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Em certo momento de Perdido em Marte, Mark Watney (Matt Damon) olha para a câmera que o filma e diz “I’m gonna have to science the shit out of this”. Basta essa cena para entender todo o tom do novo filme de Ridley Scott, uma ficção que passa muito longe de seus outros trabalhos (Alien, Blade Runner, Prometheus…), e usa um tom leve para contar uma história que tinha tudo para ser pesada.

O filme narra a jornada de Mark após sofrer um acidente na saída emergencial que sua equipe é obrigada a fazer em Marte, deixando-o sozinho no planeta vermelho, tendo que se virar para sobreviver até que algum tipo de resgate seja feito, o que pode levar até 4 anos. Cabe então ao astronauta especialista em botânica usar todos os seus conhecimentos para estender suas chances de sobrevivência até que a NASA surja com uma solução.

A história de superação no espaço não é nenhuma surpresa, assim como as viradas que a natureza dá em você nessas situações (pegue Gravidade e Interestelar como exemplo), mas aqui nós vemos essa proposta ganhar um ar bem humorado, que trata de quase anular o drama ao longo do filme (os poucos momentos que ficam são graças a boa atuação de Matt Damon). As piadas aparecem durante o filme inteiro, indo das básicas de linguajar obsceno, até outras envolvendo Senhor dos Anéis, super heróis, ou músicas dos anos 80, atingindo um público muito maior com isso.

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E atingir um público maior parece realmente ter sido a ideia de Perdido Em Marte. O roteiro torna tudo bem próximo de um “Space for dummies”, explicando tudo de uma forma fácil de entender, sem complicações ou um didatismo mais técnico, usando o humor para ajudar nisso. Boa parte das explicações não acaba pesando (afinal, é mais fácil explicar que você plantou batatas usando seu próprio cocô como adubo, do que uma viagem através de um buraco negro e a entrada em uma dimensão paralela), apesar de uma ou outra acabar soando idiota demais nesse caminho, destoando até mesmo do humor proposto.

Infelizmente, essa proposta de explicações e papéis claros abre espaço para um dos poucos erros claros do filme: o excesso de personagens. Há um personagem para explicar cada situação, para servir como ponte entre público e história a todo momento, muitas vezes sem qualquer utilidade além da explicação. O personagem de Donald Glover é um exemplo claro, e isso torna boa parte das cenas em Terra dispensáveis, já que trazem uma profusão de rostos conhecidos (um cast invejável e bem diversificado), mas sem qualquer profundidade ou chance de brilhar por mais do que uns poucos segundos. Além disso, da equipe de astronautas, praticamente todos são simples demais, estando ali apenas para uma cena ou ação específica no roteiro, que se mostra exagerado neste sentido.

Tirando isso, Perdido em Marte é uma diversão das boas, uma ficção científica leve, que traz aquele velha história da superação de adversidades diante da morte e do desconhecido. É positivista, faz uma propaganda boa da NASA e deixa uma mensagem feliz pro público. O visual deslumbrante de Marte (aliado a bons planos da paisagem, muitas vezes demonstrando a pequenez do personagem no ambiente), e a ótima trilha sonora ajudam o espectador a sempre ficar presente, diminuindo um pouco o cansaço por conta da duração do filme (poderia ser um pouco mais curto).

Seja pela ciência ou pela comédia, Perdido em Marte não é um desses filmes que vai te fazer questionar a vida, o universo e tudo mais, mas vai trazer umas horinhas de boas risadas e uma boa aventura espacial, é o tipo de filme que reacende (ou acende) o amor de alguns pela ciência, pela exploração espacial, e só por isso já vale a pena.

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perdido-em-marte-críticaPerdido em Marte

Diretor: Ridley Scott

Roteiro: Drew Goddard

Duração: 141 minutos

Elenco: Matt Damon, Jessica Chastain, Kristen Wiig, Jeff Daniels, Michael Peña, Sean Bean

Lançamento: 01 de Outubro de 2015

Autor: Guilherme Souza

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