Após dois episódios completamente focados na muleta dos flashbacks, O Livro de Boba Fett deixa o passado de lado por um breve período para mostrar mais da ação no tempo presente. No capítulo desta semana, o protagonista sai pelas ruas de Mos Espa para ver o que está acontecendo e passa a aumentar ainda mais o seu exército de seguidores dentro de Tatooine. Porém, isso não é visto com bons olhos pelos vilões da trama, que também começam a se preparar contra ele.
Livre das amarras do que aconteceu, finalmente temos uma boa dose de ação com o personagem atualmente e, ao contrário do que eu imaginava, não deixa nada a desejar. Com perseguições, combates corpo-a-corpo e inclusive discussões acaloradas, ele se firma cada vez mais como um líder do que antes. Porém, sua abordagem continua justa, não traindo o desejo que declarou no início do seriado.
Admito que fiquei surpreso com o episódio, já que mostrou bem mais daquilo que eu esperava dele. Se os primeiros serviram para estabelecer uma discussão política e que não passava do campo das ameaças, aqui vemos as coisas tomarem um outro rumo de fato. E não só isso, O Livro de Boba Fett avança também na evolução do personagem como chefe do crime de Tatooine, mostrando-o finalmente montando seu próprio grupo para assumir o controle do planeta.
Cores e juventude em O Livro de Boba Fett
Outra coisa que surpreendeu foi a quantidade de cores vistas no pacato mundo desértico. Todos sabemos o quanto sua abordagem em filmes e outros seriados é repleta de areia e sem a menor vida possível. Mostrando que também há jovens vivendo por lá, finalmente vemos mais cores em tela, diferenciando bastante eles do ambiente e os destacando para o futuro da franquia. Por mais que Luke Skywalker, Rey, Han Solo e os demais heróis sempre foram jovens, eles se misturavam ao ambiente. Aqui não, vemos pela primeira vez os mais novos indo contra isso e é visualmente chamativo o bastante para agradar.
A exploração deles não fica apenas por isso, mostrando que há pessoas que escolhem trocar partes de seus corpos por equipamentos usados por droids, mostrando os primeiros “ciborgues” de toda a linha Star Wars. Ao menos nas telas, já que no Universo Expandido não fui tão longe para saber se há algo assim já abordado em livros ou quadrinhos. Isso abre um novo leque, considerando que são humanos comuns com habilidades mecânicas e robóticas, trazendo um novo lado para O Livro de Boba Fett.
Falando em novo lado, é inegável que o seriado mostrasse quem realmente é o grande vilão e parece que as coisas finalmente estão se esclarecendo. Entre o Wookie Negro, os gêmeos Hutt, o Sindicato Pyke, o prefeito de Mos Espa e seu conselheiro, o roteiro vai deixando as coisas mais simples e a tropa de Fett começa a enxergar melhor aquilo que vão enfrentar ao fim desta trama. Isso só não significa que as coisas serão mais fáceis, apenas que tivemos um direcionamento mais sincero do que antes.
Outro ponto bem interessante é ver o quanto Star Wars está se distanciando de sua ideia original de ser o “bem contra o mal” e adotando mais os tons de cinza que as produções têm investido atualmente. A franquia sempre foi Jedi VS Sith, com os lados bem dispostos. O caçador de recompensa fazia parte dos vilões, o que também estava muito bem definido nos filmes. Porém, a trilogia prequel começou um estalo, qual só voltamos a ver em O Mandaloriano e agora em O Livro de Boba Fett. Ele ainda é um cara que está em busca de dinheiro e poder, mas não é tão inescrupuloso quanto imaginávamos.
Dar um crédito a ele e mostrá-lo como um homem com diversas nuances abre ainda mais as opções dentro deste universo e nos entrega justamente o que queríamos assistir. Conhecemos, no passado, um temível oponente e que estava disposto a tudo para receber seu pagamento. Aqui vemos as inspirações paternas que o inspiram, assim como os eventos quais ele passou e o fizeram refletir sobre a sua posição dentro desta grandiosa trama. A camada de profundidade está sendo aberta, basta enxergar.
Finalmente acertando o ritmo
Depois de reclamar por duas semanas de flashbacks e comparar O Livro de Boba Fett com Arrow, finalmente abro mão deste tópico e acredito que agora a série vai engatar de vez em direção ao que eu tinha expectativas quando ela foi anunciada. O caminho para ele se tornar o regente líder do crime organizado de Tatooine não será rápido nem simples, mas a história está seguindo para a sua ascensão. Isso é importante, considerando que mesmo o ritmo acelerado dos contos passados não estavam seguindo a proposta que foi prometida.
Porém, ainda finco o estandarte de que não estão aproveitando a presença de Ming-Na Wen na série. Fennec Shand está completamente jogada para escanteio, até nos momentos de ação onde a guardiã pessoal do caçador de recompensas fica de fora. Dou o mérito de que ela aparece em momentos bons, dando lugar à inteligência no combate do que na própria ação…mas quem viu O Mandaloriano sabe bem o que esperar de suas habilidades. E não vi isso por aqui ainda.
Faltando quatro episódios para terminar, O Livro de Boba Fett vai sendo encaminhado para a sua metade com algumas ressalvas, mas também carregando bastante méritos. Um deles é transformar Tatooine finalmente em um planeta interessante e com vida o suficiente para fazer os fãs se importarem com o que acontece por lá. Vale lembrar, este é o planeta natal de Anakin Skywalker, Luke Skywalker, Rey, Jabba e diversos outros personagens. Não mostrarem o seu lar foi um grande erro no passado, algo que não estão dispostos a repetir nas próximas histórias aparentemente.
Além disso, a série move as peças para mostrar que todos estes tons devem colocar o caçador de recompensas no mesmo patamar d’O Mandaloriano. Mesmo sem o charme de Baby Yoda ou viagens a mundos diferentes, Boba Fett carrega o seu próprio histórico em direção a um futuro incerto. Afinal de contas, onde toda essa trama quer nos levar dentro do universo de Star Wars? Essa é a dúvida que fica por enquanto, mas qual acredito que será para um lugar de qualidade ao menos.
O Livro de Boba Fett é exibido todas as quartas-feiras através do Disney+, a partir das 5h. Veja mais críticas de filmes e séries!