Sem rodeios ou qualquer requinte, já começo falando que Avatar: O Caminho da Água foi a obra mais deslumbrante que já vi nos cinemas nos poucos mais de 30 anos que tenho de vida. Perdi as contas de quantos filmes já assisti nessas condições, porém em nenhum deles o meu olho brilhou tanto com um visual quanto ocorreu neste.

James Cameron, o mesmo que tinha conquistado um novo patamar tecnológico no primeiro longa, lá em 2009, não apenas se superou como mostra o futuro da indústria cinematográfica através de sua produção. Se a história, desenvolvimento e personagens não forem o suficiente para te atrair às telonas o quanto antes, acredite, isso já basta.

Não que o filme precise ser apenas uma grande sequência de fundo verde onde os atores tentam desempenhar um papel sem ter a menor noção do que está rolando. Ali, você mergulha literalmente em Pandora e tudo parece tão realista que fica muito difícil diferenciar os efeitos visuais do que podemos tocar. E isso, meus caros leitores, é só o começo.

Este filme é belíssimo, do início ao fim

Uma sequência direta de Avatar

A história começa sendo uma continuação direta dos eventos que vimos em Avatar, com Jake Sully assumindo o seu lugar com os na’vi e criando uma família com Neytiri. Mais de dez anos se passaram desde os confrontos entre eles e o “Povo do Céu”, dando o tempo suficiente para terem uma vida plena e feliz nas florestas de Pandora. O problema começa quando os malfeitores retornam e uma ameaça ainda maior paira sobre suas vidas.

Se no primeiro longa o objetivo eram os recursos naturais do planeta, o segundo se torna ainda mais pessoal: vingança. Eles estão atrás de eliminar o líder da insurgência, Jake, para depois tomar o plano inicial de sugar todos os recursos possíveis para si. Porém, não estamos falando mais do mesmo personagem: o destemido fuzileiro e o lendário guerreiro agora é um pai de quatro crianças e tem como principal objetivo proteger sua família.

Essa mudança de status quo que dita todo o ritmo do filme, já que vemos o mesmo protagonista sob uma ótica completamente distinta. Confesso que achei muito bacana esta abordagem, já que ainda temos o herói central, porém ele é outra coisa e pertence a ideias diferentes agora. Melhor do que deixar outro assumir ou repetirem o mesmo plot, isto é bem-vindo para entregar uma nova obra para os fãs.

Jake Sully assume o papel de pai, mudando o status quo

Cheio de filosofia e com um grande foco no mundo submarino, em Avatar: O Caminho da Água vemos muito dos filhos de Jake assumindo um papel de destaque. Inicialmente isso me incomodou um pouco, principalmente porque gostaria de ter visto um foco maior também em Neytiri. Porém, a equipe de roteiristas não faz feio e coloca os jovens na mesma posição que o protagonista dentro do longa anterior: descobrindo um mundo novo e aprendendo com ele.

Ao fugirem da grande ameaça, eles partem para uma tribo de na’vi aquáticos e começam a lidar com o modo de vida deles. Enfrentando certa resistência dos demais moradores, sabendo que seu corpo não foi feito para aquilo e encarando um ecossistema totalmente diferente, esse aprendizado é o que torna a trama ainda mais interessante e bela.

Consigo ver alguns reclamando sobre este tema ser “repetido”, já que há cenas paralelas entre o que Jake encarou na floresta de Pandora com o que seus filhos descobrem em seus oceanos. Ainda assim, as novas interações e personagens trazem um ritmo distinto para a aventura. Em determinado momento, por incrível que pareça, cheguei até a torcer pelo vilão. Ainda que as coisas continuem preto e branco, antagonistas ao extremo, algumas camadas de cinza deixam a fórmula melhor do que tínhamos no passado.

Teremos diversos paralelos com o filme original

Deslizes de James Cameron

Com uma boa história, efeitos visuais deslumbrantes e um ritmo familiar, o que poderia dar de errado com Avatar: O Caminho da Água? Bom, apesar de ter amado a experiência, ela não é passiva de alguns pequenos deslizes que vi pelas mãos de James Cameron. E não, nem estou dizendo nada sobre ele ter mais de 3h de duração e o diretor não saber produzir filme curto de forma alguma.

Uma das principais reclamações que tenho e que você perceberá também é a mudança brusca de direção que o filme carrega. Como assim? O primeiro se tornou um clássico e foi amado pelo público por carregar um início, meio e final. Se nunca mais víssemos qualquer outra produção, aquela continuaria sendo lembrada por gerações – assim como ainda é. Era uma trama fechada e isto é respeitado ao extremo.

Há muito comprometimento com uma futura continuação da obra

O Caminho da Água, no entanto, não segue mais este método. Visando as sequências que já estão sendo planejadas ainda antes do dinheiro cair na conta de todos, James Cameron deixa inúmeras pontas soltas para serem resolvidas no futuro. Não quero nem vou entregar spoilers, mas você sairá do cinema com perguntas e curioso sobre algumas coisas que verá em, sei lá, cinco/seis anos depois? Isso se for paciente e estiver vivo até lá, convenhamos.

Eles abrem bastante o leque da mitologia de Avatar, com um foco maior na representação de Eywa, nas criaturas e sua biologia, assim como no ecossistema que os cerca. Ainda assim, tudo é grande demais para ser respondido e explicado em uma produção só. Acredito que sentaram na sala de roteiro do novo Avatar e pensaram “ou mostramos mais disso ou desenvolvemos nossos personagens” e escolheram a segunda opção. Não foi errado, mas te obrigará a ver mais 3h de um novo filme que sairá no futuro. Só de ter assistido ao primeiro, eu senti que tive uma experiência completa. Neste, não funciona dessa forma.

O foco emocional também é ampliado

Também reparei em um foco emocional muito maior em relação ao seu antecessor. Isso não é uma reclamação, longe de mim dar um pio neste tom. Porém, isto pode incomodar algumas pessoas. Enquanto tínhamos uma piada ou graça aqui e ali no anterior, esse é uma mão apertando o seu coração em vários de seus momentos. Defender a família, abandonar o lar, sentir as perdas, conflitos emocionalmente pesados…consegue me entender? No estágio que estou da vida, foi muito bom ver outro lado dessa moeda. Só temo que nem todos pensarão desta forma, esperando um blockbuster que entregue uns sorrisos e risada pela experiência.

No fim das contas, enquanto os créditos subiam, senti que valeu a pena. É uma produção que tenta replicar os efeitos do seu original, porém com uma abordagem completamente nova sobre Pandora. Isso não foi ruim, já que muita gente assistiu apenas uma vez lá em 2009, talvez em meados de 2010, e guardou na memória o sentimento. Porém, enquanto um pé está em manterem a franquia e seus questionamentos relevantes na cultura nerd, outro pensa no faturamento do futuro e já jogam elementos para vermos nos próximos. Se isto pesará ou não no que assistir, cabe a você decidir. Em minha opinião, cada centavo foi justificado, mesmo que tenha me comprometido ao próximo longa.

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