Antes de mais nada, tenho de confessar que comecei a 4ª temporada de The Boys não gostando muito da direção que estavam seguindo. Afinal de contas, as coisas não estavam seguindo um ritmo que conquistou o público nas duas primeiras temporadas. A terceira foi divertida, mas deu apenas um “giro” na vida dos personagens sem muitas implicações.
O que eu vi neste novo arco, senhoras e senhores, é uma excelente forma de se escrever uma história. Mesmo se você observar bem, por trás de todo o sangue, exposição e da brutalidade – que chamam a atenção de parte do público, mas nós sabemos que vai além disso – há uma das maiores pérolas de Eric Kripke (que também foi showrunner de Supernatural nas cinco primeiras temporadas, seu auge). E esta quarta temporada é um testamento de sua competência em séries.
Reviravoltas em The Boys
Victoria Neuman assumirá a vice-presidência dos Estados Unidos e, aliada à Vought e ao Capitão Pátria, seu objetivo é matar o presidente e tomar o comando do país. Com isso, todos os “supers” terão carta branca para fazerem o que quiserem, o que pode levar The Boys para o pior cenário possível. Cabe a Hughie e seu grupo impedir seus planos, mas a corrida contra o tempo torna a situação cada vez mais tensa.
É através deste plot que começamos o quarto ano do seriado e a cada episódio que passou eu ficava ainda mais empolgado. A “iluminação” do Trem-Bala, o sumiço das habilidades da Luz-Estrela e a forma como sua consciência age em relação a isso, a crise existencial de Butcher, a escolha que Leitinho tem de fazer em relação à sua família e o trabalho, o arco de Kimiko…tudo soava intrigante e conectado.
Porém, não podemos esquecer de Hughie, aquele que está no meio de tudo em The Boys e sempre passou por poucas e boas. E diga-se de passagem que isso se intensificou um pouco mais nessa temporada. A doença de seu pai, o surgimento da mãe que o abandonou, seu relacionamento com a Luz-Estrela, a amizade com Victoria Neuman, suas “descobertas” com o Tek Knight e até o arco com a Transmorfa abalaram todas as suas crenças e tiveram um grande impacto na obra.
Ouso dizer que sinto o mesmo pelos vilões. A loucura do Capitão Pátria, o cinismo e genialidade da Sábia e as mentiras e conspirações que a Espoleta descarrega nos seus fiéis seguidores movimentaram a trama muito além do que eu sequer previa. Todos estes elementos combinados não trouxeram apenas uma quarta temporada acima da média, mas um material que devia servir como exemplo para distopias envolvendo super-heróis.
Destaco aqui o último episódio de The Boys (que me fez despertar 5h em plena quinta-feira para assistir), que trouxe mais do que eu esperava para um season finale e me deixou absurdamente esperançoso pela temporada final. Porém, não darei spoilers, fiquem tranquilos. Outro episódio excelente foi na visita do Capitão Pátria ao esconderijo onde foi cuidado, que elevou ainda mais a profundidade e qualidade da trama.
Nem tudo saiu perfeito
Apesar da trama seguir de forma excelente e nos trazer uma história tão rica, há alguns pontos que não gostei de ver nesta temporada. Um deles é em relação ao Francês – cuja presença só se tornou relevante de fato no fim da temporada. Não que seu arco com Alvin seja desinteressante, mas saiu de lugar nenhum e terminou sem qualquer impacto em toda a história. Outro aspecto que não gostei foi de manterem o Profundo e Black Noir como dois “capachos”. Tirando a trama do polvo, que também não seguiu para lugar algum, ambos não tiveram peso algum.
Claro que administrar este tanto de personagens e subtramas em The Boys não deve ser tão simples, mas acrescentar estes arcos que não nos levam para canto algum da história geral me parece uma tentativa de “preencher lacunas” para manter o tempo dos episódios. Vamos ser honestos, até a Ashley (SIM) teve algo a acrescentar na quarta temporada e os demais não.
De qualquer modo, a série teve diversos outros acertos para se orgulhar. Um deles é deixar ainda mais claro a sátira e paródias ao que acontece no mundo real – estampando o preconceito, ideais equivocados e toda a problemática que envolve suas ações perante a sociedade. O outro é estabelecer que o bem e o mal podem não existir, mas que os supers (ao menos na Vought) estão em um campo ainda mais obscuro destes espectros.
Também achei corajoso levar vários dos personagens de The Boys ao seu campo de maior fragilidade dentro da série. Depois de tanto sangue, atos terríveis e atrocidades vistas, aqui temos o ponto mais baixo de muitos – Hughie, Luz-Estrela, Butcher, Kimiko, Capitão Pátria, Trem-Bala e até Victoria Neuman brilharam e muito nesta temporada. Ver eles no limite do psicológico tentando fazer algo foi de uma magnitude que não esperava assistir.
E claro, com a próxima temporada sendo a última, finalmente vimos a história se desenrolando e quase todos eles vão parar em um ponto completamente distinto de onde começaram. Reviravolta não seria a palavra que eu usaria aqui, mas que toda a narrativa deu um grande giro é inegável. Provavelmente veremos um desdobramento disso na segunda temporada de Gen V – antes de ter o grande final para toda esta história nas telinhas.
Todos os episódios da quarta temporada de The Boys já estão disponíveis na Prime Video. Veja mais em Críticas de Séries!