Ciência Natureza

Por que crocodilos e capivaras convivem em paz? A surpreendente trégua da natureza brasileira

À primeira vista, a cena parece improvável: uma capivara esparramada na beira do rio enquanto um jacaré-açu descansa a poucos metros, ambos agindo como vizinhos que dividiram o mesmo quintal desde sempre. Para quem não conhece o comportamento desses animais, a pergunta surge imediatamente: afinal, por que os crocodilos não comem capivaras?

As capivaras, gigantes simpáticas que carregam o título de maiores roedores vivos, são presença constante nos ambientes alagados da América do Sul. Vivem em grupos, passam o dia mastigando grama e plantas aquáticas e adotam as margens de rios e lagos como seu ponto oficial de descanso. O curioso é que esses mesmos espaços são dominados por crocodilianos, como os jacarés, predadores que não costumam ser famosos por fazer amizades na natureza. Mesmo assim, essa convivência pacífica é mais comum do que parece.

A pesquisadora Elizabeth Congdon, especialista em capivaras e professora da Universidade Bethune-Cookman, explicou que ver um jacaré perseguindo uma capivara adulta é algo realmente raro. Não que nunca aconteça em momentos de escassez, mas está longe de ser um comportamento comum. Filhotes, claro, são outra história, pequenos e indefesos, viram alvo fácil de aves de rapina e outros predadores oportunistas. Adultos, porém, quase não entram no cardápio dos crocodilianos.

A explicação está na própria capivara. Apesar de parecerem personagens zen da natureza, elas possuem incisivos enormes e incrivelmente afiados, capazes de causar ferimentos sérios em qualquer agressor. Segundo Congdon, o custo-benefício não compensa: atacar um animal grande, forte e bem armado pode sair caro demais para um predador que tem peixes, aves e outras presas muito mais simples à disposição.

Essa calma característica também faz das capivaras verdadeiras “influencers” da beira do rio. Diversas espécies convivem tranquilamente com elas: aves descansam em suas costas, tartarugas usam seus corpos como plataforma de banho de sol e até em cativeiro elas formam duplas improváveis com facilidade. Se houver água fresca e grama suficiente, estão completamente satisfeitas.

Mas enquanto jacarés, onças, sucuris e outros predadores podem eventualmente atacar uma capivara, a maior ameaça para esses animais continua sendo o ser humano. Muitas comunidades ainda caçam capivaras para consumo, legal ou não, isso levou ao surgimento de fazendas especializadas, já que a espécie se adapta bem à criação comercial. Mesmo assim, quem se aproxima demais corre o risco de descobrir que a pacificidade delas tem limite. Mordidas de capivaras não são comuns, mas vídeos e relatos espalhados pela internet mostram que elas sabem se defender quando necessário.

A verdade é que esses roedores gigantes conquistaram um lugar único no imaginário brasileiro e mundial não só pela fofura, mas pela surpreendente habilidade de conviver com quase qualquer criatura ao redor, inclusive aquelas com bocas cheias de dentes afiados. Afinal, até o jacaré sabe que enfrentar uma capivara adulta pode ser uma confusão que ele preferiria evitar.

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Hortência é profissional de Letras, educadora, tatuadora e mãe. Apaixonada por arte e cultura, une seus múltiplos interesses que vão da cultura pop à gastronomia para produzir conteúdos variados e criativos.

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