Há 25 anos, David McMillan documenta como está Chernobyl em suas viagens até a chamada zona de exclusão, região onde a radiação emitida pelo desastre nuclear chegou a ser 500 vezes maior que a bomba atômica de Hiroshima.

O principal cenário das fotos é em Pripyat, cidade localizada a 4 quilômetros da usina nuclear de Chernobyl. Condenada ao isolamento pelos próximos 3 mil anos, a cidade mostra o que ficou para trás de seus 50.000 habitantes: pertences, imóveis, locais de trabalho.

Criada para ser um paraíso da então União Soviética, a cidade foi considerada modelo pelo restante da nação russa. Hospitais, jardins de infância, escolas, cinemas e piscinas públicas hoje constroem um cenário digno de filme pós-apocalíptico.

Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Naufrágio de um barco no rio de Pripyat, 1998

As instalações foram pensadas para seus habitantes jovens, cuja maioria trabalhava na usina nuclear. Algumas das estruturas ainda estavam em construção quando aconteceu a tragédia, e nunca foram usadas.

Uma roda-gigante amarela, hoje abandonada, foi projetada para um importante feriado soviético celebrado no dia 1º de maio, e concluída pouco antes da explosão do reator, no dia 26 de abril de 1986. Um dos cenários que David faz questão de registrar toda vez que visita a região.

Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Roda-gigante, Pripyat, 1994
Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Roda-gigante, Pripyat, 2004

O tempo parou em Chernobyl, mas lá as coisas parecem deteriorar rapidamente, como revela o fotógrafo. Bandeiras dos países da URSS hasteadas no corredor de uma escola se tornaram irreconhecíveis ao longo dos anos.

Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Bandeiras hasteadas em uma pré-escola, Pripyat, 1994
Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Bandeiras em uma pré-escola, Pripyat, 2003
Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Bandeiras em uma pré-escola, Pripyat, 2012

Além do desastre, David registra um museu da história soviética, que teve fim em 1991. Historiadores dizem haver uma ligação direta entre a queda da URSS e o desastre nuclear.

O retrato de Vladimir Lenin, líder da Revolução Russa (1917), se encontra totalmente apagado em 2009, quando David o registrou novamente.

Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Retrato de Lenin, Pripyat, 1997
Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Retrato de Lenin, Pripyat, 1999

Piscinas públicas aparecem secas e em decomposição em poucos anos. Vegetações tomam conta de construções em ruínas.

Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Piscina pública, Pripyat, 1996
Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Piscina pública, Pripyat, 2003

O fotógrafo viajou para Chernobyl pela primeira vez em 1994. Na época era muito difícil encontrar alguém disposto a leva-lo até o local.

Eventualmente, ele conheceu um homem que vivia em Kiev, capital da Ucrânia, 144 km da zona de exclusão, que concordou em acompanha-lo.

David passou 5 dias explorando as paisagens acompanhado do motorista e um intérprete, com a liberdade de fotografar e andar por onde quisesse.

Inicialmente, sua intenção não era registrar sempre os mesmos lugares, foi algo que aconteceu naturalmente.

Há 25 anos fotógrafo documenta como está Chernobyl
Carrinhos de choque, Pripyat, 1994
Carrinho de choque, Pripyat, 2008

Além do perigo de estar exposto à radiação, ele temia que os prédios desabassem sobre sua cabeça. Mas ele não apresentou nenhum problema de saúde relacionado às viagens. “Até onde sei, estou bem”, diz.

Estar em contato com Chernobyl trouxe muitas lições para a vida do fotógrafo: “Você se sente grato pela vida que tem”.

Desde 2010 o local abriu as para turistas curiosos. Após a exibição da série da HBO sobre Chernobyl neste ano, o turismo na região cresceu rapidamente.

Segundo Sergiy Ivanchuk, diretor da agência de turismo de SoloEast, a companhia viu um aumento de 30% no turismo em Chernobyl, e as reservas para o tour na zona de exclusão para os próximos meses cresceram 40%, comparadas ao ano passado.

A tendência de visitar lugares inóspitos, perigosos e que já foram palco de eventos históricos violentos é conhecida como dark tourism.

Na série Turismo Macabro, da Netflix, o jornalista David Farrier explora os pontos turísticos incomuns que pessoas buscam para saciar a curiosidade.

Conhecer lugares como o memorial do holocausto, em Auschwitz, por exemplo, é uma maneira de se relacionar com eventos históricos e poder compreende-los com uma experiência mais profunda. E isso é muito bom.

No entanto, assim como a memória de tantos locais associados à história estão sendo desrespeitados pela era dos smartphones e selfies, Chernobyl se tornou um ponto turístico com intenções deturpadas. Até despedidas de solteiro têm sido realizadas por lá.

Berçário de uma pré-escola, Pripyat, 2004

Em Chernobyl, trabalhadores sacrificaram a própria vida para conter os danos do desastre, e se calcula que as mortes e diagnósticos de câncer decorrentes da contaminação pela radiação ultrapassam 250 mil.

O fotógrafo se preocupa com esse turismo crescente e suas motivações. E seguirá compartilhando seu testemunho sobre uma região onde descansam memórias de milhares e o sonho de uma nação.

Mural próximo a uma pré-escola, Pripyat, 2006
Busto de Lenin, 1998
Sala de aula, Pripyat, 1994
Sala de aula, Pripyat, 2005
Esculturas de massa de modelar, Pripyat, 1995
Esculturas de massa de modelar, Pripyat, 2009
Brinquedos em uma pré-escola, Pripyat, 1997
Brinquedos em uma pré-escola, Pripyat, 2011
Quadra de basquete, Pripyat, 2009
Rua em Pripyat, 1996
Balanços de pneus, Pripyat, 2002
Sala de música em uma pré-escola, Prypiat, 1995
Sala de música em uma pré-escola, 2009
Vista para a usina nuclear de Chernobyl, Pripyat, 1994
Vista para a usina nuclear de Chernobyl, Pripyat, 2011
Registros médicos de pacientes do hospital de Pripyat, 2002
Mural no corredor de uma escola, Pripyat, 2003
Entrada do Palácio da Cultura, Pripyat, 1998
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