Conhecido como Grant Study, um estudo ambicioso iniciado em 1939 por pesquisadores de Harvard tinha como objetivo analisar dimensões centrais que fazem uma boa vida.
A proposta era buscar respostas para questões como: quem vive mais e por quê, o que prediz a autorrealização e o sucesso na carreira, e como a interação da natureza e criação molda quem nos tornamos.
Os pesquisadores estudaram 724 pessoas durante 75 anos. O método revolucionário utilizado visava acompanhar a vida inteira dos voluntários para analisar como eles se desenvolveram ao longo dos anos e o que influenciou na saúde e bem-estar de cada um deles.
Para o estudo, foram selecionados dois grupos distintos: um formado por estudantes de Harvard, com boas condições de vida, que se formaram durante a Segunda Guerra e logo após serviram ao exército. O segundo, por jovens de um dos bairros mais pobres de Boston, cujas famílias eram uma das mais disfuncionais e problemáticas da década de 30.
Anualmente os voluntários eram submetidos a exames médicos e entrevistas presenciais sobre trabalho, casa, relacionamento e saúde. Mais tarde, com avanços tecnológicos, seus cérebros também foram acompanhados através da Ressonância Magnética.
Robert Waldinger, psicólogo de Harvard, é o mais recente diretor do estudo de quatro gerações de cientistas, e revela que até hoje a pesquisa segue os voluntários e expande o experimento para seus filhos e esposas. 60 dos participantes ainda estão vivos, e muito deles já com seus 90 anos.
O psicólogo explica que, ao longo de 7 décadas, eles puderam ver de perto como muito dos voluntários, de ambos os grupos, ascenderam socialmente, outros declinaram e um deles inclusive chegou à presidência dos EUA.
Com a solidez de dados massivos, a conclusão é a seguinte:
“A mensagem mais clara que recebemos deste estudo de 75 anos é: bons relacionamentos nos mantêm mais felizes e saudáveis”, compartilha Phil.
Em um TEDTalk, o diretor do estudo destaca 3 importantes lições que o estudo concluiu:
1- Relações sociais realmente são benéficas aos humanos; a solidão mata. Pessoas que são socialmente ligadas à família, amigos e comunidade são mais felizes, saudáveis fisicamente e têm maior expectativa de vida do que aquelas que não possuem tais laços sociais.
Pessoas que se isolam são mais infelizes, apresentam problemas de saúde mais cedo e têm a função cerebral prejudicada antes do que deveriam.
2- Não é a quantidade de amigos e familiares que uma pessoa tem ou estar em uma relação amorosa que importa, mas a qualidade das relações que ela mantém ao longo da vida.
Viver em ambientes conflituosos é nocivo para a saúde; manter relações saudáveis trazem segurança aos indivíduos.
Ao analisar os voluntários em seus 80 anos, os pesquisadores analisaram os dados de quando eles tinham 50 e concluíram que não era o nível de colesterol que já apontava se uma pessoa envelheceria bem, mas sua satisfação nas relações. Ou seja, quem tinha boas relações aos 50, era o mais saudável aos 80.
As relações também influenciam em como as pessoas reagem a dores. Quando questionados, quem tinha uma boa relação se dizia tranquilo ao sentir alguma dor, enquanto quem estava infeliz com suas relações relatava a dor física agravada pela dor emocional.
3- Boas relações não são apenas benéficas para o corpo, mas para o cérebro. Estar conectado a alguém em uma relação onde há companheirismo ajuda a reduzir os problemas de memória, ao contrário dos que não estão.
Ao se depararem com a aposentadoria, os mais felizes eram aqueles que chegaram à esta fase da vida com boas relações, não dinheiro, fama ou aquisições.
Essa conclusão já nos foi dita muitas vezes por escritores, poetas, músicos e filósofos. Então por que é tão fácil entendê-la, mas ignorá-la?
A possível resposta é que tendemos a sempre buscar soluções fáceis e imediatas. Relações são construídas ao longo de uma vida inteira, cujas bases são paciência e dedicação. É preciso estar disposto a se doar inteiramente.
Se ainda é necessário uma fórmula mágica, eu fico com a de Bertrand Russel em seu tratado sobre a natureza de uma boa vida, escrita em 1925:
“Uma vida boa é aquela inspirada pelo amor e guiada pelo conhecimento”
蚂溪村路板桥斜,
蚁间第一耽离别。
乐飞萤度愁难歇,
居士尔时缘护戒。