Em The Wolf Hour, Naomi Watts é protagonista do filme que explora as aflições psicológicas de uma escritora reclusa em um apartamento no centro do caos suburbano dos Estados Unidos polarizado pela crise sociopolítica da década de 70.
O filme abre com a cena de um apartamento caindo aos pedaços, enquanto June caminha entre os escombros de sua própria vida em isolamento extremo: sacos de lixo parados há tempos, geladeira vazia e um calor extremo que é combatido com dificuldade pelo pequeno ventilador.
Claustrofóbica é a situação em que vive a protagonista, enquanto a vida lá fora acontece. Intercalada entre reflexão existencial e voyeurismo, a vida de June passa com a companhia de um rádio que traz doses de realidade pessimistas, como os assassinatos em curso de “O Filho de Sam”, o serial killer verdadeiro que aterrorizou os EUA atirando em pessoas com seu calibre .44.
June é uma personagem complexa, incapaz de pisar fora de seu apartamento, nem que seja para realizar tarefas cotidianas necessárias. A falta de vitalidade em seu estilo de vida é dada às paletas de cores marrons e cinzas. Criando a realidade esfumaçada e caótica dos subúrbios metropolitanos.
O clima de tensão segue ao longo de todo o filme, dando um respiro apenas em seu fim catártico. Outras doses de realidade além do sensacionalismo da comunicação de massa são trazidas pelos poucos personagens que a mulher permite entrar em seu apartamento.
Cada um com seu ponto de vista sobre o mundo lá fora alimenta sua necessidade pela vida e questiona seu isolamento. Alguns incentivam com otimismo, outros reafirmam que nem sua própria casa é um local seguro. Mas nada como experimentar o mundo com a própria pele.
Quando a raiz de sua condição é revelada, se vê que a escolha da moradia não foi à toa: o medo de causar sofrimento levou June a se fechar no antigo apartamento de sua vó, onde se sentia segura na infância, e agora se sente familiar em meio às memórias e a violência que acontece, que ela não necessita mais causar.
Aprisionada dentro de si, negando a liberdade e o poder de sua palavra, o medo ecoa toda vez que a campainha toca, dia e noite, mas ninguém responde.
“E se não for alguém querendo intimidar você, mas te chamando para ver o mundo lá fora”, sugere o acompanhante que ela contrata para satisfazer suas necessidades humanas, e quem a sacia com muito mais que isso, dando afeto e uma conversa íntima – coisas que somente o sexo não dá.
No ápice da necessidade, é na máquina de escrever que a escritora encontra sua catarse e não pode mais negar a si mesma.
O clímax acontece quando o fatídico apagão acomete a cidade de Nova York, criando todo o cenário mais animalesco possível e temido por June. Aqui há o divisor de águas em sua vida, onde é preciso encarar a escolha inevitável: abraçar o caos ou fugir dele.
Nesse longa escrito e dirigido por Alistair Banks Griffin, a narrativa é lenta e sustentada pela atuação impecável de Naomi Watts. Onde se misturam de maneira angustiante os elementos do impiedoso, em todos os sentidos, verão de Sam e a análise psicológica de como uma escritora importante da contra cultura subjuga suas ideias progressistas para a anulação de si.
Sem ação e com poucos personagens, a nuvem do suspense paira sobre a verdade de que não há monstro mais temido que o criado pela mente, e é esse que aprisiona, afugenta e é mais perigoso que o mundo lá fora.
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