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Walesa | Crítica

Walesa - Crítica

Walesa é a mais recente obra do oscarizado diretor polonês Andrzej Wajda, trazendo um dos períodos mais conturbados da história de seu país e de toda a Europa Oriental. O diretor narra, de maneira excepcionalmente hábil, a trajetória do líder operário Lech Wałęsa (Robert Wieckiewicz) que, devido ao seu engajamento social e brilhante oratória, foi de eletricista a presidente da Polônia no início dos anos 90.

O período narrado no filme, entretanto, é bastante anterior à eleição de Wałęsa, e merece uma breve contextualização histórica. A Polônia foi um dos países europeus mais afetados pela Segunda Guerra Mundial. Mais de 6 milhões de cidadãos poloneses, a maioria judeus, foram mortos durante o conflito. Com o fim da guerra, a independência recém conquistada (no final da Primeira Guerra Mundial) foi novamente perdida e a Polônia foi anexada à extinta URSS.

Os anos do controverso governo do líder soviético Leonid Brezhnev aceleraram a derrocada da grande empreitada comunista, pois nesse período houve profunda queda nos padrões de vida em diversas partes do vasto império soviético. Situação na qual os cidadãos poloneses foram duramente afetados pelas péssimas condições de trabalho e pelos bruscos aumentos nos preços dos gêneros alimentícios, gerando forte insatisfação popular.

O filme abarca esses acontecimentos de forma breve, como pano de fundo ou flashbacks. Também não faz uma cinebiografia dos anos de Wałęsa como presidente, pois tudo isso engloba um período de diversas transformações na Europa comunista, envolvendo material extenso demais para um único filme. Deste modo, o foco da história está nos dez anos em que Wałęsa uniu os trabalhadores portuários e metalúrgicos e, juntamente com jovens intelectuais poloneses, fundou o sindicato anti-comunista “Solidariedade”.

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Para tratar de um período, ainda assim, bastante longo, Wajda habilmente usou como fio condutor de sua narrativa a histórica entrevista concedida por Wałęsa à proeminente jornalista italiana Oriana Fallaci. Escritora talentosa e de tendências esquerdistas, Fallaci (brilhantemente interpretada por Maria Rosaria Omaggio) foi extremamente precisa e contundente em suas perguntas, assim, ambos travaram um rico debate acerca da situação caótica vigente na Polônia comunista.

O ocidente pouco sabia do que se passava no império soviético de modo que a entrevista ajudou a mostrar para o resto do mundo o que se passava por trás da chamada “Cortina de Ferro”. Da mesma forma, ao utilizar a entrevista como base para a trama, o diretor auxilia o espectador a entender a história do carismático líder popular Lech Wałęsa.

“A opinião pública é sempre respeitável. Não pelo seu racionalismo, mas pela sua onipotência muscular”. Essa frase do Marquês de Maricá serve para ilustrar uma faceta dos acontecimentos daquele momento. Existia uma grande força na população, um potencial represado por décadas de exploração e sofrimento. Wałęsa acreditava na força das massas, mas de uma forma muito mais objetiva e engajada.

Ele entendia que o maior inimigo do comunismo eram os trabalhadores, mas sozinhos eles não sairiam de seu torpor. Assim, passou a organizar diversos levantes e greves visando melhores condições de trabalho para seus compatriotas. Wałęsa pagava por suas insurreições sendo frequentemente demitido e vivendo, juntamente com sua mulher e filhos, em situação de grande pobreza.

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A URSS não podia prescindir do aço polonês, de modo que Wałęsa, com o apoio do Solidariedade, liderou o levante dos trabalhadores do estaleiro Gdańsk, movimento que rapidamente contou com a adesão de diversas outras empresas, suspendendo grande parte das atividades fabris e o transporte de metais para a União Soviética, e atraindo atenção da imprensa internacional.

Graças à sua atuação nesse episódio e à sua trajetória como líder popular, Wałęsa foi agraciado, em 1983, com o Nobel da Paz. A revolução catalisada por ele, à frente de um milhão de trabalhadores poloneses, foi imprescindível não apenas para separar seu país da União Soviética, como foi um dos fatores que contribuíram para a queda do Muro de Berlim.

A edição do filme é dinâmica e perfeitamente adequada à monumental dramatização proposta por Wajda, que mistura suas filmagens a cenas reais da época retratada, sempre acompanhadas por pesadas músicas de Heavy Metal polonês. A história de Wałęsa traz diversas lições de vida ao espectador, mostrando, sem cair na pieguice, a força de um simples operário, pequeno em tamanho, mas grande em honra e princípios. “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”, já nos disse Fernando Pessoa.

Nota: 5/5

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Diretor: Andrzej Wajda
Duração: 124 minutos.
Elenco: Robert Wieckiewicz, Agnieszka Grochowska, Maria Rosaria Omaggio
Lançamento: 29 de maio de 2014.

Autor: Daniel Robledo

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