Depois de uma trilogia de episódios de Pacificador, que estreou na semana passada na HBO Max, o quarto chegou para comprovar que a fórmula daria certo. Se você assistir, verá que a ideia continua ridícula, porém com um coração tão enorme que torna as coisas até mais triviais em um evento digno de ser assistido. Seguindo isso, vemos os personagens confrontando, internamente e entre eles, os eventos que ocorreram.
Sendo o mais íntimo dos episódios até aqui, você vê o que se esconde por trás de toda a marra e loucura que cada um representa na tela. Adebayo lida com o fato de ter atirado em alguém pela primeira vez, o nosso protagonista tem de lidar com o fato de seu pai ter sido preso em seu lugar e repensa a sua relação com a própria família, Harcourt e Economos veem suas ações resultando em mais problemas para a equipe e até mesmo o Vigilante ganha um certo destaque por aqui.
Entre uma piada e graça ali, este é um mergulho necessário para nos importarmos mais com estes personagens. Não que os três primeiros capítulos não fizessem este trabalho, mas é algo que prepara a trama para ir ainda mais longe. Saindo um pouco mais da aba de O Esquadrão Suicida, o seriado parece estar entrando em um ambiente próprio e abrindo opções para coisas inimagináveis. Claro, a não ser que você pense como James Gunn, que escreveu tudo isso de forma genial e insana.
Quando o absurdo impacta na seriedade
Porém, não pense que o episódio 4 de Pacificador está repleto de emoções fortes e com reflexões profundas o bastante para tirar a caracterização bem-humorada que carrega. Os diálogos continuam sendo cheios de graça, assim como as reações e ideias. Uma das cenas com o Vigilante, por exemplo, me fez engasgar de tanto rir pela loucura que aquilo parecia. Começo a pensar que ainda nem arranharam o ápice daquilo que pretendem entregar, me reservando uma grande expectativa para o seu final.
Há muito tempo que não assisto algo com um ritmo tão harmonioso quanto essa produção, que mesmo em meio às atrocidades que tivemos, não deixou a peteca cair e demonstrou que isso não é mais uma história de um degenerado que vai se redimir e se tornar um grande herói. Não são os Guardiões da Galáxia, por exemplo. Chris é um cara que já chegou na fase adulta pensando de um certo modo e não serão os eventos daqui que mudarão isso. Ainda assim, adicionaram camadas que estão sendo trabalhadas e são capazes de distinguir ele do que mostraram na versão cinematográfica.
E falando em atrocidades, não sei o que é pior, James Gunn ter pensado e escrito muitas delas ou a DC Comics ter aprovado isso ter parado na tela. Na última semana surgiu a informação de que os executivos da Warner não queriam um certo diálogo sobre o Batman, qual agora entendi a razão, pois bota em cheque até mesmo o fã mais fervoroso do herói ao defendê-lo. Com um filme dele chegando, pensar como o Chris pode se tornar uma grande piada ao invés de algo mais maduro como os trailers se mostraram para o público.
Acredito fielmente que eles não vão parar por aí. O Universo DC é gigantesco e o fato de que as “borboletas” não são terrestres abre um espaço amplo para fazerem piada com o núcleo cósmico também. Vamos combinar, a editora tem um repertório bem grande de alienígenas no planeta Terra, como o próprio Superman, Caçador de Marte e vários outros. Até mesmo o Lanterna Verde, apesar de ser humano, tem a origem de seus poderes no espaço. Você acha que o Pacificador vai poupar tudo isso? Eu não.
Pacificador, paz e questões complexas
No episódio 4, Chris começa a se questionar sobre o que busca da paz. Uma crença fiel que sempre carregou agora foi colocada em questão e será que isso pode impactar em suas próximas atitudes? As palavras de Rick Flag ainda ecoam em sua mente, fazendo-o pensar que realmente pode estar seguindo pelo caminho errado por todo este tempo. Se na frente de todos ele mantém a pose, sozinho em casa a coisa muda de lado. Isso vale para todos, você sabe, não há fuga quando o passado bate em sua porta.
Podemos fingir que algo não existe ou até que não nos atinge, mas só nós sentimos quando a ferida abre. E isto vale também para o nosso herói, que tenta transparecer uma fortaleza que na verdade está desmoronando e ele não sabe o que fazer em relação a isso. Se você chegou na fase adulta da vida sem sentir isso, acredite, é questão de tempo para acontecer. Deste modo, a produção de Pacificador foi certeira na jugular emocional, dando uma aproximação bem maior dos sentimentos do personagem.
Fazendo isso, abrem uma grande questão sobre a paz que ele tanto busca. Nos envolvemos em tantas mentiras que ouvimos e até contamos, seja para os outros quanto para nós mesmos, que com o perdão da palavra, quando a água bate na bunda a coisa aperta. Chris matou pessoas, teve um acidente familiar no passado, uma relação difícil com seu próprio pai, cresceu sem companheiros e quando se uniu ao Esquadrão Suicida e encontrou isso pela primeira vez, teve de matar um dos membros por um motivo que não sabe ainda se foi o correto.
Entrando na reta que levará até o fim, o seriado mostra uma seriedade anormal em meio às piadas e ditará o tom dos próximos eventos contra a invasão das borboletas em nosso planeta. Não que o clima será mais pesado, longe disso. Porém, entramos naquela área cinzenta onde eles terão de resolver seus problemas enquanto salvam o mundo e todos sabemos que as coisas costumam se misturar no meio. Para a nossa sorte, o humor ácido que já é característico renderá boas risadas durante o trajeto.
O Pacificador é exibido todas as quintas-feiras através da HBO Max a partir das 5h. Veja mais críticas de filmes e séries!