Com um fim digno de franquia cinematográfica no último episódio, Ahsoka tinha em suas mãos a situação perfeita para encerrar um arco que ficou aberto por tempo demais: seu relacionamento conturbado com o próprio mestre, Anakin Skywalker…também conhecido como “Darth Vader”. Eles tiveram um grande duelo no passado, no qual sua identidade foi revelada para a jovem e gerou uma grande cicatriz em sua vida.
A partir disso, revisitamos diversos momentos da relação entre eles e é mostrado como isso foi mudando ao longo dos anos. Os flashbacks trazem diversos momentos pela primeira vez ao live-action, como as próprias Guerras Clônicas e também o duelo entre um Anakin já tomado pelo Lado Negro da Força e uma jovem que só tentava compreender o que estava ocorrendo.
Além de uma atuação impecável do elenco, também tivemos em nossa frente um bom arco que interliga os conflitos que vimos e o resgate de Sabine Wren (e, possivelmente, Ezra Bridger). Geralmente as produções não acertam a mão no fanservice, colocando-os em momentos que não deviam ser sobre eles – porém, aqui ele é inserido de forma natural e revela ainda mais informações sobre a heroína e sobre um “antigo mestre” que nunca conseguiu concluir o treinamento de sua aprendiz.
A guerra de Ahsoka
Um dos principais motores deste episódio e que levará os fãs ao delírio de seu início ao fim é o diálogo entre Ahsoka e Anakin Skywalker. Esta é a primeira vez que ambos conversam desde que ela descobriu que o Jedi tinha se tornado Darth Vader, o que traz no olhar da personagem muitas dúvidas e também um certo alívio de vê-lo “normalmente”.
Entre o papo e o conflito entre os sabres de luz, vemos diversos flashbacks de sua história em conjunto. A primeira missão dos dois, em meio às Guerras Clônicas. O cerco de Mandalore, onde seu ensinamento levou a jovem a liderar esquadrões inteiros. A sombra do Lado Negro da Força surgindo ao redor do próprio mestre…qual ela percebia, mas era tão conectada a ele que não conseguiu fazer algo para impedir. E um treinamento que nunca foi encerrado.
A cereja do bolo foi uma frase, curta, mas que impacta diretamente na trajetória da protagonista. Anakin afirma que ela chegou ao “Mundo entre Mundos” para terminarem o aprendizado dela, para ouvir a resposta de que era um pouco tarde para aquilo. Afinal de contas, ela já tinha deixado a Ordem Jedi, estava ela mesma treinando outra pessoa, já era uma adulta formada e passou por muita coisa até ali. Ignorando tudo isso, Anakin solta o famoso “nunca é tarde para aprender algo” e dá um grande tapa na cara – de si mesmo e da personagem, que engole mais esse ensinamento de seu mestre.
Devo afirmar que a presença de Hayden Christensen abrilhantou ainda mais a obra, principalmente por ser distinta do que vimos em Obi-Wan Kenobi. Eles se enfrentam, mas há ali muito mais do que apenas uma batalha. Outro grande destaque é a participação de Ariana Greenblatt como uma jovem Ahsoka, entregando uma química com Hayden bem semelhante ao que vimos no desenho animado e despertará muitas saudades em quem nunca os viu juntos no live-action.
Outro que brilhou muito foi Evan Whitten, no papel de Jacen Syndulla. Mostrando toda a sabedoria de quem é “tocado pela Força”, ele foi o responsável por uma das cenas mais bonitas de todo o episódio. E olha que é difícil de se dizer isso quando se tivemos um combate de sabres de luz entre Anakin e a protagonista. Ele chama a mãe para próximo dele, perguntando se ela conseguia ouvir – assim como ele – o som dos sabres colidindo em meio às ondas gigantes. O sorriso de Hera ao perceber o que estava ocorrendo e a inocência do jovem entregam tudo, revelando que podem fazer de tudo nesta franquia em sua narrativa, mas que há um elemento dali que nunca morrerá.
Faltou grana da Disney
No entanto, ainda assim é perceptível a falta de investimentos para tornar a experiência completa dentro do episódio. Tivemos cenas espetaculares, como a presença do Mundo entre Mundos e também das Purrgil em meio ao céu e espaço. Porém, no meio de todo o fanservice das Guerras Clônicas, se podia enxergar apenas sombras ao redor do cenário – que estava cheio de fumaça. Podemos discutir que em meio à uma guerra é assim mesmo…mas sabemos a razão de não mostrarem todo o escopo.
“Nossa Diego, mas o foco era em Ahsoka e Anakin” e eu concordaria com vocês. No entanto, é perceptível a manobra de recursos que utilizaram para cobrir que não havia orçamento para trazer um verdadeiro exército de clones, os tanques e máquinas utilizadas pela República e todo o confronto de fundo. Não era o destaque, mas esconderem isso por uma fumaceira me diz mais sobre o investimento do que as palavras que são ditas pelos personagens.
Sim, é um seriado televisivo…mas acreditava que eles realmente tratariam suas produções como um “evento cinematográfico” – como foi prometido, no passado. Estraga a experiência? Óbvio que não, mas ficou feio e temos de conversar sobre. Tirando este detalhe de debate, o capítulo beirou à perfeição. Tanto narrativa, quanto de atuação e cumpriu toda a sua função de fazer uma ponte entre estes episódios iniciais e o seu fim – qual terá apenas mais três capítulos.
Dito isso, a série está me surpreendendo positivamente. Ainda que eu tenha problemas com o protagonismo da personagem central (que é ofuscada por Sabine Wren e, agora, por Anakin), sua jornada está sendo levada com certo respeito ao lore e aos seus próprios passos. Com lutas muito boas, alguns momentos impactantes e até um respiro digno, acredito que seja uma das séries mais sólidas baseadas em Star Wars. Ao menos nesta primeira metade.
Ahsoka está sendo exibida pela Disney+ no formato semanal, todas as terças-feiras a partir das 22h. Veja mais em Críticas de Série!