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Proprietários estão usando IA para transformar apartamentos decadentes em anúncios falsamente “modernos”

O mercado imobiliário online nos EUA está sendo invadido por imagens tão perfeitas que parecem saídas de um catálogo de luxo e, em muitos casos, literalmente são. Proprietários e corretores estão usando inteligência artificial para retocar, redesenhar e até inventar completamente interiores e fachadas de imóveis que, na vida real, estão bem longe do que as fotos prometem, e são casas ou apartamentos decadentes.

O truque é simples: em vez de mostrar um apartamento escuro, sujo ou mal conservado, a IA entra em cena para dar brilho às paredes, criar móveis que não existem, mudar a iluminação e até reimaginar a fachada de um prédio inteiro. O resultado é um cenário digno de um comercial de arquitetura futurista, mas que desaparece assim que o interessado chega à visita.

Um exemplo recente chamou a atenção da ilustradora DeAnn Wiley, que descobriu um anúncio no Zillow de uma casa em Detroit completamente “IAzificada”. As imagens mostravam cômodos renovados, pisos reluzentes e paredes sem uma mancha sequer, tudo graças a um toque generoso de inteligência artificial. Na prática, a casa seguia com décadas de desgaste à mostra.

E a coisa vai além das fotos. De acordo com a Wired, empresas como a AutoReel estão criando vídeos inteiros de imóveis que praticamente não existem, usando IA para transformar fotos estáticas em tours virtuais de fantasia. Fundada por um ex-gerente de produto do Facebook, a startup vende essa tecnologia como uma forma rápida e barata de “valorizar” imóveis, mesmo que isso signifique distorcer completamente a realidade.

Dan Weisman, diretor de inovação da Associação Nacional de Corretores de Imóveis dos EUA, disse à revista que o uso de IA no setor disparou. “Em eventos recentes, quando pergunto quem está usando IA, 80 a 90% das pessoas levantam a mão”, contou. A mudança de mentalidade é clara: há dois anos, corretores rejeitavam a ideia; hoje, querem saber como começar.

A razão é óbvia, custo. Criar imagens com IA pode economizar centenas de dólares que antes eram gastos com fotógrafos ou designers. “Por que pagar 500 dólares por uma simulação de mobília virtual se posso gerar tudo em 45 segundos de graça no ChatGPT?”, ironizou Jason Haber, fundador da American Real Estate Association.

Mas essa “mãozinha digital” tem um preço para os compradores. Cada vez mais, pessoas se deparam com anúncios que parecem promissores, mas ao visitar o imóvel descobrem uma realidade bem menos glamourosa. Especialistas alertam que o problema não está apenas nas falsificações totais, mas nas manipulações sutis, um gramado artificialmente verde, fios elétricos apagados ou uma piscina que nunca existiu.

Kevin Greene, da empresa Cotality, explica que o limite ético é simples: as imagens deveriam refletir dados verificáveis do imóvel, não versões idealizadas criadas por algoritmos. Já o professor Derek Leben, da Universidade Carnegie Mellon, vai além e diz que, em casos extremos, compradores podem até contestar judicialmente contratos feitos sob falsas representações.

Para DeAnn Wiley, que descobriu o caso da casa em Detroit, o problema não deve recair sobre os inquilinos ou compradores, mas sobre as plataformas que permitem esse tipo de manipulação. “Não é justo esperar que as pessoas reconheçam esses truques sozinhas. Os aplicativos e sites de aluguel precisam assumir responsabilidade e criar regras claras para evitar golpes e ilusões”, afirmou.

Enquanto isso, quem busca um novo lar online precisa ficar atento, porque, com a IA dominando os anúncios, o sonho do “apartamento perfeito” pode ser apenas uma boa renderização digital.

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Jornalista há mais de 20 anos e fundador do NERDIZMO. Foi editor do GamesBrasil, TechGuru, BABOO e já forneceu conteúdo para os principais portais do Brasil, como o UOL, GLOBO, MSN, TERRA, iG e R7. Também foi repórter das revistas MOVIE, EGW e Nintendo World.

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