O criador conhecido como Blytical queria algo que fosse além dos filtros nostálgicos dos smartphones. Ele buscava a verdadeira essência dos vídeos antigos, aqueles com cores tremidas, imagem borrada e o charme de um VHS dos anos 80. O resultado dessa busca foi a Retro Cam, uma câmera artesanal que realmente grava em formato analógico, sem recorrer a truques digitais ou efeitos simulados.
Visualmente, o dispositivo lembra uma câmera compacta do início dos anos 2000: robusta, mas portátil o suficiente para segurar com uma mão. Dentro dela, o coração do projeto é um Raspberry Pi Zero 2 W, um pequeno computador que custa menos do que um almoço em Nova York e dá conta de todo o processamento. A energia vem de uma bateria de lítio 18650, daquelas usadas em lanternas, encaixada em um suporte impresso em 3D. Uma única carga garante horas de uso contínuo.
Mas o verdadeiro segredo está na lente. Em vez de usar o módulo de câmera padrão do Raspberry Pi, Blytical escolheu um conjunto CADDX FPV, originalmente feito para drones de corrida. Ele grava vídeo analógico puro no tradicional formato 4:3, o mesmo das antigas TVs de tubo. Um pequeno conversor transforma o sinal em vídeo USB para que o Pi possa processar, sem qualquer interferência de software. O resultado é autêntico: nada de linhas falsas ou filtros retro, apenas os defeitos genuínos do vídeo composto.

O visor e a tela de reprodução são touchscreen de 2,8 polegadas, também em 4:3. Ao pressionar o botão de disparo, o sistema captura um quadro do vídeo analógico. Se o usuário mantiver o botão pressionado, a câmera grava vídeo completo com áudio captado por um microfone I2S embutido. Todo o material é salvo em um cartão microSD interno.
Na parte externa, há botões e chaves dedicados para ligar, gravar, navegar pelas imagens e até indicadores luminosos que piscam durante a gravação. Um pequeno alto-falante reproduz o som original e um cooler de 40 mm evita o superaquecimento do Raspberry Pi, que tende a esquentar em uso prolongado.
O corpo da câmera foi totalmente impresso em 3D, dividido em duas metades cuidadosamente ajustadas à mão. Blytical passou semanas lixando, reimprimindo e aparando detalhes até que tudo encaixasse perfeitamente. Pequenos parafusos e insertos de latão garantem a firmeza da estrutura. Por dentro, duas placas personalizadas gerenciam a energia, os botões, LEDs e a ventilação. Apesar dos erros e curtos ocasionais, típicos de um projeto artesanal, cada ajuste aproximou o criador da versão ideal.
O sistema roda uma versão leve do Linux, que inicia direto na visualização ao vivo da câmera, sem menus complexos ou aplicativos pesados. Tudo é controlado por scripts em Python, responsáveis por interpretar os botões e organizar os arquivos. O conceito é simples e direto: ligar, apontar, gravar, e mergulhar de volta no clima analógico de 1987.
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