Enquanto um misterioso objeto interestelar se esconde atrás do Sol, as missões humanas em Marte assumiram o papel de vigias cósmicos. A Agência Espacial Europeia anunciou que duas de suas naves em órbita marciana conseguiram capturar imagens do visitante interestelar conhecido como 3I/ATLAS durante sua passagem a mais de 29 milhões de quilômetros do Planeta Vermelho.
As fotografias históricas foram registradas em 3 de outubro, momento em que o objeto fez sua maior aproximação de Marte. Tanto o Orbitador de Gases Traço (TGO) da missão ExoMars quanto a sonda Mars Express direcionaram suas câmeras para o espaço profundo, conseguindo detectar o visitante interestelar que se acredita ser um cometa.
Em uma sequência de imagens capturadas pelo sistema de imageamento CaSSIS do TGO, é possível distinguir claramente um ponto luminoso movendo-se lentamente contra o fundo negro do cosmos. Essa mancha em movimento representa o coma do objeto – a nuvem brilhante de gás e poeira que envolve o núcleo do cometa, estimada em vários milhares de quilômetros de diâmetro.
Colin Wilson, cientista de projeto da ESA, destacou a importância do feito: “Embora nossos orbitadores marcianos continuem fazendo contribuições impressionantes para a ciência, é sempre emocionante vê-los respondendo a situações inesperadas como esta”.
A observação representou um desafio técnico significativo, já que as câmeras das naves foram projetadas para criar imagens da superfície bem iluminada de Marte, e não pequenos pontos no céu noturno. Nick Thomas, investigador principal da câmera CaSSIS, explicou que “o cometa é cerca de 10.000 a 100.000 vezes mais fraco que nosso alvo usual”.
Enquanto o coma é claramente visível, o núcleo do cometa permanece indetectável, a ESA compara a tarefa de visualizá-lo a “tentar ver um telefone celular na Lua a partir da Terra”.
O anúncio da ESA surge em meio a debates sobre uma possível observação do mesmo objeto pelo rover Perseverance da NASA. Embora o astrônomo de Harvard Avi Loeb tenha especulado sobre um registro do cometa, especialistas como o astrofísico David Kipping argumentam que a imagem provavelmente mostra Fobos, uma das luas de Marte.
O 3I/ATLAS é apenas o terceiro objeto interestelar já identificado em nosso sistema solar, e sua antiguidade é impressionante: os astrônomos estimam que ele possa ter mais de sete bilhões de anos, tornando-o mais velho que nosso próprio Sol. Sua composição química radicalmente diferente dos cometas locais oferece insights sem precedentes sobre sistemas estelares distantes.
A ESA planeja novas observações usando sua sonda Jupiter Icy Moons Explorer (Juice), que poderá capturar o cometa logo após sua máxima aproximação do Sol, quando sua atividade estará no ápice – prometendo revelações ainda mais fascinantes sobre este viajante interestelar que atravessou a galáxia para nos visitar.
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