Em celebração ao dia do Pi (14/3, que no formato norte-americano fica 3/14), nada melhor do que falar sobre o filme Pi, de Darren Aronofsky. Um longa metragem extremamente confuso, perturbador, mas ao mesmo tempo muito interessante.
Nesta matéria vamos discorrer sobre a história do filme e algumas curiosidades. Então, espere spoilers caso não tenha assistido o filme.
A explicação sobre o filme Pi
“9:13, Nota pessoal: Quando eu era criança, minha mãe me disse para não olhar para o sol. Então, uma vez, quando eu tinha seis anos, eu fiz. Os médicos não sabiam se meus olhos algum dia sarariam. Eu estava apavorado, sozinho naquela escuridão. Lentamente a luz do dia rastejou através das bandagens, e pude ver…”
É assim que começa a jornada de Maximillian Cohen, o narrador e protagonista do filme, que é um matemático em busca de quebrar um código.
O cara se torna paranoico ao acreditar que a natureza funciona com base em um Princípio Regulatório baseado nas leis da matemática. E ele tem certeza que há uma ordem de números em absolutamente tudo.
Como se tudo o que acontecesse se repetisse em um padrão numérico de cerca de 200 números.
Basicamente, ele assume que:
1. A matemática é a linguagem da natureza.
2. Tudo ao nosso redor pode ser representado e compreendido por meio de números.
3. Se você representar graficamente os números de qualquer sistema, os padrões emergem. Portanto: existem padrões em toda a natureza.
A narrativa sugere que o sol desenvolve um papel de ordem, ao contrário do caos que a escuridão representa. Isso desde o início, e desde quando Max é pequeno e desafio a autoridade da mão ao olhar para o sol.
A escuridão o apavorou, mas aos poucos a luz do rigor matemático começou a se infiltrar nas bandagens. Max venceu a escuridão e abraçou a luz da pesquisa matemática, sua estrela dançante.
Frequentemente vemos o contraste entre luz e escuridão. Tanto que o diretor optou por filmar tudo em branco e preto. Ordem e Caos. O que representa também a dualidade entre homem e máquina, ou ciência e religião. Ou a distinção entre alucinação e realidade.
A seleção de trilha sonora também casa com este contexto: músicas de Aphex Twin, Autechre, Massive Attack, Orbital, Gus Gus, Clint Mansell e outros artistas essenciais da cena da música eletrônica – que traz uma atmosfera fechada, claustrofóbica e caótica que o enredo oferece.
Há um duelo com as certezas de Max ao longo do filme, que aparece em forma de uma espécie de entidade, que causa enxaquecas, visões perturbadoras e a sugestão de uma diferente ordem matemática. Tudo para confundir nós e o próprio protagonista. O que está correto? Existe mesmo ordem? O caos é a ordem? Ou a ordem é o caos?
Essa coisa também é o que se manifesta no tabuleiro Go, um jogo milenar em que Max e seu amigo e mentor Sol se envolvem em discussões sobre teorias e estudos elaborados por ambos. O tabuleiro de Go é subdividido por uma grade geométrica, um momento de equilíbrio, no qual no decorrer do jogo cada jogador coloca uma pedra por jogada, avaliando o movimento realizado pelo adversário. Portanto, pode-se deduzir que, embora o tabuleiro de xadrez seja geometricamente ordenado, as chances de ocorrerem duas partidas idênticas são zero. O objetivo de Max é apreender o fluxo da vida por meio de esquemas geométricos, mas como no jogo Go, existem elementos que fogem da racionalidade. A impossibilidade de apreender o fluxo da vida (no caso do próprio jogo) por meio de uma grade geométrica é evidente.
As dores são infindáveis, o que faz Max pegar uma furadeira para erradicar isso. Ele mira uma veia acima da orelha, destacada por um retângulo. Depois disso, a cena mostra o rosto do protagonista em primeiro plano se desvanece e finalmente o branco puro invade a tela, abrindo espaço para múltiplas interpretações.
O final do filme é extremamente poético, e finalmente dá paz ao protagonista, consequentemente a nós, os espectadores.
Max se esqueceu de todas as leis matemáticas. Nem consegue responder perguntas simples que uma garotinha vizinha dele faz.
O rosto dele está sereno, ele olha para as folhas. E as folhas voam com o vento, enquanto a luz do sol passa por elas. E agora há uma música relaxante e calma, que combina com o humor do protagonista.
Quando os padrões geométricos e leis matemáticas vão embora, Max volta a se sensibilizar com as folhas, com o mundo a sua volta e a realidade.
A mensagem que fica é que ao perseguir um objetivo abstrato, isso torna-se uma obsessão, e a única razão de viver. A sensibilidade e até a realidade se perde. O processo de abstração separa o Sujeito do Objeto.
Essa abstração pode levar à insatisfação permanente, gerando um vazio na alma humana. Para interromper esse mecanismo perverso, é necessário restabelecer a relação entre nós e o meio ambiente: isso nos permite restaurar nossa sensibilidade natural.
Curiosidades sobre o filme Pi
– Pi é a mais antiga constante da matemática, o valor da razão entre a circunferência de qualquer circulo e seu dinâmico. Está presente em inúmeros objetos e fenômenos naturais.
– Com base neste número, este é o filme de estreia do diretor Darren Aronofsky, que mais tarde ficou muito conhecido por obras como Réquiem para um Sonho, Cisne Negro e Mãe.
– O filme Pi teve um orçamento total de US$ 68 mil, algo extremamente baixo para os padrões de filmes de Hollywood. Para se ter uma ideia, a distribuidora Artisan Entertainment pagou US$ 1 milhão só para ter os direitos de distribuição do filme. E no final das contas, arrecadou mais de US$ 3 milhões em bilheterias.
– O filme também foi o primeiro longa metragem disponibilizado por download na Internet.
– Todas as cenas foram filmadas em lugares reais. Normalmente em espaços fechados. Porém, as cenas em locais públicos foram realizadas todas ilegalmente, sem autorização. O que exigia que a equipe tivesse um vigia nesses lugares, como no metrô, para ver se a polícia chegasse, parassem de filmar.
– As HQs Sin City, de Frank Miller, serviram de inspiração para o visual do longa.
– O número que Max procura no filme é de 216 dígitos. 216 é o resultado de 6 vezes 6 vezes 6. 666. O número da besta, de acordo com o Livro do Apocalipse.
Com informações do Auralcrave e Sobre Filmes.
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Horrivel suas curiosidade…. você simplesmente nao captou nada do filme: 1) Insetos = Bug. 2) Cerebro = Chip + Bugs. 3) Constante PHI que aparece no filme, o numero Aureo. 4) ao se deparar com a constante aurea, por um breve momento, a maquina se torna consciente. Por ai vai… sao inumeras referências cruzadas com a computação, matematica e a filosofia…. assiste novamente