A vida de William Shakespeare (1564-1616) ainda é um mistério, os registros se limitam a alguns documentos como de batismo, casamento e testamento. Desde o século 19, estudiosos questionam a autoria de suas obras. Agora, uma machine learning identificou como outro autor contribuiu para Henrique VI, peça de Shakespeare.
Shakespeare era o principal dramaturgo da companhia de teatro The King’s Men, e após sua morte foi substituído por outro autor famoso da época: John Fletcher.
James Spedding, editor de Sir Francis Bacon, a quem estudiosos atribuem a autoria de alguns textos de Shakespeare, já observava que certas cenas e versos de Henrique VI eram de Fletcher.
Usando o sistema de inteligência artificial, o pesquisador Petr Plecháč da Academia Tcheca de Ciência de Praga foi capaz de determinar, além das divisões das cenas, a autoria dos fragmentos da obra, que é dividida em três partes.
O algoritmo foi treinado com os textos de cada autor em questão, escritos na mesma época que Henrique VI.
Shakespeare: The Tragedy of Coriolanus, The Tragedy of Cymbeline, The Winter’s Tale e The Tempest.
John Fletcher: Valentinian, Monsieur Thomas, The Woman’s Prize e Bonduca.
Depois de analisar cada uma delas e aprender o estilo dos autores, se baseando em 500 frequências rítmicas e 500 palavras mais usadas por cada um, o algoritmo partiu para a análise de Henrique VI.
Combinando o que aprendeu sobre os autores, ele indicou que Fletcher escreveu cenas de quase metade da peça. O algoritmo ainda foi capaz de revelar como a autoria não muda apenas nas novas cenas, mas também no final das cenas anteriores.
Por exemplo, no Ato 3, Cena 2, o algoritmo sugere uma autoria mista após a linha 2081 e descobre que Shakespeare assume completamente a linha 2200, antes do início do Ato 4, Cena 1.
O sistema também foi treinado para identificar o trabalho de Philip Massinger, outro autor atribuído às obras de Shakespeare, mas encontrou poucas evidências de seu envolvimento. “A participação de Philip Massinger é bastante improvável”, conclui.
Plecháč afirma que a combinação de modelos baseados em versificações e modelos baseados em palavras “treinadas no drama inglês do século XVII” tem “alta precisão no reconhecimento da autoria”.
O pesquisador sustenta que Henrique VI é, “com grande confiabilidade”, o resultado da colaboração entre William Shakespeare e John Fletcher.
Abaixo você pode analisar os resultados, onde cada linha vertical corresponde a uma cena. Em roxo, os fragmentos escritos por Shakespeare, em verde, os de Fletcher.
Leia o estudo.