Sociedade

Bomba nos Bastidores: Steve Bannon Planejava Documentário “Pró-Epstein” No Dia da Prisão do Financiador

Em um daqueles capítulos tão surreais que só a vida real é capaz de produzir, novos e-mails divulgados por parlamentares norte-americanos revelam que Jeffrey Epstein estava prestes a dar início a um documentário feito sob medida para limpar sua reputação e que o projeto tinha ninguém menos que Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump, como parceiro de produção. A cereja do bolo? Toda a negociação estava acontecendo no mesmo dia em que Epstein seria preso em Nova Jersey, acusado de chefiar um esquema de tráfico sexual envolvendo dezenas de menores.

Segundo a troca de mensagens, Bannon buscava montar um “contra-ataque” narrativo ao documentário Jeffrey Epstein: Filthy Rich, da Netflix, que estava prestes a ser lançado e prometia expor detalhes ainda mais sombrios sobre o financista. A ideia incluía filmagens na famosa ilha particular de Epstein, Little St. James, cenário central de inúmeras acusações ao longo dos anos. Bannon, experiente em cinema antes de entrar de vez na política, falava com naturalidade sobre cronogramas e horários de gravação, enquanto Epstein confirmava tudo com a mesma frieza habitual até que, subitamente, enviou a mensagem que mudaria tudo: “All canceled.”

O motivo do cancelamento relâmpago não foi mistério. Minutos depois, ele seria detido no aeroporto de Teterboro, marcando o início do escândalo que abalaria elites políticas, acadêmicas e midiáticas nos Estados Unidos.

Os e-mails também mostram que o projeto tinha potencial para atrair nomes de peso, como o jornalista e escritor Michael Wolff, conhecido por suas obras sobre os bastidores do governo Trump. Wolff aparece na troca de mensagens dando conselhos estratégicos para Epstein, sugerindo como manipular respostas de Trump sobre o relacionamento entre os dois uma dinâmica que ele mais tarde descreveu como uma “estratégia para obter acesso”, embora agora soe mais como uma proximidade desconfortável.

As conversas revelam ainda que, meses antes, a publicista Peggy Siegal figura influente no cinema e na alta sociedade nova-iorquina havia recebido um convite para falar no documentário da Netflix. Reconhecendo o potencial dano à imagem de Epstein, Siegal recorreu ao próprio financista e a Bannon para decidir se deveria aparecer na produção. Nenhum dos dois achou boa ideia. Epstein criticou Joe Berlinger, produtor da série, e Bannon ironizou que a Netflix poderia, quem diria, estar preparando um “hagiografia” do financista. A partir dali, Siegal desistiu de participar.

Mas a parceria entre Bannon e Epstein seguiu firme. Dois meses antes da prisão, os dois já discutiam roteiros, locações e participantes do documentário “redentor”. A intenção era clara: construir uma narrativa própria, favorável, antes que a versão da Netflix dominasse o debate público. Nada disso se concretizou mas o simples fato de ter existido, e ter sido articulado tão perto da queda definitiva de Epstein, adiciona novas camadas de intriga à já complexa teia de relações envolvendo política, mídia e poder.

As mensagens recém-divulgadas ampliam o espectro das conexões pouco transparentes entre Epstein e figuras influentes. Também sugerem que Bannon, que hoje se coloca como forte crítico da falta de transparência nos arquivos sobre Epstein, talvez tivesse uma visão mais estratégica e possivelmente mais próxima do financista do que deixa transparecer publicamente.

O documentário pró-Epstein nunca saiu do papel. Mas o rascunho dele, literal e figurado, agora se torna parte da própria história.

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Hortência é profissional de Letras, educadora, tatuadora e mãe. Apaixonada por arte e cultura, une seus múltiplos interesses que vão da cultura pop à gastronomia para produzir conteúdos variados e criativos.

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