Após cinco temporadas e desdobramentos mais complexos que novela mexicana, La Casa de Papel encontrou o seu final nesta última sexta-feira através da Netflix. Prometendo muita ação, emoção e as melhores cenas que a saga podia oferecer, Álex Pina tinha declarado diversas vezes que ela continha o melhor do que o seriado tinha a oferecer. E se o próprio criador fala isso, uma atenção do público e dos fãs era no mínimo merecida para o desfecho.

Envolvendo todos em dois grandes assaltos, algumas mortes pelo caminho e diversas reviravoltas mirabolantes, foi criado não apenas um verdadeiro império do crime, mas foi remoldado um conceito que está em nossa sociedade há séculos. De Robin Hood a várias outras obras, o ato de ir contra o sistema cometendo crimes e desafiando cada lei possível, sem perder o charme da humanidade, aqui foi extremamente bem-explorado e nunca esquecendo o principal motor: seus personagens.

Tóquio, Denver, Rio, Helsinki, Palermo, Lisboa e todos os demais participantes do último ato tiveram o seu momento para brilhar e relembrar de toda a sua jornada até ali. Isso em meio à ação e de todo grand finale que foi prometido para La Casa de Papel. Nem mesmo Pamplona, o novato, escapou de receber certo destaque nos episódios, ganhando até uma trama própria. Isso é um grande mérito, principalmente quando vemos diversas obras deixando tramas de lado em prol da megalomania.

Mesmo com o seu destino definido na Parte 1, Tóquio se mantém presente

Sem se perder no caminho

Vamos fugir um pouco do preconceito e pensar em aspectos técnicos. Sabe o quanto pode ser difícil oferecer um desfecho onde respeita os próprios personagens, trama e se mantém fiel à ideia original? Quantas franquias de cinema, outros seriados e até de jogos de videogame se perderam em relação a isso são incontáveis. Porém, aqui eles conseguiram não apenas dar uma sequência a todos estes elementos, mas ainda apresentar novas relações para deixar qualquer fã preso no sofá até o último minuto.

A Parte 2 da quinta temporada de La Casa de Papel é dividida em cinco episódios, com a duração do último chegando bem próxima a de um longa-metragem. Neles acompanhamos todos os passos do Professor para tirar o ouro da Reserva Nacional da Espanha e seus membros do bando que estavam lá dentro. Contando com um contingente interno e externo, ambos os lados enfrentam ameaças que surgem subitamente para prendê-los contra a parede. Isso ainda dando tempo para explorar novas relações.

Sierra, que acabou parindo no próprio covil do mandante do crime na primeira parte, reluta bastante em aceitar a sua situação como uma fora-da-lei e cabe a ela e o chefe da quadrilha terem o seu próprio momento para gerar uma resolução entre ambos. O mesmo vale para Rafael, o filho de Berlim que tem uma rota diferente contada no ponto de vista do passado e que se entrelaça ao presente dos personagens.

Sierra e o Professor ainda terão muitas contas a acertar

E se você acha que isso tira tempo do próprio assalto, muito longe disso. Vemos novos desdobramentos tanto dentro da Reserva Nacional quanto no comboio montado por Tamayo, continuando o grandioso jogo de xadrez de ambos os lados. Inclusive o momento visto nos trailers, qual mostra o bando sendo preso no local e o Professor chegando são tão impactantes quanto deveriam e te fazem ter aquela sensação de “acabou, é isso”. Será que ainda há alguma carta na manga ou eles encerram suas jornadas ali? Você carregará essa dúvida por um tempo, já te adianto.

Agora imagina tudo isso rolando em meio à ação. Perseguições de carro, invasão de esconderijos, uma sequência inédita de sequestro de reféns e até uma tentativa de fuga marinha podem ser esperadas e todas tem o seu grau de importância dentro do plano intocável em La Casa de Papel. A escala de tudo começa a aumentar e torna as coisas mais difíceis aos espectadores, que estavam mal-acostumados com sequências mais tensas acontecendo apenas dentro dos assaltos. Sacudir as coisas é bom, mas os diretores fizeram um tremendo de um terremoto e, se você sofre ansiedade, recomendo assistir com um remédio para se acalmar ao lado.

Dentro e fora da Reserva Nacional acontecerão diversas reviravoltas

O fim que La Casa de Papel merecia

Vamos ser sinceros, a série teve inúmeros altos e baixos. Enquanto o primeiro roubo, lá das primeiras temporadas, tinha o trabalho de impactar o público para garantir uma sequência, o segundo exigia uma justificativa para existir. Essa razão surge sim, com essa nova história tendo um pretexto para ser contada e gerar um verdadeiro final para os seus personagens. Em pequenos diálogos vemos o quanto algumas coisas estavam inacabadas e aqui encontram um ponto. Enquanto a Parte 1 não entrega o que precisamos e balança a confiança dos fãs, a Parte 2 não se prende às costumeiras enrolações e entrega momentos impactantes a todo o tempo.

É difícil escrever algo aqui sem dar spoilers para quem ainda não assistiu, mas há um diálogo muito bonito e que torna a experiência mais tranquila entre o público e a série. Berlim, Professor e Rafael conversam sobre assaltos, sobre relações familiares e sobre como tudo começou com o patriarca da família, te fazendo compreender todas as motivações que levaram eles até o momento final. Um papo descontraído e tão cheio de alma que mesmo após ver tudo até o fim, permaneceu ali para reflexão.

Rafael e Tatiana retornam ao presente e amarram a trama

Não vou entrar aqui no âmbito de discutir se La Casa de Papel, no geral, foi uma boa série ou não. Se o fim é bom ou não. Na verdade, isso cabe a cada um. Porém, é inegável o papel que eles exerceram sobre o público e a plataforma de streaming atualmente. E eles honram isso entregando um desfecho digno e que respeita tudo mostrado até aqui. Se você gostou do trajeto até aqui, o grand finale será ainda mais emocionante. Ainda que já existam planos para um spin-off com Berlim e uma versão coreana da série, Álex Pina foi bem categórico ao especificar que o formato que conhecemos encerrou ali e é exatamente o que nos mostra.

Tudo indica que não veremos mais os jalecos vermelhos por aí, mas o legado das máscaras de Salvador Dali continuará. Com grandiosidade, a jornada de Professor, Lisboa, Palermo, Rio, Bogotá, Marselha, Denver, Estocolmo, Helsinki, Pamplona, Manila e dos inesquecíveis Tóquio, Nairóbi, Moscou e Oslo chegaram ao fim. Porém, o legado deles vai permanecer dentro de cada um daqueles que acompanharam a aventura. A frase final é o acordo assinado que nos levará: “Vocês são a Resistência”. Mantenha a série em sua memória, continue a ser sincero com quem você é e trate de nunca deixar de ser o último pilar contra aquilo que acha errado.

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