpreendente — especialidade do autor, que sempre conclui suas obras com genialidade.
Fluam Minhas Lágrimas, Disse o Policial é uma aventura que fala sobre as emoções e o comportamento humano em situações extremas. A história começa com o questionamento: o que você faria se acordasse um dia e ninguém no planeta te conhecesse? Sem família, amigos e até sem documentos? Em um mundo de repressão policial onde há campos de trabalhos forçados, fotos em 3D, chips, transmissores, reconstrução de DNA e bombas-semente.
Tudo isso ao mesmo tempo que nos faz questionar o que é ou não real. Com certeza uma das obras de K. Dick que mais proporciona momentos de reflexão depois de ser finalizada.
Nota: 4/5
Fluam Minhas Lágrimas, Disse o Policial
Tradução:Ludimila Hashimoto
Edição:1ª
Ano:2013
Número de páginas:256
Acabamento:Brochura
Formato:14x21cm
Peso:0,250kg