Após três episódios de A Casa do Dragão, já tínhamos uma noção de onde a história poderia seguir. Matemática básica, alguns personagens com sua personalidade em determinadas situações geraria um determinado resultado. Porém, nem tudo o que gostaríamos ou pensávamos que ocorreria funciona da forma esperada, principalmente na franquia Game of Thrones, não é?
O que não esperávamos no seriado é o estrago que Rhaenyra, munida de um extremo tesão, causaria. Perdão pelo uso direto da palavra, caros leitores, mas não há outra que explique tão bem o que vimos no último capítulo. Um adolescente com isso pode literalmente atravessar qualquer regra e até sua própria integridade e é o único elemento que não estava entrando na conta para alavancar a história para frente.
Além de expor como somos manipulados por nossos instintos, também foi muito interessante acompanharmos a jornada do olhar masculino sobre os corpos femininos. Afinal de contas, se fosse um futuro rei, já teria varrido metade dos prostíbulos de Westeros e ainda assim seria aclamado. Então porque o contrário não poderia ocorrer? Opiniões a parte, eles demonstram de forma didática como funciona a nossa sociedade através de coisas que rolam em uma terra fictícia medieval. E é tão claro como a água cristalina.
A tensão aumenta em A Casa do Dragão
Gerando uma verdadeira crítica à forma como tratamos as mulheres, A Casa do Dragão se arrisca ao mostrar que temos mais similaridades do que diferenças. Alguns até virão dizer “urr durr, lacração”, mas é uma verdade inegável que construímos muros em torno do que elas podem ou não fazer. Sem ouvi-las ou considerá-las, o que é pior. E Rhaenyra que paga o pato para que isso se faça aparecer.
É bastante impactante também traçarmos um paralelo entre ela e Alicent, que foi basicamente entregue adolescente a um rei idoso para servir como parideira de herdeiros. Enquanto uma testa a liberdade que possui e pode extravasar um pouco de suas vontades, a outra está presa a um relacionamento que não lhe causa emoção alguma. Enquanto uma não enxerga a manipulação e se entrega às ocorrências, a outra consegue ver e não tem o poder para mudar isso.
Tudo isso pode não dizer absolutamente nada para certa parcela do público, que estará preso demais na ideia de ver dragões disparando fogo e nas tramas políticas da série. Inclusive, esta última avançou tão pouco neste que até gera um desconforto. Porém, é um episódio importantíssimo para o desenvolvimento dos personagens e mostrar que eles também participam daquilo como peças centrais, não apenas como peças de um xadrez. Às vezes é no inesperado que isso nos ganha e vemos isso agir nessa semana.
E nisto, a performance de atuação é elevada ao máximo por cada ator envolvido. Matt Smith diverte bêbado e seus olhares são tão assassinos quanto sua espada e seu dragão. Milly Alcock também brilha no papel de uma adolescente na mais pura jornada de auto-descoberta. Afinal de contas, isso que moverá as coisas para o próximo passo na metade final da temporada. Mostrarem a cidade em sua forma mais vil também auxilia na construção de Westeros, já vista por outros heróis de Game of Thrones, mas ausente em A Casa do Dragão até agora.
Falta fogo e sangue
Minha maior crítica é a ausência de ação, um dos elementos mais importantes que temos neste segmento e mostrado de forma mínima até aqui. Estamos no episódio 4 e tivemos um torneio bem “mais ou menos” aqui, uma batalha que só vimos o seu final ali…onde está a emoção e os impactos que nos impulsionam a assistir ao próximo episódio com toda a vontade do universo?
Não me entendam errado, eu gosto muito de ver o crescimento das figuras que fazem parte deste universo. Pode seguir o livro tranquilamente, quais conhecemos por ter vários capítulos ou até mesmo publicações inteiras sem o menor tempero. Porém, para um seriado televisivo, nem sempre não mostrar ou montar um conflito em materiais do gênero pode ser a melhor opção. Até She-Hulk compreende que, por mais que carregue a comédia, precisa mostrar ela distribuindo um soco de vez em quando.
Eu não desejo que inventem moda, até porque foi isso que causou a ruína de Game of Thrones. Porém, A Casa do Dragão precisa mostrar bem mais do que apenas a família Targaryen presa dentro de seu castelo. Ainda falta uma metade inteira de temporada, o que pode se revelar uma grande besteira do que estou falando agora. Principalmente pelos “season finale” serem conhecidos por impactarem bastante e agitarem as coisas. Porém, sinto falta mesmo de combates mais diretos e sangue na tela.
Enquanto não tenho nada disso, ao menos estão enriquecendo os heróis e vilões para trazer um pouco mais de profundidade na trama. O que não é ruim, temos de combinar. No meio de tudo isso, quem ganha é quem não tem nada a ver com isso, como o cavaleiro Criston Cole. Não está no meio da grande confusão e leva para casa a maior honra de sua carreira. E também não será diretamente envolvido na confusão que está prestes a se tornar nos próximos passos desta aventura.
A Casa do Dragão será exibido todos os domingos a partir das 22h na HBO Max. Veja mais em Críticas de Séries!