Pois bem, Star Trek: Strange New Worlds continua avançando em direção ao desconhecido e trouxe um episódio extremamente distinto para ser somado aos demais – que fogem completamente de todas as convenções possíveis. E isso não é apenas bom, mas é impressionante assistir a algo que consegue se reinventar a cada capítulo e mostrar um gênero distinto televisivo para que os fãs possam aproveitar.
Após os eventos do season finale, onde vemos Una Chin-Riley sendo presa por fazer parte da raça iliriana, além de uma ponta do Capitão Pike no último episódio tentando “resolver a situação”, agora sabemos exatamente onde ele foi se meter. O personagem foi pedir ajuda diretamente para uma das amigas de infância da personagem – Neera. A surpresa é que o capítulo subverte totalmente a ficção-científica e vira um clássico seriado de tribunais.
De um lado, Una e Neera tentam defesa para o caso de sua prisão, mantendo em mente que ela deve permanecer na tripulação da USS Enterprise. Do outro, a Frota Estelar completamente aborrecida por ter sido enganada há tanto tempo, levando todo o seu orgulho para os juízes (quais fazem parte de sua folha de pagamento, um pequeno detalhe). Mesmo com tudo seguindo contra ambas as personagens, temos as melhores discussões sobre como este universo devia funcionar e o que vemos.
Os advogados de Star Trek
Para mim, Yetide Badaki como Neera foi um dos pontos mais impactantes do episódio. A atriz realmente incorporou uma advogada implacável dentro do mundo de Star Trek e não trouxe sossego a nenhum personagem em todas as cenas que apareceu. Seu papel era incomodar, subverter as leis e mostrar como a sociedade continua errando – mesmo no espaço e há milhares de anos-luz no futuro. E ela conseguiu atingir este papel com maestria, diga-se de passagem.
Todas as cenas no tribunal são fortes, trazendo debates extremamente interessantes não apenas para Strange New Worlds – mas para toda a franquia. Como podem julgar Una, quando todos os capitães burlam as leias ao seu bel prazer? Como uma sociedade pode querer prender alguém, justamente por existir? Para que servem as leis, se não para proteger a população e não uma grande organização que a modifica para seus próprios fins? Isso e muito mais surgem em algum ponto, tornando a conversa em uma grande conversa sobre o que é certo ou errado.
Enquanto Rebecca Romjin brilha ainda mais neste capítulo, também temos um grande destaque para Christina Chong – qual foi diretamente afetada como La’An. Inclusive, dá um grande mergulho em suas emoções que raramente surgem nos demais capítulos – o que torna a personagem ainda mais rica e que deve ter seus ganchos aproveitados para debaterem mais sobre Khan no futuro.
Eu acredito que muitos acharão este episódio de Star Trek cansativo, principalmente pela sua duração extendida de quase 1h neste clima. Porém, não se engane. Este deve ser um dos capítulos mais importantes de toda a temporada – justamente por nos trazer uma grande conversa sobre como a Frota Estelar e a Federação aplicam as leis em sua organização e através da Galáxia. Neera não só expõe a hipocrisia da corporação, como nos revela que tudo pode ser conversado e encontrado um consenso.
Sem seus principais chamarizes
Vale notar que o capítulo segue de forma brilhante sem a necessidade de usarem CGI ou ter qualquer conflito físico entre personagens. Ao contrário do anterior, cujo foco na ação levou alguns personagens ao seu limite – este faz o mesmo, mas de uma forma completamente distinta. Em determinado momento, acreditei que até mesmo o Capitão Pike seria comprometido e nada me garantia que teria um desdobramento diferenciado que virasse a situação ao seu favor.
A aplicação do humor também é um grande destaque, diminuindo um pouco este tom dentro do seriado para levarem o tribunal a sério. No entanto, algumas poucas cenas – como o “pico de ódio” apresentado por Spock – tiram sinceras gargalhadas em meio a tanto peso. E o mesmo serve para cenas mais tensas, com Anson Mount representando muito bem alguns momentos de desequilíbrio emocional, principalmente ao ver sua protegida ter a sua vida nas mãos de suas decisões.
Mais uma vez, Star Trek: Strange New Worlds reverte um gênero inteiro para caber dentro de sua narrativa e alcançam um patamar impressionante. Toda a produção merece levar os créditos por isso, já que estão conseguindo manter um ritmo agradável desde a temporada anterior, mesmo sem estarem presos a qualquer amarra – seja do estilo ou da própria história que está sendo contada aqui. Juro que quase me fizeram esquecer dos problemas que eles já tinham para apresentar esta disputa judicial.
O episódio 2 serve para reafirmar que esta é uma das melhores séries de ficção-científica sendo exibida atualmente – e qual acredito que não está se dando o destaque o bastante. Ela segue lado a lado ao que temos na Discovery e, na verdade, acredito que seja um espaço ainda maior para os debates do que a sua contraparte. Espero sinceramente que mantenham o nível e nos levem em direção à “fronteira final” como qualquer outra jamais levou.
Star Trek: Strange New Worlds está sendo exibida todas as quintas-feiras na Paramount+. Veja mais em Críticas de Séries!