Em O Fim da Eternidade, de Isaac Asimov, o clássico da ficção científica explora as viagens temporais, manipulação da História e uma questão que o contrasta das demais obras que exploram viagens temporais: como seria a humanidade sem seus traumas?

Já comparado com a máxima obra de H.G. Wells “Máquina do Tempo”, o conto de Asimov foca nas jornadas temporais de um homem em busca de manter a ordem das coisas.

Andrew Harlan é um Eterno. O nome designa técnicos que fazem pesquisas, relatórios e investigações sobre cada acontecimento ruim da História e retornam ao passado para fazerem pequenas alterações que têm grandiosos impactos positivos, a fim de aperfeiçoar a raça humana.

Como qualquer Eterno, Harlan vive em função do trabalho e aprendeu a se desprender das emoções e comportamentos comuns de outras pessoas para se tornar algo que aja com perfeição com a responsabilidade que tem nas mãos. Eles são proibidos de construir uma família, por exemplo, porque não podem se prender a uma pessoa de algum século particular.

Isso significa que qualquer ação no passado que não seja meticulosamente calculada e aplicada pode ter efeitos desastrosos no passado. E até onde podemos agir como máquinas programadas?

É através da maior fraqueza humana, trazida na história por um personagem feminino tal como em outras distopias (Nós, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451), que se faz o personagem rever seus conceitos, cometer loucuras e ressignificar tudo: o amor.

Outras questões surgem ao longo dos capítulos levantando reflexões sobre a evolução da humanidade, o controle e um paradoxo sobre os acontecimentos ruins da História – você sacrificaria milhares para salvar milhões?

Como todos os outros livros de Asimov, os conceitos explorados na narrativa ficcional se baseiam em teorias científicas e seguem uma linha crível, sem beirar a fantasia que explora os limites do nonsense.

Dessa maneira, o autor introduz aos poucos os conceitos para desenvolver a história e o leitor consiga acompanhar. E são muitos deles: História Primitiva, Mudança Mínima Necessária, Resposta Máxima Desejada, Mudança de Realidade, Paradoxos Temporais, Linguagem Intertemporal Padrão.

O interessante é que nenhum personagem é tão bem construído a ponto de te conquistar. Eles são praticamente plano de fundo para o grande destaque da história: o Tempo – que é onipresente.

A temática de O Fim da Eternidade tem forte influência no pós-guerra enquanto o mundo ainda se reerguia dos terrores da Segunda Guerra Mundial e também na tensão de uma guerra nuclear entre EUA e URSS.

O livro foi escrito em 1955, e dizem que a ideia surgiu dois anos antes quando Asimov folheava uma edição de 1932 da revista Time, e se deparou com a imagem de um cogumelo comumente associado a uma explosão nuclear, mas que na realidade era o desenho de um gêiser.

O Fim da Eternidade é indispensável para todos os fãs de Sci-Fi e também é uma leitura leve para aqueles que desejam se familiarizar com o universo do mestre da ficção científica para mergulhar em suas outras narrativas densas e complexas – mas que quando você se envolve, é impossível parar.

A nova edição da Aleph traz uma capa ilustrada por Luciano Drehmer com cores vibrantes e distorções que conversam com a atmosfera psicodélica característica das ficções científicas. Eu confesso que a leitura é muito mais prazerosa quando uma capa consegue transmitir a essência da história que tem ali dentro.


Ficha técnica

Tradução: Susana Alexandria

Ano: 2019

Páginas: 256

Acabamento: Brochura

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